Pelo menos 13 pessoas morreram em decorrência de um ataque aéreo da Força Aérea da Etiópia contra um jardim de infância em Mekele, capital do Tigré, nesta sexta-feira (26). Há dois anos a região é palco de confrontos entre forças separatistas da Frente Popular de Libertação do Tigré (TPLF, na sigla em inglês) e tropas do exército etíope.
Imagens divulgadas por emissoras de televisão do Tigré e postagens de moradores no Twitter mostram corpos de crianças e adultos feridos ou desmembrados após o ataque à escola infantil Red Kids Paradise.
As autoridades ainda não divulgaram o número exato de mortos e feridos, mas, segundo noticiou o Washington Post, funcionários de um hospital local confirmaram pelo menos 13 mortos.
O governo da Etiópia não se posicionou sobre o ataque, mas divulgou um comunicado em sua conta oficial no Twitter, no qual afirma que os separatistas da TPLF "não conseguem viver sem guerra e estão fechando todas as portas abertas em direção à paz".
O documento afirma que o governo etíope "aprovou uma resolução para resolver o problema no norte do país pacificamente". "Contudo a TPLF, que não consegue viver sem guerra, está sacrificando a juventude do Tigré e perpetrando ataques em múltiplas áreas. Nossas forças de defesa estão cuidadosamente defendendo a opção de paz do governo", diz o comunicado.
A crise na região do Tigré é considerada a maior tragédia contemporânea esquecida pela comunidade internacional. Além da guerra civil, o território é afetado por uma grave seca e por surtos de doenças, como malária e cólera, e sofre com a escassez de alimentos, medicamentos e energia. Neste mês, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, alertou que a crise humanitária no Tigré foi ofuscada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que, segundo ele, é menos urgente que a situação etíope. Adhanom questionou a apatia de chefes de Estado em torno do assunto.
Na última quinta-feira (25), a Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou que um roubo de meio milhão de toneladas de combustível do Programa Mundial de Alimentos (PMA) comprometeu a distribuição de alimentos na região, que vem sendo abastecida com ajuda humanitária pelo programa desde julho de 2021.
"Agora será impossível para o PMA distribuir alimentos, fertilizantes, medicamentos e outros suprimentos de emergência no Tigré, onde cerca de 5,2 milhões de pessoas enfrentam a fome severa", disse a agência da ONU.
Segundo as Nações Unidas, homens armados entraram na instalação do programa em Mekele e roubaram 12 tanques cheios de combustível que haviam sido comprados recentemente e chegado há poucos dias. Segundo o diretor-executivo do PMA, David Beasley, o roubo foi orquestrado por autoridades do Tigré. Ele alertou que milhões de pessoas passarão fome se o combustível não for devolvido.
Horas atrás, autoridades do Tigré roubaram 570 mil litros de combustível destinados a operações do PMA no Tigré! Milhões vão passar fome se não tivermos combustível para entregar comida. Isso é um ultraje e uma desgraça. Demandamos a devolução imediata desse combustível.