A Casa Branca está se esforçando para tentar redefinir o que constitui uma recessão antes da publicação dos dados do produto interno bruto (PIB) que devem ficar no vermelho novamente, após um declínio no primeiro trimestre.
A economia dos EUA contraiu 1,4% no primeiro trimestre deste ano e segundo projeções do Federal Reserve (Fed), que costuma se aproximar dos números reais, deve perder mais 1,6% neste segundo trimestre.
O governo dos EUA argumentou em seu blog oficial que mesmo um crescimento negativo do PIB no segundo trimestre consecutivo é "improvável" significar que a economia dos EUA está em recessão. Essa noção contradiz os benchmarks frequentemente usados por economistas e por alguns dos governos anteriores dos EUA, que declaram recessões após dois trimestres ruins consecutivos.
O National Bureau of Economic Research – uma organização norte-americana sem fins lucrativos voltada para pesquisas em economia – oferece uma definição mais flexível, argumentando que a recessão pode ser considerada um "declínio significativo da atividade econômica que se espalha pela economia" que dura "alguns meses". O mesmo departamento também aponta a renda corrigida pela inflação, os números de emprego, os níveis de consumo público e o ritmo da produção industrial como parâmetros a serem considerados antes de diagnosticar uma recessão.
O governo Biden parece estar interessado em usar os parâmetros mencionados pelo National Bureau of Economic Research para provar que os EUA não estão em recessão – um termo que pode minar ainda mais as posições dos Democratas antes das eleições de 2022. A Casa Branca argumentou no blog que o consumo, a produção e o emprego são tão altos quanto se pode sonhar e, portanto, a economia supostamente não está com problemas, apesar da inflação superior a 9%.
A chefe do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, contou com uma explicação semelhante ao insistir que o que a economia dos EUA estava testemunhando não era uma recessão, mas uma "desaceleração" após um crescimento rápido incomum pós-pandemia de COVID-19 em 2021.
"Temos um mercado de trabalho muito forte. Quando você está criando quase 400.000 empregos por mês, isso não é uma recessão", insistiu Yellen em sua entrevista à NBC.
No entanto, nem todos se convenceram das explicações da Casa Branca sobre a recessão econômica no país.
Os Republicanos, que desejam recuperar o controle sobre o Congresso nas próximas eleições, correram para acusar o presidente Biden, os Democratas e sua decisão de aprovar um pacote extra de ajuda no combate à pandemia de COVID-19 e outros gastos, em 2021, pelos atuais problemas econômicos nos EUA.
"Redefinir a palavra não vai corrigir o fato de que os Democratas desperdiçaram US$ 1,9 trilhão [cerca de R$ 10,2 trilhões], resultando em custos vertiginosos para os americanos. Isso ressalta ainda mais como Biden e os Democratas estão fora de contato com a dor que as famílias estão sentindo", disse o porta-voz do Comitê Nacional do Partido Republicano, Will O'Grady, em entrevista à Fox News.
A Casa Branca ainda não perdeu a esperança de controlar a inflação, mas até agora sua estratégia tem se baseado apenas na elevação dos juros. As taxas já foram aumentadas para quase 2% pelo Fed e estão programadas para serem aumentadas em mais 0,75% nos próximos dias. O órgão regulador espera que a medida acabe por desacelerar a economia "superaquecida", como costuma acontecer com juros altos, fazendo com que a inflação também caia. No entanto, até agora, o método não surtiu muito efeito na economia norte-americana.