Em Buenos Aires, os ministros das Relações Exteriores de 32 dos 33 países (Brasil se excluiu) membros da CELAC devem ratificar o documento que legitima a Argentina como líder da organização até janeiro de 2023.
O Brasil pediu exclusão da entidade em 2020, por decisão do governo de Jair Bolsonaro, uma vez que a CELAC não condena os líderes de Estado da Venezuela, Nicarágua e Cuba.
A organização multilateral desperta o interesse da China há anos, que busca garantir um amplo acordo com os países membros. Além disso, um eventual tratado poderá enfraquecer a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Vale lembrar que a CELAC, inclusive, foi criada em 2010 sob o argumento de que a OEA é excessivamente submissa aos interesses dos Estados Unidos. Ela mantém mecanismos de diálogo político e cooperação com a União Europeia, China, Rússia e Índia.
A China pretende se aproximar da entidade nos campos comercial, econômico e financeiro. O entendimento inclui linhas de crédito e investimentos em telecomunicações, como a tecnologia 5G.
Segundo informações do Clarín, embora a posse da Argentina tenha sido celebrada no país, setores da oposição condenaram o presidente Alberto Fernández, instando o líder a rechaçar os governos cubano e venezuelano.
Ao assumir a organização, a Argentina pretende desempenhar um papel de articulação. No campo político, quer se tornar uma espécie de elo no diálogo entre os Estados Unidos e a Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Na CELAC, todas as decisões precisam de consenso. Em setembro passado, a Argentina assumiria a presidência do organismo, mas, como o presidente Alberto Fernández questionou a prisão de opositores políticos na Nicarágua, o regime de Daniel Ortega retirou seu apoio.
O compromisso assumido pelo governo argentino é o de não questionar a gestão de Ortega. A Argentina vai abster-se nas votações que procurarem condenar as violações aos direitos humanos na Nicarágua, Venezuela e Cuba.
Em entrevistas para a imprensa, o presidente Alberto Fernández tem alegado o princípio de não-intervenção em terceiros países para não condenar os regimes cubano, nicaraguense e venezuelano.
O Brasil ficou de fora...
Em 15 de janeiro de 2020, alinhado aos interesses dos Estados Unidos, o governo de Jair Bolsonaro decidiu suspender a participação do Brasil na CELAC.
O então chanceler Ernesto Araújo criticou a "falta de resultados na defesa da democracia" por parte da CELAC e concluiu que o foro tornou-se "um palco para regimes não-democráticos".
A Argentina aproveita a ausência do Brasil para liderar a comunidade, mesmo que o Brasil represente metade da região em termos territorial e econômico.
Forum da Organização dos Estados Americanos (OEA), Flórida, EUA, 5 de maio de 2021
© AFP 2023 / EVA MARIE UZCATEGUI