"Com a queda na cobertura vacinal, houve o desmonte do SUS [Sistema Único de Saúde], principalmente da atenção primária. A gente teve, em 2016, o início do governo [de Michel] Temer. O então ministro, Ricardo Barros, declarou que o SUS era grande demais, que ele não cabia no Orçamento. A gente teve uma queda no orçamento do SUS, principalmente da atenção primária. Isso acabou levando à redução de equipes de estratégia de saúde da família, a uma redução de agentes comunitários de saúde. Houve queda do investimento no próprio Programa Nacional de Imunizações (PNI). A coordenadora do PNI declarou na CPI da COVID-19 que não tinha recursos para fazer campanhas como a gente tinha, de uma maneira muito intensiva, nos anos 1980, 1990, 2000", relembra, em entrevista à Sputnik Brasil.
"Desde 2016, quando começaram a acabar com os recursos públicos por causa da Emenda Constitucional 95, que criou o tal do teto de gastos públicos, nós paramos de comunicar [questões de saúde pública]. Quem tem tempo de vida viu o que era uma campanha de vacinação no Brasil antes de 2016: era uso maciço de todas as mídias. De 2016 para cá, o Ministério da Saúde cancelou todas as mídias para fazer convocação para vacinação, para fazer prevalecer comportamentos seguros na realização de sexo. Quer dizer, o governo parou de se comunicar com a sociedade. Qual é a consequência dessa parada? A queda da vacinação, o aumento de casos de AIDS, o aumento de casos de sífilis e de doenças sexualmente transmissíveis", aponta Vecina à Sputnik Brasil.
"Podemos discutir se o modelo de comunicação é o mais adequado. Mas é o que temos. Então sem campanha, sem vacinação, simples assim. O que falta no Brasil é campanha, comunicação do Estado com a sociedade", aponta.
Há negacionistas do movimento antivacina no Brasil?
"Houve uma decisão do Bolsonaro, principalmente, e de figuras ali do entorno do bolsonarismo (com destaque para o Olavo de Carvalho e seus seguidores, que importaram algumas teses, muito em uma procura de alinhamento com [Donald] Trump [ex-presidente dos EUA], para desqualificar as vacinas da COVID, desqualificando as vacinas da COVID para justificar o atraso do governo em relação à compra das vacinas). Então Bolsonaro, particularmente, com o seu núcleo, lançou uma semente de desconfiança contra as vacinas da COVID que me parece ter [tido] impacto nas vacinas em geral. Mas isso foi construído artificialmente, não foi um movimento que veio da sociedade civil. Isso veio a partir do próprio Bolsonaro", avalia o infectologista.
"Lá o negacionismo, além de tudo, tem a participação criminosa de pessoas como o ex-presidente Donald Trump. Então lá é uma coisa e aqui é outra. Temos conservadores lá e aqui. Só que os daqui são menos burros, talvez, do que os de lá", compara.
"Não tem outro jeito, é só vacinar. É se comunicar e vacinar. Não tem outra saída", conclui o professor.