Nos territórios de Donbass, agora sob o controle da Rússia e das suas forças aliadas, está se reestabelecendo a vida pacífica, tendo a população local começado a voltar à região. Logo após a região de Kherson, centros para obter a cidadania russa foram abertos em Zaporozhie. Anteriormente, o presidente russo Vladimir Putin simplificou o processo de obtenção da cidadania russa em Donetsk e Lugansk.
Ao longo dos oito anos da crise na Ucrânia, no total mais de 700.000 passaportes russos foram obtidos por habitantes das repúblicas populares. Hoje em dia, o processo está sendo conduzido juntamente com a operação militar especial.
Filas para obter a cidadania russa
Em Melitopol, cidade que a delegação da Sputnik visitou durante uma viagem de trabalho organizada pelo Ministério da Defesa russo, os respectivos centros emitem em média por volta de 20-30 passaportes da Federação da Rússia por dia. As ruas e avenidas de Melitopol parecem animadas: a cidade não sofreu dos combates de forma significativa por as tropas ucranianas a terem deixado sem conseguir estabelecer uma densa linha de defesa. Na cidade, os estabelecimentos de ensino e de saúde continuam funcionando de modo normal. Foi aprovado um orçamento especial para a reparação de escolas, nas quais as aulas continuam sendo organizadas, inclusive em língua ucraniana. Além disso, estão se formando novos partidos políticos.
Entre aqueles que solicitam a cidadania russa, além das gerações de meia-idade e idosa, também há jovens. Segundo expressam os habitantes da cidade que chegam aos centros, conseguir o passaporte russo é um acontecimento esperado há muito.
Nadezhda, oriunda de Anapa, uma cidade portuária no sul da Rússia, conversou com a Sputnik.
"Nasci na Rússia, e é por isso que tudo o que está relacionado com ela representa um valor especial para mim. Agora vamos ter ensino gratuito, serviços médicos gratuitos – tudo o que já tivemos um dia, mas de que fomos privados", disse a moradora de Donbass ao solicitar a cidadania russa.
Outra moradora de Melitopol, Nina Sergeevna, contou que ao longo dos quatro últimos meses teve que viver em condições de bombardeios constantes.
"Agora, ao final a paz foi reestabelecida. Está tudo muito bem", afirmou Nina Sergeevna, que tem 80 anos. Ela nasceu em Belarus, sendo sua mãe belarussa e o pai russo, mas cresceu e morou durante toda a sua vida em Melitopol. "Nunca quis deixar o local. Aqui tenho a minha casa", diz.
"Não seremos um segundo Kosovo, o futuro da região vai ser determinado por referendo popular."
Em Melitopol, o grupo de representantes da mídia internacional em que participou a correspondente da Sputnik, Ceyda Karan, encontrou-se com o chefe da administração cívico-militar da região de Zaporozhie, Yevgeny Balitsky. Segundo ele, o referendo [de adesão à Rússia] está previsto para o início do outono no Hemisfério Norte.
"Não seremos um segundo Kosovo, onde a população não conseguiu expressar a sua vontade. Vamos organizar um referendo justo e transparente, fazendo o que o nosso povo quiser", salientou.
Conforme Balitsky, a região de Zaporozhie não visa criar uma república independente nem se juntar à Crimeia. "No referendo os habitantes da região vão ter que responder a uma pergunta simples: se eles querem se juntar à Rússia ou não", afirmou.
Transeuntes na praça Pobeda em Melitopol, cidade controlada pelas tropas russas, 19 de julho de 2022
© Sputnik / Dmitry Makeev
/ "O nacionalismo radical transformou a Ucrânia em 'um homem doente'."
De acordo com Balitsky, o nacionalismo radical afetou de forma perniciosa a Ucrânia, envenenando as estruturas estatais. O chefe da administração cívica-militar classificou as ações de Kiev, que cortou a eletricidade na região, como genocídio.
"Apesar da pressão por parte das autoridades ucranianas, não vamos baixar as cabeças perante os banderistas [seguidores do ultranacionalista ucraniano Stepan Bandera]. Bandera nunca se tornará o nosso herói. Para nós, um herói é quem defende a sua pátria. Vamos seguir sendo ucranianos, mas ao mesmo tempo queremos fazer parte da Rússia", disse.
As palavras de Balitsky refletem o desejo da população da região de se tornar parte da federação multinacional da Rússia, em resposta à opressão por parte da Ucrânia.
Para concluir, a correspondente da Sputnik Ceyda Karan cita as palavras de seu colega, um jornalista que trabalha em uma mídia europeia e que também visitou Donbass. Resumindo a situação na região, ele disse: "No fim de contas, a Rússia está atuando em territórios onde vive uma população russa".