Nada de novo no front, avaliam especialistas
"Usamos urnas eletrônicas há quase três décadas e, nesse tempo, não tivemos nenhuma denúncia ou inconformidade em relação a urnas ou ao resultado das urnas. Essa mesma auditoria já era feita pela Justiça Eleitoral e por organismos internacionais. Vejo essa auditoria do Ministério da Defesa com certa incredulidade. O Ministério Público e o Poder Judiciário são os grandes responsáveis pela condução desse ato de auditar as urnas. Tanto o Ministério da Defesa quanto as três entidades das Forças Armadas nada têm a ver com isso. Não há qualquer ponto de contato entre esses órgãos e as eleições", apontou.
"Não existe nada concreto em relação a esses fatos, não há qualquer razão para a participação do Ministério da Defesa [na auditoria das urnas]."
"A própria auditoria em si era despropositada. É grave pensarmos que o Ministério da Defesa tenha se submetido a esse papel, em desconformidade com as suas atribuições constitucionais", criticou.
"De acordo com a nossa Constituição, as Forças Armadas no máximo fazem a segurança do processo eleitoral. No máximo elas podem ser chamadas para regiões onde há necessidade de realmente contribuir com as polícias civis e militares na segurança das urnas, no trabalho mais corriqueiro de colocar ordem onde há desordem, digamos assim. Mas jamais as Forças Armadas, no Estado democrático de direito, poderiam ter esse papel de fiscalizar e intervir ou sugerir uma série de medidas que, de acordo com esse relatório, vêm para contribuir para a melhoria do processo. Na verdade, estamos em um tipo de regime bem diferenciado daquele que reza a Constituição, porque as Forças Armadas não têm esse papel [que estão desempenhando]", indica a professora.
"Essa atuação vem no momento em que o principal grupo que está no poder perde a eleição e também, em alguma medida, esperava que com esse relatório tivesse resultados que fossem favoráveis a uma atuação dos bolsonaristas repudiando ainda mais as instituições eleitorais. Não foi isso que ocorreu porque o que eles observam nesse relatório é que o processo eleitoral foi limpo, teve lisura, e, no máximo, o que estão indicando são melhorias, na visão deles. Não significa que, na avaliação de técnicos e estudiosos da matéria, essas medidas venham para melhorar o processo eleitoral. Militares têm outras preocupações, que não são necessariamente as de um regime democrático", observa ela.
"A contestação existe de acordo com regras eleitorais, que permitem a contestação pela impugnação e discussões feitas no foro adequado, usando instrumentos legais adequados", conclui.