Há interesses de potências para que se desencadeasse conflito na Ucrânia, diz especialista
"Não é novidade nenhuma no cenário político ao longo da história e do desenvolvimento dos países, mesmo sendo reflexo das decisões geopolíticas desses países. Isso nada mais é do que consequência de tomadas de decisões equivocadas. É possível que essa declaração seja seguida por outros países europeus para justificar o caos que eles estão vivendo neste momento. Não há melhor palavra para se colocar do que 'caos'."
"Era um caldeirão de pólvora para o qual a Europa fazia certa vista grossa e fingia não estar acontecendo. Na verdade esperavam que a Rússia conseguisse resolver a situação com a Ucrânia diretamente e sem muita intervenção externa. O fato é que sabíamos que isso não ia acontecer, a partir do momento em que os Estados Unidos tinham grande interesse em fazer com que o conflito escalasse em vez de que se resolvesse. Porque estamos falando de uma guerra por procuração. Depois da saída desastrosa dos EUA do Afeganistão, os EUA precisavam se reorganizar de alguma maneira, pois sempre precisam estar em um conflito em andamento. Isso tem a ver com as questões econômicas e com a indústria bélica muito forte, que responde por quase um terço do PIB norte-americano. É muita ingenuidade não pensar que esse conflito é lucrativo para os EUA, porque é", afirma.
"Isso passou a incomodar os EUA e a economia ocidental e a mexer nessa balança (que, até então, era favorável aos EUA). Então quando a Rússia dá seu primeiro xeque-mate [em relação à questão energética], isso incomoda muito. Nada do que se vê nas relações internacionais é de ontem, são consequências [...] de outros resultados ao longo da história. Temos todo um contexto histórico de que a Rússia não é 'benquista' pelo Ocidente, e ela tem um rancor muito grande com relação a isso. Porque foram feitos esforços muito grandes na história da Rússia, desde o Império Russo, para que se estabelecesse esse laço e até mesmo essa 'incorporação' da Rússia à Europa e ao mundo ocidental. Mas ela sempre foi cortada, porque o medo dessa força, o medo do maior país do mundo e de sua expansão territorial sempre falou muito mais alto do que o lado da parceria, o lado da estratégia, o lado do desenvolvimento conjunto", analisa.
"Vai doer no bolso do consumidor final a conta de energia, assim como vai doer ao consumidor final a falta de energia. A Europa está em uma situação muito complicada, e para a população isso é grave, porque é ela que sofre na pele. Até na Polônia, que historicamente tem uma relação difícil com a Rússia, centenas de pessoas foram protestar pedindo pela interrupção do apoio à Ucrânia. A população começa a entender que quanto maior o envio de armas à Ucrânia, maior a escalada do conflito. Porque se você arma uma das partes, você faz com que o conflito se estenda, e isso a Rússia tem dito o tempo todo. A população começa a entender que de fato essa conta não fecha. Por isso os protestos vêm acontecendo", reflete. "O que estamos vendo hoje é uma mudança da ordem mundial, uma chacoalhada no mundo com viés histórico importantíssimo que é resultado claro dos últimos séculos. Então estamos testemunhando um caldeirão com razões históricas, sobretudo econômicas e políticas, e que resultam nessa sobreposição de fatos e de acontecimentos que fará com que o mundo não seja mais como era há dez anos, e as mudanças virão em velocidade maior [que outras guerras em outros contextos mundiais diferentes], porque hoje tudo é imediato."