"É possível e óbvio que há, sim, influências [do processo constituinte do Chile]. Há uma inspiração por parte desses manifestantes — dos movimentos sociais que de forma geral querem uma nova Constituição no Peru — ao olharem para o caso chileno", avalia o cientista político Jefferson Nascimento, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"Não podemos ficar indiferentes quando, hoje, em nossa irmã República do Peru, com o governo sob o comando de Dina Boluarte, pessoas que saem para marchar, para exigir o que consideram justo, acabam baleadas por quem deveria defendê-las. Mais de 50 pessoas perderam a vida, e isso deve nos chocar. [...] Hoje, com a mesma clareza com que sempre apoiamos os processos constitucionais em nossa região, assinalamos a necessidade urgente de uma mudança de rumo no Peru, porque o saldo deixado pelo caminho da repressão e da violência é inaceitável [...], e não tenho dúvidas de que aqui na CELAC essa vontade é esmagadoramente majoritária, democracia e direitos humanos", disse Boric.
"As forças de ordem não estão preparadas nem têm os insumos necessários para enfrentar esse tipo de mobilizações. O último erro foi a entrada na UNMSM, onde atuaram sem medir o uso [...] da força. A ação das forças policiais deve ocorrer em todos os momentos com transparência, garantindo o devido processo legal, respeitando os direitos humanos de todos os participantes e em coordenação com o Ministério Público da Nação", apontou.
"A Constituição de 1993, que continua em vigência, dificulta o acesso por parte da população aos direitos sociais e traz uma fragilidade muito grande ao Estado de bem-estar social. A gente percebe que neste ciclo de protesto 2022–2023 esse processo de transformação, que ao meu ver já vinha acontecendo, ganha uma intensidade muito grande. É importante que esse processo de transformação implique em mudanças na Carta Constitucional, seja por meio de reformas mais profundas ou da produção de uma nova Carta Magna."
"Se as marchas continuam a acontecer e mais vidas humanas se perdem, talvez possamos percorrer o caminho chileno, mas o resultado pode ser diferente do reivindicado pelos mais necessitados."
"Na década de 1990 se acreditava que a América Latina tinha entrado em uma era de paz e prosperidade, mas ela ainda padece de alguns problemas graves, com instituições ainda muito frágeis. O Peru, que basicamente tem tido um presidente ou menos por ano, é um país com instituições ainda muito frágeis."