A conquista de Xi foi convencer Teerã e Riad a reiniciar as relações diplomáticas depois de quase sete anos, uma mudança que pegou muitos no Oriente Médio e em Washington de surpresa, de acordo com o Financial Times.
Mas pode ser igualmente significativo o que o avanço diplomático revelou sobre os limites de Washington como o poder dominante da região e a potencial disposição da China de assumir um papel mais político, mediando acordos de paz e moldando a arquitetura de segurança como os Estados Unidos fizeram uma vez.
Especialistas chineses veem o desanuviamento nas relações irano-sauditas como um potencial ponto de virada. Se o acordo que inclui a retomada dos tratados biliterais econômicos e de segurança for implementado sem problemas, a região "terá expectativas ainda maiores em relação à China, e a confiança chinesa de que pode enfrentar essas expectativas aumentará", disse ao jornal Fan Hongda, professor do Instituto de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai.
Segundo o FT, tal ambição representaria uma mudança marcante, Pequim tem atuado como parceira principalmente econômica no Oriente Médio. Suas aquisições de energia aumentam de 3% das exportações de petróleo da região para 30% nos últimos 30 anos, e é a maior compradora de petróleo bruto saudita e iraniano.
Isso deu para China uma influência considerável como parceira comercial – a maior da Arábia Saudita - e fonte de investimento. A China também é uma das poucas grandes potências do mundo a ter relações saudáveis com o Irã, com o qual os Estados Unidos não têm laços diplomáticos formais desde 1980.
"Os países do Oriente Médio esperam cada vez mais que a China possa ir além do engajamento econômico e ajudar a resolver problemas de segurança", disse Fan.
Mas para muitos no Ocidente, a crescente ambição diplomática de Pequim será vista como um desafio à supremacia dos EUA no Oriente Médio.
A China apresentou-se como uma alternativa benigna à hegemonia dos EUA. Em 2016, Xi Jinping disse às autoridades da Liga Árabe que a China "não usaria proxies" ou "se envolveria na criação de esferas de influência". Em vez disso, convidou os países a "se juntarem ao círculo de amigos da Iniciativa Cinturão e Rota", que lançou como "uma rede de parcerias mutuamente benéficas".
Outros analistas veem uma grande lacuna entre a alta retórica e os acordos de paz sustentáveis. Nos últimos seis anos, Pequim tem repetidamente apresentado vagas propostas de paz no Oriente Médio abordando o conflito israelo-palestino, a crise na Síria e uma nova arquitetura de segurança para toda a região.
Vários especialistas em política externa argumentam que a China tem poucos diplomatas para transformar suas declarações abrangentes em diplomacia substancial.
"As pessoas assumem que a China é como os EUA com todas as relações de petróleo e comércio, mas não a vimos exercer influência", disse Jesse Marks, ex-assessor do gabinete do secretário de Defesa dos Estados Unidos.
Ele observou que Pequim poderia tentar imitar a Rússia no Oriente Médio como "um obstáculo para iniciativas ocidentais", acrescentando: "Mas pode ser atraente para alguns governos da região e, em alguns casos, eles podem fazer o que os EUA não podem - como no caso de se sentar com o Irã para fazer um acordo com a Arábia Saudita."
Para Pequim, as vantagens de ampliar os laços na região, além da energia, são inúmeras. Em sua viagem à Arábia Saudita em dezembro, Xi Jinping propôs acordos que vão da saúde ao diálogo de defesa.
"O fato de os EUA terem influência, ou mesmo controle, sobre certos países do Oriente Médio representa um risco para a China", disse um analista de segurança chinês.
Porém, outros especialistas chineses acreditam que tais preocupações podem até moldar a política de Pequim. Niu Xinchun, diretor do Instituto de Estudos do Oriente Médio nos Institutos Chineses de Relações Internacionais Contemporâneas, observou: "A política chinesa para o Oriente Médio está realmente em uma encruzilhada."