"Se trata de um ponto de inflexão na história das relações da China com Estados Unidos, uma vez que, embora as investidas estadunidenses [remontem] desde 2018, esse episódio se trata de uma escalada, um novo nível de violação estadunidense, que, ao infringir de forma tão grave a soberania nacional e a integridade territorial chinesas, se configura como um ato de guerra", aponta Melissa Cambuhy, pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos Brasil–China (NEBC) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto de Estudos da Ásia da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), à Sputnik Brasil.
"Além das tensões comerciais misturadas com defesa nacional promovidas por [Donald] Trump [ex-presidente dos EUA], o governo [Joe] Biden dá sinais de que está disposto a realmente se imiscuir nos assuntos internos da China", destaca o professor à Sputnik Brasil.
"Nenhuma autoridade constituída de Taiwan declarou a independência de Taiwan até hoje. Essa discussão sobre ser um Estado ou não, a rigor, não se coloca, é descabida. Qualquer país que reconheça isso estará fazendo uma intervenção externa. É uma situação muito parecida com a de Juan Guaidó, que não governava nem 1 m² da Venezuela e foi reconhecido como presidente. Essa questão de Taiwan ser Estado ou não é claramente intervencionista", apontou.
China vai reagir às provocações do seu jeito
"A gente vive um momento em que tudo é possível, menos um conflito armado direto. [...] Um conflito bélico agora iria prejudicar a China em outras prioridades. É claro que Taiwan é [um assunto] prioritário, mas a China pretende fazer tudo no tempo dela, não de outras potências", aponta Carvalho.
"As medidas tomadas até agora encontraram uma mediação possível e perspicaz entre dar uma resposta à altura, tanto economicamente quanto militarmente, e não entrar em confronto aberto, para infelicidade dos EUA", indicou.
EUA adotam estratégia duradoura de desestabilização da China
"A aproximação seria dentro de bases muito realistas. Os EUA não estão conseguindo alcançar os objetivos no conflito com a Rússia na Ucrânia e a cartada da Pelosi só beneficia a ela e ao [presidente russo, Vladimir] Putin, que se aproxima da China. Um conflito maior com a China prejudicaria o governo Biden, já bastante enfraquecido", destaca.
"Washington tenta levar a China ao limite buscando que o país não consiga resistir senão por uma saída bélica, com uso da força e do confronto, que é o que interessa aos EUA — seja econômica ou politicamente, afinal estamos falando de uma economia estagnada cuja estrutura produtiva se movimenta através de guerras e destruição mundo afora. Entretanto isso é o que definitivamente não interessa à China. À China interessam a estabilidade, a paz, o respeito ao direito internacional e o real multilateralismo, para que siga em sua trajetória ascendente de desenvolvimento econômico e tecnológico", destaca Cambuhy.