Panorama internacional

Em direção à Ásia: após Cingapura, acordo com Indonésia tiraria Mercosul da berlinda, diz analista

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista destaca que, além de ser mais um passo em direção ao mercado asiático, acordo com a Indonésia pode retirar o Mercosul da berlinda dos grandes acordos comerciais.
Sputnik
O Mercosul se prepara para dar mais um passo em direção à inserção no mercado asiático. Após fechar um acordo comercial com Cingapura, no primeiro semestre deste ano, que eliminou cerca de 90% das tarifas de importação do comércio bilateral, o bloco agora negocia um acordo com a Indonésia.
A primeira rodada de negociação está prevista para ocorrer ainda neste mês ou em outubro e tem um valor significativo para o bloco e seus membros. A Indonésia figura entre os países que mais crescem no mundo. O PIB do país cresceu 5,4% neste ano, e a expectativa do Banco Mundial é que o país feche o ano de 2022 com um crescimento econômico de 5,1%.
Para o Brasil, esse crescimento pode aquecer ainda mais as exportações brasileiras para o país, que somente no primeiro semestre deste ano cresceram 24,4%, chegando a US$ 1,6 bilhão (cerca de R$ 8 bilhões).
Para saber como um possível acordo comercial entre Mercosul e Indonésia pode beneficiar o Brasil e os demais países do bloco, a Sputnik Brasil conversou com Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com doutorado em integração da América Latina e vice-coordenadora do Observatório de Regionalismo.
Bressan destaca que o acordo é de grande importância para o bloco. Primeiro, pela força da economia da Indonésia, que "superou a expectativa do mercado, que previa uma alta de 5,1% no PIB" no segundo trimestre.
Segundo, porque ajuda a retirar o Mercosul da berlinda dos acordos comerciais firmados por outros blocos.

"A grande verdade é que o Mercosul se mantém muito à berlinda dos mega-acordos de blocos econômicos internacionais. Enquanto os países asiáticos fazem muitos acordos, o Mercosul está na berlinda. A América Latina, no geral, tem poucos acordos se compararmos com a Ásia e países europeus", explica Bressan.

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Regiane Bressan destaca que os produtos mais beneficiados pelo eventual acordo com a Indonésia seriam as commodities, mas também pode haver avanço no "acesso a serviços de compras governamentais".

"Dentre as commodities, as que mais se destacam são farelo de soja, algodão e açúcar. A ideia, agora, é que o Brasil e o Mercosul tenham mais competitividade na Indonésia, sobretudo em relação às commodities. As exportações brasileiras já atingiram um patamar importante no primeiro semestre deste ano, e isso tem crescido em relação aos anos anteriores", destaca Bressan.

A especialista ressalta que o acordo significa mais uma etapa do avanço do Brasil e do Mercosul em direção ao mercado asiático, sendo a porta de entrada o acordo firmado com Cingapura. Porém ela argumenta que é preciso ter cautela ao se exaltar tais acordos, uma vez que eles somente entram em vigor quando chancelados por parlamentares de todos os países envolvidos. No caso de Cingapura, por exemplo, isso ainda não ocorreu.
"O acordo com Cingapura vai representar a porta de entrada, o primeiro grande acordo com um país asiático. No entanto, isso ainda não foi confirmado", pontua Bressan.
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Por fim, a especialista aponta que a busca por países asiáticos dá ao Mercosul uma alternativa, diante do congelamento do acordo do bloco com a União Europeia (UE).

"É possível que o Mercosul assine cada vez mais acordos com países asiáticos, enquanto o acordo com a União Europeia está paralisado diante dos problemas ambientais, das divergências políticas entre o governo brasileiro e os países europeus. Agora existe essa possibilidade de estarmos mais perto da Ásia", explica Bressan.

A especialista finaliza citando também o exemplo da negociação de um acordo de livre comércio com o Canadá, que ainda não avançou.
"Quando o acordo com a União Europeia não funciona, ou mesmo com o Canadá (como se pretende que o Mercosul também negocie um acordo de livre comércio, e as negociações já começaram em 2018), enquanto essas negociações não acontecem, é claro que a Ásia vem tomando cada vez mais espaço nessa agenda do comércio exterior do Mercosul."
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