"A energia nuclear tem sido fundamental na transição energética, contribuindo para a descarbonização do planeta, por ser uma energia limpa. Inúmeros países estão refletindo e revendo suas matrizes de geração energética. Essa conclusão deve ser motivo de orgulho para os brasileiros, visto que o enriquecimento de urânio é uma tecnologia de ponta, 100% nacional, desenvolvida pela Marinha do Brasil, e esse domínio de tecnologia é uma etapa fundamental dos elementos combustíveis que alimentam atualmente as nossas usinas Angra 1 e [Angra] 2 e, em breve, Angra 3. Cabe lembrar que pouco mais de dez países no mundo detém essa tecnologia, e o Brasil é um deles, mas com um detalhe: desses, apenas cinco, incluindo o Brasil, dominam a tecnologia e têm urânio em quantidade suficiente que possibilite a sua independência nessa área tecnológica tão sensível."
Mas, afinal, estamos no topo das potências nucleares do mundo?
"Ainda não temos escala industrial para abastecer o complexo nuclear de Angra. Mas o urânio é uma fonte de energia que não deve ser desprezada. Temos a necessidade do conhecimento da área nuclear em termos de defesa, de soberania, da manutenção dos interesses nacionais soberanos, de integridade do patrimônio. Inclusive o conceito dessa fonte de energia mudou depois do conflito da Ucrânia, quando o gás russo deixa de ser fornecido à Europa, que começa a pensar em outras matrizes energéticas. Isso porque se trata de uma energia limpa e segura. O número de acidentes também é baixo, tivemos Chernobyl e Fukushima", afirma Campos.
"À medida que se desenvolve, reduz-se a dependência. Mas não temos produção em escala de autossuficiência, por isso o contrato com a Rosatom [estatal russa de tecnologia nuclear]. Podemos ser autossuficientes. Um caminho é ter, internamente, uma quantidade de urânio suficiente. Nosso território não foi prospectado em sua totalidade. Também precisamos de conhecimento tecnológico para o enriquecimento, além de recursos para construir unidades ou ampliá-las. Combustível o Brasil já produz, mas não em quantidade suficiente. Para se chegar à autossuficiência, depende-se muito da política governamental", prossegue.
Aliança com a Rússia favorece o Brasil
"A Rússia tem necessidade de alimentos, e o Brasil necessita de tecnologia militar. A Rússia tem interesse porque perdeu mercado e tem praticamente a tabela periódica inteira em seu território, assim como o Brasil. Tudo isso é matéria-prima. Se o país não tiver matéria-prima, ele se lasca. Essa proximidade com a Rússia facilita muito por determinadas tecnologias e matérias-primas, e um país complementa o outro. A Rússia pode favorecer o Brasil em muitos segmentos", conclui.