Em 22 de julho, a Rússia, a Turquia e a Organização das Nações Unidas (ONU) assinaram um acordo que visa desbloquear a exportação de grãos e fertilizantes da Ucrânia em meio às hostilidades no país. Os representantes do governo ucraniano firmaram um documento similar com Ancara e representantes da ONU.
"A posição da Turquia em relação ao conflito na Ucrânia coloca este país em um quadro de negociações internacionais de extrema importância", afirmou o especialista.
Desde o momento que Ancara se ofereceu como mediador entre Moscou e Kiev, "a Turquia se posiciona como um grande eixo de ponte entre a Ásia e a Europa", expressou.
Em meio à transição estrutural no sistema internacional contemporâneo, "este país sai com grandes ganhos, mantendo laços com a Europa por estar dentro da OTAN", sustentou o analista.
Contudo, o entrevistado não crê que o país seja um parceiro perturbador para o Ocidente, já que a Europa precisa da Turquia, apesar de ter pouca simpatia em relação a Erdogan.
O que está em jogo na Ucrânia?
Neste conflito se jogam muitas coisas, "não só as questões militar e econômica, mas também as pertenças e identidades", segundo opina o especialista.
"Não devemos nos esquecer de que na Ucrânia existe uma grande parte da Rússia, já que há falantes de russo em uma grande região, por isso a potência eurasiática está desempenhando muito o papel de defensor da sua população", defendeu.
Nesse contexto, como disse o especialista, "a postura mais importante é a negociação diplomática para evitar escaladas militares de grande dimensão no futuro".
Depois do início em 24 de fevereiro da operação militar russa na Ucrânia, em meio ao fortalecimento da pressão sancionatória por parte do Ocidente contra a Rússia, a Turquia tem feito várias tentativas de se apresentar como mediador no conflito, tendo proposto o seu país como uma plataforma para as negociações e contribuído muito para o fechamento do acordo de grãos, que prevê a exportação da produção agrícola da Ucrânia.
Nesse contexto, tem sido registrado certa aproximação entre Moscou e Ancara, o que começou a causar o descontentamento do Ocidente. Apesar das declarações e questionamentos irritantes, as autoridades ocidentais, em particular da União Europeia, reconhecem que não há muito a fazer em relação ao relacionamento entre Ancara e Moscou, principalmente devido ao fato de "todos precisarem da Turquia", além de não poderem obrigar Erdogan a seguir suas regras. Tal opinião foi comunicada ao jornal Financial Times por um funcionário ligado ao bloco.