Prevista para esta segunda-feira (10), em Washington, nos EUA, a reunião anual entre o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) será marcada pelo temor diante da iminente recessão que se avizinha da Europa.
Na reunião, a previsão de crescimento global será atualizada em meio a uma conjuntura econômica global nada otimista. Para o presidente do Banco Mundial, por exemplo, o risco de recessão é alto, levando em conta a crise de energia na Europa desencadeada pela política de sanções contra a Rússia, implementada pelos EUA e adotada por seus aliados europeus, em retaliação à operação militar especial.
Tal política, no entanto, até o momento surtiu mais danos que benefícios, especialmente aos países da União Europeia. Para entender que motivos levam os países europeus a insistir na política de confronto com a Rússia, a Sputnik Brasil conversou com Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA).
Pennaforte argumenta que a insistência europeia reflete a carência de uma política externa própria para grandes temas internacionais, que leva o continente a seguir atrelado à visão dos EUA. Segundo ele, isso explica a manutenção da política de sanções por parte da União Europeia, mesmo que isso leve o bloco a ter sérios problemas.
"Do ponto de vista lógico e prático, quem mais perde com essa confrontação com a Rússia são os próprios europeus. Os EUA têm muito mais a ganhar estimulando essa confrontação, porque eles conseguem sair ilesos de todas essas sanções. A Rússia é a principal fornecedora de gás para a Europa, não para os EUA. A Europa carece de uma política externa própria, que leve em conta os seus interesses, e não os interesses dos EUA", explica Pennaforte.
Questionado sobre o que os países do continente europeu conquistaram com a política de sanções até o momento, Pennaforte é categórico ao afirmar que "absolutamente nada. Pelo contrário, vêm perdendo". Isso, segundo ele, desde 2014, com a reintegração da Crimeia.
"Os EUA impuseram sanções que influenciaram negativamente em vários projetos que França e Alemanha tinham com a Rússia. Não existe uma eficácia nesse sentido, e os europeus, infelizmente, caíram nesse conto dos EUA, de que as sanções seriam a solução para tudo. Infelizmente não são e nunca foram", explica o especialista.
Ele acrescenta que "as sanções têm pouca efetividade prática e penalizam muito mais a população". "Como, por exemplo, agora, com a aproximação do inverno europeu. Ela [a população] vai sentir o preço do combustível, o preço do gás natural, do aquecimento, muito mais alto", destaca Pennaforte.
Ele alerta que os efeitos econômicos negativos da política de sanções podem não ficar restritos à Europa, extravasando para outros países.
"A economia global entra nesse processo, porque nós temos uma economia totalmente interligada. Aspectos que existam em qualquer lugar do mundo vão ter impactos generalizados sobre a economia. Infelizmente, a tendência é que esses impactos levem a economia mundial a sentir algum tipo de recessão, desemprego. Lamentavelmente, nós veremos aí uma piora dos indicadores macroeconômicos globais", destaca Pennaforte.
O especialista aponta para o risco de endividamento dos países europeus e ressalta que tudo aponta para uma piora econômica entre o fim de 2022 e o início de 2023.
"O endividamento certamente pode ocorrer em função de compensações geradas pelas sanções. A necessidade de comprar petróleo de mais longe, de comprar gás de outras regiões, gás liquefeito dos EUA. Tudo isso vai gerar problemas para o bloco, que, razoavelmente, estava se mantendo em padrões econômicos bons, dentro do controle", diz o especialista.
Pennaforte finaliza alertando que "a escalada contra o governo russo vai deixar um preço a ser pago" para os atuais dirigentes de países europeus afetados pela política de sanções.
"Até do ponto de vista político esses dirigentes vão ter uma conta a ser cobrada pela população. O cenário para a Europa, especificamente para a União Europeia, não é nada bom. Pode não ser catastrófico, mas certamente será ruim economicamente. Como eu venho defendendo desde o início, esse conflito é um conflito regional que foi transformado em global em função dos interesses da política externa dos EUA."