Na terça-feira (25), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aceitou o pedido do Brasil e deu luz verde para que o país inicie formalmente as negociações para ingresso na entidade.
Ministros do atual governo, como Ciro Nogueira, da Casa Civil, o chanceler, Carlos Alberto França, e Paulo Guedes, da Economia, comemoraram e disseram que a a entrada brasileira no bloco era prioridade da política externa do governo Bolsonaro, conforme noticiado.
O chanceler brasileiro Carlos França, o chefe da Casa Civil Ciro Nogueira e o ministro da Economia Paulo Guedes celebram o convite da OCDE para o Brasil ingressar no bloco. Eles falaram com a imprensa após o anúncio, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 25 de janeiro de 2022
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No entanto, Celso Amorim, ex-ministro das Relações Internacionais, não vê com bons olhos a aproximação do Brasil à OCDE, e acredita que seu ingresso deveria ser analisada com calma, segundo a Folha de São Paulo.
"Não há grandes benefícios em ser membro da OCDE. Essa coisa desse 'pseudosselo' de qualidade já era, depois do que aconteceu no Chile e no México [...]. O Chile teve uma crise do neoliberalismo brutal nas ruas. O México, país que mais se abriu, foi um dos que mais sofreram com a crise do [banco] Lehman Brothers [2008]. Ser da OCDE não fez com que o México recebesse mais investimentos que o Brasil", afirmou Amorim citado pela mídia.
Para o ex-ministro, o bloco "é um templo do neoliberalismo, que impõe abertura comercial, liberdade de movimentação de capitais, restrições a propriedade intelectual, genéricos, licença compulsória de medicamentos".
Entretanto, Amorim diz que não vai "demonizar" a organização, mas também não vai "endeusar".
"Esse 'pseudosselo' de qualidade já era [...] tem que ver com calma", complementa.
China
O ex-líder diplomático do governo Lula também deu outras declarações à mídia, e fez comentários sobre a China.
Indagado se, em uma possível nova administração petista, o Brasil se aproximaria de Pequim, Amorim afirma que a gestão "teria uma comunicação pragmática com a China", entretanto, "será maior do que a do governo [Jair] Bolsonaro (PL), do ponto de vista de política, é inevitável. Bolsonaro foi um desastre absoluto".
"Ter uma aproximação com Pequim agora quer dizer que a gente vai optar pela China em vez dos EUA? Não, nós vamos tratar pragmaticamente", declarou.
Ao mesmo tempo, ressaltou a importância do gigante asiático para o comércio brasileiro.
"A China é um país muito importante, nossas exportações para lá são quase o triplo do que as para os EUA, não tem como ignorar isso. Ela é um potencial fornecedor de investimento provavelmente com muito mais flexibilidade do que os EUA, pela natureza do regime. Isso não quer dizer que você vai fazer uma opção pelo sistema chinês, mas acho que também não tem que ser anti-China."
Celso Amorim foi o chanceler da gestão Lula (2003-2010), e depois, ministro da Defesa do governo Dilma (2011-2015). Antes disso, também foi embaixador do Brasil no governo de Itamar Franco (1993-1994). Até hoje, é bastante respeitado no meio diplomático brasileiro.