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China e assédio para apoio à Ucrânia: o que esperar do encontro entre Lula e Biden nos EUA

© AP Photo / Eraldo PeresO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conduz a primeira reunião ministerial do novo mandato, no Palácio da Alvorada. Brasília, Brasil, 6 de janeiro de 2023
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conduz a primeira reunião ministerial do novo mandato, no Palácio da Alvorada. Brasília, Brasil, 6 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 09.02.2023
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O conflito na Ucrânia está na pauta da conversa entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu homólogo dos EUA, Joe Biden, na reunião bilateral que ocorrerá nesta sexta-feira (10) no Salão Oval da Casa Branca, em Washington. A Sputnik Brasil conversou com um pesquisador para entender como se desenhará o encontro.
Holofotes mundiais estarão voltados à reunião bilateral, alvo de desejo do governo Biden desde antes da posse de Lula, no fim do ano passado.
Mas, afinal, por que o grande interesse norte-americano pelo novo governo do Brasil?
Pedro Costa Júnior, professor de relações internacionais e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), classifica este momento de a "janela Biden", uma alusão ao fato de que o Brasil terá uma administração de dois anos dos democratas dos EUA, com alguns pontos de contato, algo que, por sua vez, não significa endosso total das políticas de interesse de cada país.
O fio condutor dessa relação, segundo ele, é a derrota do trumpismo e do bolsonarismo por ambos nas urnas, assim como uma agenda mútua que polariza com a extrema-direita não apenas nas duas nações como também no restante do mundo.
O signo máximo entre Biden e Lula se cristaliza na questão dos ataques ao Capitólio, nos EUA, ocorrido em 6 de janeiro de 2021, e aos prédios dos três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, perpetrados, respectivamente, por radicais apoiadores de Donald Trump e Jair Bolsonaro, inconformados com os resultados das eleições em cada país.
Ele explica que o Partido Republicano foi praticamente tomado pela extrema-direita e pela alt-right norte-americana. Políticos de centro (e mesmo os chamados "falcões" republicanos da ala mais antiga da sigla) foram esmagados não apenas lá, mas no mundo todo.

"O inimigo do meu inimigo é meu amigo", sintetiza o professor, lembrando que as próximas eleições dos EUA ainda são incertas quanto ao seu resultado e que, caso os republicanos vençam, a extrema-direita se fortalece lá e ao redor do mundo. Frear o que chama de "agenda alucinada da extrema-direita", portanto, é fundamental para os dois líderes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no gabinete do Palácio do Planalto. Brasília, 4 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 02.02.2023
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Outros pontos de contato entre Lula e Biden são as questões ambientais e raciais, pautas das quais o governo dos EUA vem tentando se aproximar no âmbito doméstico. Isso se evidencia com a integração de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial (e irmã de Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro em 2018), na viagem da comitiva presidencial brasileira.

O assédio para apoio à Ucrânia

Mas o céu de brigadeiro entre Lula e Biden tende a se dissipar diante do que Costa diz que será um "assédio": os EUA vão tentar impor a agenda de apoio do Brasil à Ucrânia à pauta.

"Vai ter um assédio dos EUA para que o Brasil se posicione a favor do Ocidente na guerra da Ucrânia, que é uma guerra por procuração contra a Rússia. Biden vai exigir que Lula não dê declarações ambíguas [sobre o conflito]. Esse assédio vai ser muito forte", analisa o pesquisador da USP. "Há um movimento de tentáculos transnacionais para engajar [quem é neutro na operação militar especial]."

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participa de encontro com jovens ativistas durante a COP27, a cúpula do clima das Nações Unidas de 2022, em Sharm el-Sheikh. Egito, 17 de novembro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2023
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Já houve, de acordo com ele, um "pré-assédio" coordenado por Washington, a partir do telefonema de uma hora e meia de duração de Lula com o presidente da França, Emmanuel Macron, e da visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, na semana passada, durante a qual o Brasil reforçou sua posição de neutralidade e a necessidade de estancar o conflito pelas vias diplomáticas.
Diante disso, Lula vai resistir a essa pressão? Na percepção do analista, a resposta é absoluta.

"Ele não só consegue como vai fazer isso. Lula é um político muito experiente, tem um excelente assessor chamado Celso Amorim. Ou seja, ele está muito bem preparado para o que virá amanhã [10]. Ele vai propor a paz, e as relações do Brasil com a Rússia são fundamentais. Mais: Lula tem boas relações com [o presidente da Rússia, Vladimir] Putin, assim como Celso Amorim mantém com [o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei] Lavrov. São, afinal, os criadores do BRICS [grupo que agrega os dois países, além de China, Índia e África do Sul]."

Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, durante lançamento de seu livro Relações de Confiança: O Brasil na América do Sul, em 22 de julho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 03.08.2022
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O pesquisador da USP classifica Lula de "salomônico". Isso significa que sairá muito sabiamente da situação e que vai propor o que já havia ventilado durante a visita de Scholz ao Brasil: uma conferência de paz formada por Estados independentes para travar negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.

"Como diz Aristóteles, Lula é um animal político. Ele decidiu ir aos EUA somente após a posse, com a caneta presidencial na mão, empoderado como presidente da República, evitando, de tal maneira, uma tentativa de interferência dos EUA na escolha dos ministérios e nas diretrizes de políticas públicas. Mas não espere que a imprensa ocidental bata palmas", analisa.

Desgastar relações Brasil–China é meta dos EUA

Além da guerra por procuração contra a Rússia, a contenção da China é uma das principais obsessões do Departamento de Estado dos EUA, cuja agenda de política externa é a mesma e independe de quem está no poder.
cartas na manga, avalia o professor de relações internacionais.

"Em meio à guerra tecnológica contra a China, uma das coisas que Biden pode oferecer ao Brasil, que, segundo informações de bastidores, está na pauta, é uma reindustrialização de alta tecnologia do Brasil, inserindo o país na cadeia global pró-americana", aponta.

A questão interessa ao Brasil principalmente pela retomada da produção industrial com base em alta tecnologia.
Há dois grandes entraves para a agenda hegemônica norte-americana, contudo. O primeiro é o BRICS, que é uma prioridade do governo Lula. O segundo é que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, e dessa relação o país não vai abrir mão, segundo o especialista.

"Isso é muito importante, porque deve ser a parte mais áspera da conversa. Porque os EUA estão preocupados com o avanço das relações comerciais da China na América do Sul. E nada que os EUA prometem dá para acreditar. Com os chineses e os russos não há esse histórico, e tanto Lula quanto o Itamaraty sabem disso. Nessa viagem, Lula vai explorar a agenda de governo sem cair na agenda de Estado dos EUA."

O presidente dos EUA, Joe Biden, em Washington, em 6 de novembro de 2021; e o presidente da China, Xi Jinping, em Brasília, no Brasil, em 13 de novembro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2023
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