"Não estamos com ninguém, estamos com a paz, por isso nenhuma arma [da Colômbia] será usada nesse conflito", afirmou Petro.
Colômbia mais distante da OTAN
"A gente pode dizer que, sim, tem um esvaziamento, que há uma ruptura, nem que ela seja política e simbólica e de narrativa. Mas existe toda uma lógica e uma estrutura militar na Colômbia construída [com base na influência dos Estados Unidos]. Isso não muda de um dia para o outro."
"Os Estados Unidos estão pressionando, estão utilizando das suas influências econômicas, políticas e militares para fazer essa manipulação na América Latina. Mas a vitória do Lula, essa retomada da lógica de que a América Latina deve cooperar, se integrar e se posicionar no mundo como região, fortalece o posicionamento do Petro. Sem Lula, sem a América Latina se posicionando [em conjunto], seria muito mais difícil [para Bogotá manter autonomia]. Hoje toda a região está fazendo a mesma leitura. E vale lembrar que não é só a América Latina. É a África, a Eurásia. Muitos países não estão aderindo a essa lógica de guerra unilateral e sim compreendendo que é um grande conflito que tem uma reorganização da ordem mundial."
Houve acordo entre Petro e Washington?
"As Forças Armadas da Colômbia estão muito integradas com os EUA e são uma das mais preparadas da América do Sul, e a Colômbia é um parceiro global da OTAN, único país da América Latina que tem esse status. Mas fornecer armas é apenas um detalhe, não influencia muito. Bogotá não tem obrigação de fornecer, afinal a Colômbia não é membro pleno da OTAN. A grande questão é se os EUA, considerando o papel estratégico da Colômbia, vão aceitar o governo Petro."
"O que a gente deduz? Que houve algum acordo, nas eleições, para os EUA aceitarem a vitória do Petro. No caso do Brasil, os EUA já conhecem o Lula, mas na Colômbia era diferente, uma mudança mais emblemática. [...] Eu trabalho com a hipótese de que houve algum acordo, o que envolveria não tensionar a relação com a OTAN, manter a Colômbia nessa parceria global como uma referência da OTAN para a América do Sul. Tanto que, às vezes, o Petro fala umas coisas estranhas sobre o papel da OTAN. Não me parece que está trabalhando para um rompimento", aponta.
"Era previsível que Petro não ia mandar armas para a Ucrânia. Não deve ter surpreendido ninguém da OTAN. Na verdade, o país que mais se posicionou contra a Rússia foi o Chile. Mas, no Chile, o Olaf Scholz escutou a mesma coisa [que não teria envio de armas de Santiago a Kiev]", destacou o professor da UFABC.