"O primeiro ponto é o fato de a China estar se utilizando de uma soberania monetária absurda. E sobre ela, por exemplo, o Estado financiou o surgimento de 2 mil startups para as infraestruturas de semicondutores há dois anos, mais ou menos. Então uma série de iniciativas vêm sendo criadas e [...] culminaram, por exemplo, não somente no recente anúncio de que a China tinha condições de fazer este chip de 7 nanômetros, como também no mais difícil, que é alcançar a escala para produzir isso. A China tem condições, dado o tamanho do seu mercado interno; ou seja, o mundo precisa dela. Há o tamanho do seu mercado interno, a sua capacidade financeira e a capacidade de concentrar esforço em um único lugar. Um lugar que, por sua vez, é um Estado socialista bem centralizado", observa.
"Creio que a China esteja usando desse artifício para poder enfrentar essa questão. Fora o fato de estar importando engenheiros, oferecendo [salários] quatro a cinco vezes mais altos do que os engenheiros coreanos e taiwaneses ganham em seus lugares de origem. Ou seja, é uma guerra em todos os aspectos possíveis e imagináveis e que pode desembocar inclusive em uma guerra militar. Aí seria a última alternativa americana para brecar a China, o que não está fora do horizonte, a meu ver."
E quanto à Rússia?
"Aliás, a Rússia talvez seja o único país do mundo que tem todos os elementos da tabela periódica no seu território", lembra.
"Não que a Rússia tenha virado uma espécie de 'colônia chinesa', ao contrário. Porque a China também substitui importações, ou seja, existe um processo simultâneo de substituição de importações em ambos os lados. Então a cooperação militar tende a aumentar entre Rússia e China, assim como a cooperação energética. Ou seja, em todos os aspectos da vida econômica os dois lados estreitaram as suas relações. Então é evidente que nesse caso as exportações de matéria-prima da Rússia para a China vão aumentar, e muito", vaticina.
"E é nesse aspecto que acontece o casamento perfeito: entre o dinheiro acumulado pelos chineses ao longo das suas reservas cambiais e a necessidade de importar tecnologia russa. Então a tecnologia militar russa é fundamental para a China hoje. Tudo gira em torno da transferência de tecnologia da Rússia para a China no setor militar. Talvez aí esteja a grande atualização que o conflito ucraniano oferece à China: a complementação de sua própria indústria bélica com a tecnologia russa, que é muito superior à chinesa", conclui.