O CEO da Gazprom, Alexei Miller, afirmou ser possível redirecionar os volumes de gás normalmente entregues pelo Nord Stream para um hub na Turquia se a infraestrutura necessária for criada.
"Você sabe, nada é impossível", disse Miller em entrevista à televisão russa neste domingo (16), quando perguntado se os suprimentos que a Rússia normalmente entrega via Nord Stream poderiam ser redirecionados por meio de uma infraestrutura localizada na Turquia. "Estamos falando daqueles volumes que perdemos graças aos atos de terrorismo internacional contra os gasodutos Nord Stream, então esses podem ser volumes significativos", disse ele.
"Gostaria de lembrar que temos a experiência de nos prepararmos para a implementação do projeto South Stream [Corrente do Sul], que foi originalmente planejado para ter uma capacidade de 63 bilhões de metros cúbicos [por ano]. Portanto, se estamos falando até mesmo da documentação técnica para o desenvolvimento da rota, para o South Stream — tudo isso já foi feito de uma só vez", disse Miller.
O South Stream começou a ser construído em 2012, mas foi cancelado em 2014 devido às sanções europeias e às restrições burocráticas impostas por Bruxelas. A rede de dutos de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 106,6 bilhões) e 2.380 km de extensão teria capacidade para transportar até 63 bilhões de m3/a via mar Negro para a Bulgária, que se tornaria um centro de entregas para a Grécia, Itália, Sérvia, Hungria, Eslovênia e Áustria. A Gazprom fez parceria com a italiana Eni, a francesa EDF, a alemã Wintershall, a Sérvia Naftna Industrija Srbije e a Srbijagas no projeto.
O South Stream acabou sendo substituído pelo TurkStream (anteriormente Turkish Stream, ou Corrente Turca), um gasoduto de € 11,5 bilhões (aproximadamente R$ 59,5 bilhões) capaz de bombear até 31,5 bilhões de m3/a de gás russo para a Turquia — que se tornou um mini-hub para entregas adicionais aos países europeus quando o projeto foi concluído em 2020.
O cancelamento do South Stream causou à Bulgária perdas de centenas de milhões de dólares em receitas anuais de trânsito.
O presidente russo, Vladimir Putin, avançou a ideia de transformar a Turquia no maior centro de gás da Europa na quarta-feira (12), e disse que Moscou estaria pronta para desenvolver a ideia se a União Europeia (UE) demonstrasse interesse — pendente apenas do cancelamento de qualquer "teto de preços" artificiais dos combustíveis russos por Bruxelas. Falando ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan na quinta-feira (13), Putin disse que a construção de uma segunda rede de gasodutos através do mar Negro usando um hub na Turquia poderia ajudar a reduzir os preços "exorbitantes" do gás e alcançar a estabilidade do mercado.
Autoridades turcas indicaram que a ideia do centro de gás é "tecnicamente possível", e Erdogan disse na sexta-feira (14) que instruiu o ministério de energia e recursos naturais do país a realizar um estudo conjunto com seus colegas russos sobre o assunto.
A conversa sobre um hub turco expandido para entregas de gás russo para a Europa vem no contexto dos ataques de sabotagem do mês passado contra o Nord Stream — as redes de gasodutos duplos capazes de bombear gás natural da Rússia para o nordeste da Alemanha através do fundo do mar Báltico. O Nord Stream 1 foi concluído em 2011 e bombeou gás russo barato para a Europa Central por mais de uma década antes de fechar no final de agosto, graças às sanções ocidentais que afetaram sua capacidade de se envolver na manutenção de suas estações de compressão. O Nord Stream 2 foi concluído no final de 2021, mas foi congelado indefinidamente em fevereiro pelo governo alemão depois que a Rússia reconheceu as repúblicas de Donbass como Estados soberanos antes de iniciar sua operação militar especial na Ucrânia.
Yamal-Europe, um importante oleoduto terrestre que normalmente pode enviar até 33 bilhões de m3/a para a Europa, foi fechado neste verão depois que as autoridades polonesas o ligaram em fluxo reverso, enquanto o Soyuz, um oleoduto que atravessa a Ucrânia com 26,1 bilhões de m3/a, também sofreu uma queda nos fluxos devido à crise de segurança naquele país.