Após ter sua passagem barrada no início de setembro em Gibraltar por autoridades britânicas, o porta-aviões São Paulo também sofreu bloqueio de seu próprio comprador, a Turquia, que alegou questões ambientais para barrar a entrada da embarcação.
Em seguida, o porta-aviões retornou ao Brasil, conforme noticiado, mas neste momento em que chegou a águas brasileiras, seu destino continua incerto.
Agora "quem não quer" a presença da embarcação são as autoridades brasileiras. O porta-aviões está parado na costa pernambucana e seu comprador – o estaleiro turco Sok – pediu autorização para atracar no Porto de Suape.
No entanto, a Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco (CPRH) não permitiu, devido ao risco ambiental. Nesse imbróglio, há o temor de que a embarcação seja abandonada em alto-mar, relata o jornal O Globo.
Um relatório feito em 2021 apontou que o porta-aviões possui 9,6 toneladas de amianto. O mesmo relatório admitiu que só foi possível vistoriar 12% dos compartimentos, e há suspeita de que exista mais amianto do que o declarado. Por isso, a CPRH recomendou que a embarcação, que é transportada por um rebocador holandês, não atracasse em Suape, e a Autoridade Portuária negou a autorização, segundo a mídia.
A CPRH afirmou que recebeu nesta quarta-feira (5) a solicitação de posicionamento a respeito da atracação e que se posicionou contra em um comunicado dizendo que "haja vista o risco ambiental pela possibilidade de contaminação por amianto e outras substâncias perigosas. A Agência considerou ainda que a embarcação em questão já teve sua licença de exportação cancelada pelo Ibama e inclusive já foi impedida de navegar e atracar em outras regiões".
O porta-aviões, que já está na entrada de Suape, precisa achar algum porto para que seja feita a vistoria de integridade do casco, uma medida obrigatória que atesta que não há risco de naufrágio. Só com isso é possível parar em território brasileiro.
De acordo com o jornal, fontes que acompanham o caso dizem que a vistoria pode acabar sendo feita em alto-mar. Outra possibilidade seria pedir autorização para atracar no estaleiro de Mauá, em Niterói (RJ).
"Há o risco de um fim trágico. Temo o abandono do casco. Se o impasse não se resolver, o rebocador pode até abandonar em alto-mar. Se afundar, vira um monstro ambiental dentro do mar", afirmou Fernanda Giannasi, presidente da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) citado pela mídia.
A Marinha do Brasil afirmou que o porta-aviões já teria sido ficado sem amianto na época de sua compra, em 2000, na França – onde a embarcação foi construída na década de 1960. Mas, para isso, um navio precisa ser desmontado, e o próprio inventário apontou presença de amianto no ano passado.
A organização militar também disse que todos os compartimentos teriam sido inspecionados, o que não corresponde às informações do relatório do ano passado, e que uma equipe turca fez uma inspeção de radioatividade, mas Ginnasi diz que isso não aconteceu.
"Eu entrei em contato com o Ministério do Meio Ambiente da Turquia e eles negaram que fizeram inspeções nucleares no São Paulo. […] Para realizar trabalho dentro do navio, são necessários grandes equipamentos e respeitar as medidas de segurança. É preciso fazer a pressão negativa para que o ar de dentro não saia do navio e, assim, evitar a poluição externa. Além disso, funcionários precisam usar macacões adequados e realizar exames antes e depois do trabalho. Há todo um rigor para que a exposição seja limitada ao máximo", afirmou.
Procurada pela mídia, a Marinha não se manifestou. A Ocean Prime, agência marítima brasileira contratada pela Sok para tratar dos trâmites da exportação, também não respondeu à reportagem.
O porta-aviões São Paulo vive uma verdadeira novela, já que mesmo antes de deixar o Brasil em agosto, a Justiça tentou, através de uma liminar, que a embarcação não seguisse para Turquia alegando que sua venda em um leilão feito pela Marinha em 2021 ocorreu em meio a diversas irregularidades.
Quando ainda era da França, o porta-aviões esteve em frentes de batalha na África, no Oriente Médio e na Europa. Com 266 metros de comprimento e 32,8 mil toneladas, a embarcação exige cálculos muito precisos e complexos para determinação de valores de venda.