A presença em expansão da Rússia no continente africano pode representar uma ameaça "preocupante" para o flanco sul da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), afirmaram a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, e o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, em coletiva de imprensa conjunta em Madri na quarta-feira (26).
Nações africanas como a Líbia e o Mali veem um aumento nas atividades tanto do governo russo quanto das empresas de segurança privada do país, como o Grupo Wagner, afirmaram os dois chefes de Defesa, acrescentando que tais desenvolvimentos são "muito claros" e que Moscou poderia usá-los como alavanca contra a Europa ou a OTAN.
Robles e Wallace ligaram as atividades da Rússia à crescente ameaça do crime organizado e do terrorismo na região, dizendo que, se combinados com a crescente instabilidade e o risco de fome na África, tais desenvolvimentos podem representar um sério risco para a Europa.
"Se [a Rússia] pode usar os fluxos migratórios como arma em um extremo da Europa, certamente pode usá-los no outro", disse Wallace. O secretário de Defesa do Reino Unido estava se referindo ao que a Europa chama de crise na fronteira polonesa com Belarus, onde milhares de migrantes que chegaram de outros países, principalmente do Oriente Médio, estão tentando entrar na União Europeia (UE).
As nações ocidentais acusaram anteriormente o líder belarusso, Alexander Lukashenko, de fomentar a crise ao encorajar os migrantes a seguir este caminho para a Europa. O Kremlin também foi acusado de apoiar Minsk nessa empreitada. Tanto a Rússia quanto Belarus negaram estar por trás do problema.
Agora, os chefes de Defesa da Espanha e do Reino Unido temem que Moscou também possa representar uma ameaça à segurança do bloco militar no sul. "A OTAN não pode ficar indiferente nesta situação", disse Robles, enquanto Wallace sugeriu que o "conceito estratégico da aliança tem que envolver toda a OTAN, todo o território que ela cobre por meio de sua parceria".
O secretário de Defesa britânico também assumiu que o presidente russo, Vladimir Putin, poderia "usar sua Marinha como forma de intimidar seus inimigos e isso significa que ele estará em outras partes, incluindo o flanco sul". Ele também disse que a aliança deveria tratar a Marinha russa como "uma ameaça maior" do que as forças terrestres de Moscou, que, segundo Wallace, "já estão exaustas" na Ucrânia.
No início deste mês, os Estados Bálticos exigiram um aumento maciço da OTAN no flanco leste. A Finlândia e a Suécia também manifestaram oficialmente sua vontade de aderir à aliança militar.
Estratégia da Rússia em África
Nesta quarta-feira (25), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que Moscou está pedindo a seus parceiros africanos que exijam que o Ocidente levante as sanções antirrussas. O ministro ressaltou que a Rússia vai continuar cumprindo fielmente suas obrigações contratuais de fornecimento de alimentos, fertilizantes e energia aos países do continente.
"Pedimos aos nossos amigos, à União Africana, que exija, exija persistentemente, do Ocidente o levantamento de sanções unilaterais ilegais que prejudicam a infraestrutura de transporte e logística necessária para o comércio mundial, o que cria riscos principalmente para segmentos vulneráveis da população", disse Lavrov durante uma recepção por ocasião do Dia de África.
"A voz da África deve ser ouvida. Uma posição com mais princípios sobre esta questão deve ser tomada pelo secretário-geral da ONU", observou o ministro.
A Rússia e a África precisam criar mecanismos financeiros conjuntos, protegidos da pressão ocidental, para expandir ainda mais o diálogo político, construir interações econômicas, humanitárias e outras, disse Lavrov.
"Observo com satisfação que os países africanos assumem uma posição equilibrada e objetiva em relação ao que está acontecendo na Ucrânia e ao seu redor. Sabemos que a linha de comportamento pouco cerimonioso dos países ocidentais às vezes provoca uma rejeição aberta no continente africano", disse o ministro.
A voz do Mali
Na última segunda-feira (23), o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, contou à Sputnik que o Exército do Mali está tomando a ofensiva contra os terroristas em seu território.
"Mali mantém a cooperação militar e técnica com a Rússia a nível estatal, e esta parceria não começou há um ano. Ela foi retomada em 2019 no âmbito do acordo bilateral de cooperação militar, sob o qual Mali compra à Rússia equipamentos militares, aeronaves, armas e outros equipamentos. Além disso, também é fornecido apoio técnico e especialistas, que agora estão presentes no Mali", disse o chanceler do país africano na entrevista.
Em contraste com as afirmações de Espanha e Reino Unido, a autoridade afirmou que a cooperação com a Rússia já está produzindo resultados impressionantes.
"Hoje, graças à ajuda da Rússia, o Mali é capaz de realizar reconhecimento de modo autônomo, bem como realizar ataques aéreos. As operações militares que agora estão em andamento são totalmente coordenadas pelas forças de defesa e segurança malianas", sublinhou ele.