Em alguns dos pregões, a companhia de engenharia teria participado sozinha ou na companhia de uma empresa de fachada registrada em nome do irmão dos sócios da Engefort. A prática é usada para aparentar que há concorrência em determinada licitação.
As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (11).
Dentro do governo federal, esse tipo de obra é controlado pela autarquia Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), estatal posta por Bolsonaro sob controle do centrão em troca de apoio político ao governo dentro do Congresso Nacional.
Na empresa pública a Engefort selou contratos e obteve verbas por meio de emendas parlamentares — que ampliam a troca de favores entre o presidente e seus aliados no Senado Federal e na Câmara dos Deputados.
Ainda de acordo com o jornal, o governo de Bolsonaro reservou por volta de R$ 620 milhões do Orçamento para efetuar pagamentos à Engefort. O total do valor quitado até então já soma R$ 84,6 milhões.
A empresa, cuja sede fica em Imperatriz, no interior do Maranhão, silencia acerca dos contratos e da empresa de fachada sob registro do irmão dos sócios.
A Engefort Construtora e Empreendimentos liderou os repasses da Codevasf no ano passado. Mesmo sem tradição nos pregões, ela foi a segunda construtora que mais teve valores empenhados pelo governo em 2021.
A Codevasf, autarquia federal que gere os contratos de construção civil, não se manifestou sobre a Engefort quando procurada pelo jornal diário.
Já a empresa de fachada é Del Construtora Ltda., registrada em nome de um dos irmãos dos sócios da Engefort.
O jornal apontou ainda um dos casos mais chamativos: o do pregão eletrônico no qual a Engefort ganhou um contrato de R$ 62,5 milhões para pavimentação no Amapá.
Apenas a Engefort e a Del participaram. Segundo a ata, a Del enviou um link para acesso à documentação da companhia, mas a pasta estava vazia. Caso a tivesse apresentado, seria possível verificar que o sócio-administrador da concorrente é Carlos Del Castilho Júnior, irmão dos sócios da Engefort.
A falta de documentação da Del levou à sua desclassificação, o que permitiu que a Engefort obtivesse o contrato em valor praticamente cheio.
Na documentação apresentada pela Engefort para a disputa, constam como sócios da empresa Carlos Eduardo Del Castilho e Carla Cristiane Del Castilho.
Segundo o jornal, outra licitação em que as duas empresas participaram na qual a Engefort foi novamente vencedora dizia respeito a supostas pavimentações em vias rurais no Maranhão, no valor de R$ 55 milhões.
Não há registro de que a Del tenha vencido qualquer concorrência federal ou estadual no Maranhão. O jornal procurou a empresa em sua sede registrada nos documentos, mas constatou que o endereço não existe.
A Engefort fez obras com recursos de contrato celebrado com a Codevasf na cidade em que mantém sua matriz, Imperatriz, no interior do Maranhão.
Com menos de dois anos de existência, a obra (um anel viário para servir de ligação entre a BR-010 e bairros da cidade) foi entregue em dezembro de 2020, custou R$ 3,8 milhões, já passou por reformas e tem buracos grandes que põem condutores e transeuntes em risco.
Ela foi inaugurada com o presidente da Codevasf, Marcelo Moreira, e com o deputado federal Juscelino Filho (União Brasil-MA), que destinou o valor de uma emenda parlamentar para a sua construção.