"Há uma abertura de negociação da posição do Brasil para que Lula seja um articulador das posições equilibradas em busca da paz. Mas não houve, digamos assim, um acolhimento total por parte de Biden dessa posição. Não vejo Biden desejoso de ver Lula como um comandante [da interrupção do conflito]. Pelo contrário, ele quer que Lula tenha os interesses norte-americanos acima dessa posição. Por isso essa paz não se coloca como uma posição favorável ao acolhimento de Biden", observou.
"E começa com a Europa e com os Estados Unidos. O objetivo dele era o início de articulação para uma busca da paz entre Rússia e Ucrânia. Só que ele não teve esse retorno porque não é exatamente o mesmo objetivo que Biden tem. Ele não teve esse sucesso. [Mas] foi o início de uma busca para uma tentativa dessa articulação. Não dá para saber ainda se é um êxito ou um fracasso porque é o início de uma discussão que ele busca colocar. Mas a resposta de Biden não foi uma resposta, digamos assim, voltada para esse objetivo de Lula", avaliou.
"Lula quer a paz, mas ele vai primeiro escutar concretamente o ministro das Relações Exteriores russo para tomar uma decisão em abril. O que Lula está fazendo nessa conjunção? Ele não quer sedimentar uma posição favorável à Ucrânia ou favorável à Rússia antes de ouvir concretamente a posição russa. Sem dúvida a vinda de Lavrov é decisiva para a decisão definitiva da posição de Lula. Ele não se posicionou externamente quanto a isso porque ele quer, de fato, tomar uma decisão política nesse sentido. Logo, a vinda do chanceler russo é muito importante para a posição de Lula, que, no meu entender, ainda não está fechada mesmo com essa visita a Biden. E isso efetivamente só coloca a posição clássica de querer a paz. Mas qual a posição da paz que o Lula terá ainda depende muito dessa negociação com o governo russo."
"Há uma grande dúvida sobre qual a posição de Lula. Acho que ele vai permanecer em cima do muro porque é uma situação difícil para o Brasil. Além disso, o papel ideológico [com] que Lula quer se posicionar no mundo não é nem favorável totalmente a Biden, tampouco favorável à posição russa. Ele quer abarcar o papel de finalização do conflito entre Rússia e Ucrânia. Mas não necessariamente se posicionando integralmente por parte de um ou por parte de outro. Por isso a posição em cima do muro, a posição neutra, digamos assim, que Lula vem tomando nos últimos tempos. Uma posição clássica de Lula no seu histórico enquanto presidente no passado. E vejo ele buscando a repetição dessa posição novamente agora. E reticente, digamos assim, à posição de se colocar mais favorável a um ou mais favorável a outro."
"É um valor irrelevante. Na prática não houve nada, não houve uma discussão efetiva, não houve uma execução, e sim um início da colocação deste [valor] como [parte de] um processo que tem na Europa um desejo de que isso [o aporte] aconteça, sobretudo a partir do ponto de vista da Alemanha, e [como um gesto que segue] uma tendência da França. Mas não há ainda uma tendência efetiva de Biden no governo americano para que esse fundo se estabeleça concretamente", finalizou.