"A escolha de Ilan Goldfajn, a meu ver, é bastante 'natural' para uma instituição como o BID. O BID é um banco multilateral com sede em Washington destinado a apoiar projetos de desenvolvimento em países da América Latina e do Caribe desde que se siga a cartilha das boas práticas liberais. Além disso, o peso das decisões pendem para os direcionamentos dos EUA, tendo em vista que o peso do voto dos norte-americanos é de 30% sobre o total. Portanto é um instrumento de disseminação dos interesses do norte, mas que, pelo modelo de dependência crônica a que estão submetidos os países do sul, exerce papel importante na economia dos países mais pobres."
"Trata-se de um 'soldado' bastante experiente e leal à ideologia liberal e à escola ortodoxa da economia. Por isso seu nome já aparecia como prioridade para substituir o desastre trumpista que ocupou a presidência do BID. E apesar do disse me disse da equipe econômica do presidente eleito no Brasil, Lula, seu nome foi aprovado com mais de 80% das indicações da direção do BID."
"O jogo de xadrez que está colocado para o governo Lula 3 tem uma dimensão aberta às surpresas, tendo em vista a frente amplíssima que se formou para derrotar Bolsonaro. Há muitos interesses antagônicos em jogo, e, nesse sentido, o presidente Lula terá que ter muita habilidade para equilibrar o país internamente a fim de possibilitar a retomada de um protagonismo regional e global do Brasil de outrora. Por outro lado, não é segredo para ninguém que o governo Lula promete um governo moderado, de conciliação nacional. Nesse sentido, Ilan Goldfajn pode somar para esta reconstrução do país, fortalecendo a posição do Brasil, desde que os regentes da economia nacional não queiram mudar demasiadamente os rumos da administração atual, de Paulo Guedes. [...] A presidência do BID é estratégica e pode ser usada como instrumento de disseminação de políticas que podem beneficiar o Brasil e a região."
"O atual ministro da Economia garantiu que os interesses do mercado tenham uma ferramenta a mais de poder para moderar o governo Lula 3. Uma ferramenta supranacional em que Lula não poderá interferir e que parte de seus aliados tem alinhamento", avalia.
"No mundo ideal, o BID poderia incentivar o desenvolvimento regional como bloco, na ideia de integração para fortalecimento da autonomia dos países. Algo que historicamente não é o reflexo da atuação do BID. Mas, a depender da habilidade de Lula nas próximas jogadas neste tabuleiro, tendo em vista se tratar o Brasil de uma potência, a existência de ao menos um campo de diálogo direto com o BID pode ser um reforço para a atuação externa do país, que promete retomar a ideia de política externa ativa e altiva."