O confronto entre a Europa e a Rússia sobre a Ucrânia provavelmente vai se transformar em um "jogo de espera", disse o presidente dos EUA, Joe Biden.
Depois de fazer seu discurso sobre vacinas contra a COVID-19 para crianças menores de cinco anos, na Casa Branca na terça-feira (21), Biden foi questionado por um jornalista se ele estava "com medo" de que houvesse uma fratura surgindo entre os aliados ocidentais da Ucrânia. O repórter citou o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que recentemente falou da "fadiga da Ucrânia" e afirmou que alguns líderes "estão pedindo negociações com Putin".
O presidente dos EUA respondeu negativamente, acrescentando, no entanto, que "em algum momento, isso vai ser um jogo de espera: o que os russos podem sustentar e o que a Europa vai estar preparada para sustentar".
Ele também disse que essa era uma das coisas sobre as quais os líderes ocidentais "iriam falar [...] na Espanha" – uma aparente referência à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que começa na próxima terça-feira (28) em Madri.
Falando a jornalistas após seu retorno de uma visita surpresa a Kiev na sexta-feira passada (17), Boris Johnson alertou que "a fadiga da Ucrânia está se instalando". O primeiro-ministro sublinhou a importância de mostrar "que estamos com eles a longo prazo e estamos a dar-lhes a resiliência estratégica de que precisam".
Johnson reconheceu que as forças russas estavam "avançando centímetro por centímetro", acrescentando que era ainda mais vital para o Ocidente "mostrar o que sabemos ser verdade, que é que a Ucrânia pode vencer e vencerá".
Desde o início da operação militar especial da Rússia na Ucrânia, no final de fevereiro, EUA, Canadá, Reino Unido, União Europeia (UE), Japão, Austrália e outras nações aliadas impuseram várias rodadas de sanções econômicas abrangentes contra Moscou. Entre as medidas punitivas decretadas pelos EUA, Reino Unido e UE estão os embargos ou grandes restrições às exportações russas de carvão, petróleo e gás. No entanto, isso, juntamente com os preços crescentes no mercado, levou a um aumento dramático nos preços da energia para os consumidores finais, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Além disso, como a Ucrânia e a Rússia são dois dos principais produtores de trigo e cevada, os preços dos alimentos também dispararam. As exportações de metais e matérias-primas dos dois países também foram severamente afetadas, devido a sanções e interrupções na cadeia de suprimentos.
Todos esses fatores combinados estimularam a inflação, que atingiu níveis recordes em vários países ocidentais.
Neste contexto, o centro de estudos Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês) alertou, na semana passada, que um número crescente de europeus pode agora ser a favor de que a Ucrânia faça um acordo de paz com a Rússia, mesmo que isso signifique que Kiev terá de fazer concessões territoriais. Depois de analisar os resultados de uma pesquisa de opinião realizada em meados de maio em dez países europeus, o ECFR concluiu que os cidadãos da maioria desses países estavam ficando mais preocupados com o custo de vida cada vez maior.
A pesquisa indicou que 35% dos entrevistados do "campo da paz" queriam que o conflito armado terminasse o mais rápido possível, enquanto 22% do "campo da justiça" priorizavam a derrota da Rússia sobre todas as outras considerações. Outros 20% disseram que, embora quisessem punir Moscou por suas ações, também estavam preocupados com os riscos e custos envolvidos. Os 23% restantes aparentemente não se encaixavam em nenhum dos três campos e foram classificados como "o restante".
Em seu relatório, o ECFR previu que o número de pessoas no campo da paz provavelmente aumentaria com o tempo, aumentando as divisões nos países europeus. O think tank instou os governos a se concentrarem nos "eleitores indecisos" com narrativas que abordassem suas preocupações para mitigar essa tendência.