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Haddad gera debate, mas é o ministro da Defesa quem pode criar problemas no futuro, diz analista

Com a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta segunda-feira (12), especialistas consultados pela Sputnik Brasil analisaram a formação do novo governo, apontando que a Economia, com Fernando Haddad (PT), será assunto político e a Defesa causa mais apreensão.
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A despeito de boas ou más escolhas na formação de um governo, alguns ministérios são vistos como prioridade dada a sua importância, sendo que a decisão acerca do nome que comandará a economia do país é sempre a mais aguardada. A divulgação de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, foi sem dúvida uma decisão polêmica.
Dentro da composição de forças políticas que levou Lula ao poder, de variadas faixas do espectro ideológico, a escolha de Fernando Haddad teve um peso simbólico, como destacou Mayra Goulart, cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ela, o novo ministro é da "fina flor do PT" e revela de antemão o que se pode esperar do futuro governo de Lula.

"Embora seja uma vitória da frente ampla, existem sinalizações de que o governo, no tocante ao Executivo, não será um balaio de gatos para acomodar diferentes forças. O principal nome, o ministro da Fazenda, é da fina flor do PT, da ala política do partido, e podemos esperar que será uma pasta essencialmente política, com ajustes políticos com relação à gestão do ministro Paulo Guedes", disse.

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Haddad foi anunciado pelo presidente eleito como futuro ministro na sexta-feira (9). Mesmo antes, no entanto, já realizava reuniões como chefe da equipe econômica que assume em janeiro. O ex-prefeito de São Paulo tenta quebrar resistências ao seu nome que ainda existem entre agentes econômicos. Esses "resistentes" temem uma suposta dificuldade de Haddad em conter uma eventual aceleração dos gastos públicos, o que poderia causar, em tese, um novo surto inflacionário.
Segundo Mayra Goulart, qualquer avaliação sobre Fernando Haddad precisa passar pela PEC da Transição, que mostrará a capacidade política do futuro governo e sua relação com o Congresso. Segundo ela, essa pauta é importante pois não interessa apenas ao Executivo e seus ministérios. "Estão todos desesperados com a armadilha fiscal deixada pelo governo de Jair Bolsonaro [PL]. É preciso previsibilidade, e isso interessa a todos os atores políticos no Brasil", afirmou.

Haddad 'não foi o ministro que mais chamou atenção'

João Roberto Martins Filho, analista político da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), entende que embora a escolha de Fernando Haddad tenha provocado "algum debate", ele "não foi o ministro que mais chamou atenção". A pasta de Defesa, em sua avaliação, foi aquela que causou maior polêmica, principalmente após a decisão final de que José Múcio Monteiro seria o novo ministro.
O especialista aponta que a nomeação de José Múcio Monteiro "foi precedida por boatos de que não haveria comitê de Defesa", sendo essa a única área "sem grupo nomeado para discutir o futuro da pasta". Para João Roberto Martins Filho, "isso levou a intepretações de que o novo ministro não tinha conhecimento sobre o tema".
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Segundo ele, a nomeação de José Múcio Monteiro tem um peso distinto e lembra a do ministro Nelson Jobim, "quando foi feito todo o possível para não criar tensões entre o Executivo e as Forças Armadas do país". O fato, diz João Roberto Martins Filho, é que o novo ministro "tem a aprovação do Exército e de seus comandantes e, por isso, pode criar problemas no futuro, na medida em que as Forças Armadas podem se sentir empoderadas".

"Essa área da Defesa se tornou uma pedra no sapato do Lula, porque quando o Lula foi eleito pela primeira vez, ele foi recebido pelos militares com a esperança de que o Exército recebesse mais verbas. Agora ele substitui um governo do qual as Forças Armadas fizeram parte, como no GSI [Gabinete de Segurança Institucional] e outros funcionários mais próximos ao presidente", comentou.

Com a diplomação de Lula, o bolsonarismo perde força?

Após a derrota de Jair Bolsonaro, apoiadores do presidente foram às redes para manter questionamentos dos resultados da eleição. Embora potente nos primeiros dias, o engajamento apresenta sinais de queda. O presidente tem se mantido em silêncio, apesar dos protestos dos apoiadores em frente a quartéis.
Para ambos os especialistas consultados pela Sputnik Brasil, isso demonstra que o bolsonarismo está perdendo força, embora seja cedo para determinar se o presidente será uma figura importante dentro da oposição ao governo de Lula. Como destacou Mayra Goulart, o presidente brasileiro, quando falou ao público, fez "um discurso preocupante, de natureza golpista".
Entretanto, segundo ela, "o silêncio dele ajudou no esvaziamento do bolsonarismo dentro do governo". Esse entendimento foi partilhado por João Roberto Martins Filho, que enfatizou que "esse silêncio foi criticado até mesmo pelos militares, que disseram que o presidente deixou o governo nas mãos do PT".
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A fala de Alexandre de Moraes

Na cerimônia de diplomação do novo presidente do Brasil, evento que contou com diversos parlamentares e membros do Judiciário, a fala do ministro Alexandre de Moraes, que também faz parte do Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou os holofotes da imprensa, condenando a desinformação e os ataques à democracia durante as eleições.
Após rejeitar qualquer suspeita de fraude no pleito e criticar aqueles que atacaram a imprensa e a Justiça, o ministro disse que será implacável contra grupos responsáveis por ataques de ódio e a eles prometeu punição, "para que isso não retorne nas próximas eleições".
Na avaliação dos analistas consultados pela Sputnik Brasil, a responsabilização de alguns setores mais radicais ligados ao presidente Jair Bolsonaro pode prejudicar a imagem do presidente no futuro.
"O que se pode ver é que o Alexandre de Moraes não acha que está concluído esse processo, e ele não vai 'terminar em pizza'. O ministro afirmou que vai investigar as fake news e os grupos que financiam esse processo. Essas pessoas serão punidas, e isso será um grande avanço para a democracia", disse João Roberto Martins Filho.

"Isso deixa em aberto a questão [sobre] se o bolsonarismo está perdendo força. Mas a representação no Congresso é muito grande ainda e é possível existir bolsonarismo mesmo sem Bolsonaro. Em política não existe espaço vazio, sempre há alguém para ocupar o seu espaço", concluiu.

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