"As campanhas tomaram uma decisão de logo no primeiro dia do segundo turno entrar no debate religioso. Isso está claro e explícito. [...] Mais do que um fenômeno, é uma decisão das campanhas. Tem algo de orgânico, mas tem algo de como se deseja disputar esse voto. E como se deseja disputar esse voto é em termos de valores", avalia o professor da UFRJ em entrevista à Sputnik Brasil.
"O peso do voto evangélico é grande, é uma parcela da população que bate os 30%. E também se conecta com questões fundamentais, que são de valores. A política no Brasil nos últimos segundos turnos tem se dado menos em propostas e mais em disputa moral."
"Eu diria que o voto evangélico é o voto a ser disputado, em termos de valores, em capacidade de comunicação. Essa parcela da população está tentando entender seus dilemas, econômicos e em termos de valores", apontou.
"Muita gente fala de guerra híbrida, muita gente fala que a guerra é digital, pelas redes, [...] mas, ao mesmo tempo, há uma limitação, também no espaço físico, da liberdade dos eleitores. Isso a gente precisa falar. E fica uma luta de Davi e Golias... Já estamos falando do imaginário religioso", destacou a pesquisadora. "É pela rede, mas é também por uma rede física", completou.
"Com a política suspensa, a correlação de forças é de Davi e Golias de novo. Não dá para exigir coragem [do eleitor pressionado] se ele não está organizado, se nenhuma ferramenta coletiva ele tem. A ferramenta coletiva que ele tem é a igreja, que vai reforçar os [velhos] fantasmas [do comunismo, da expropriação de terras], o medo, [vai] disciplinar pelo medo. [...] As pessoas, se mencionarem o nome de algum candidato, elas serão ameaçadas", argumenta Gurgel.