A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, é a mais recente política europeia a fazer as malas e seguir para a China em visita oficial.
Emmanuel Macron, da França, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chegaram a Pequim recentemente, com o chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, forçado a adiar sua própria viagem à China após testar positivo para COVID-19.
Era previsto que Annalena Baerbock tivesse sido incumbida de fazer "controle de danos" após os comentários explosivos sobre os Estados Unidos, China e Taiwan feitos pelo presidente francês. Então, o que esperar da visita da ministra alemã a Pequim?
A principal diplomata alemã que recentemente exortou a Europa a ser "geopoliticamente mais ativa" em sua rivalidade sistêmica com a China, que ela descreveu como um "concorrente" e um "oponente sistêmico", está visitando a potência asiática de 13 a 15 de abril. A viagem surge a convite do conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores chinês, Qin Gang. Como parte da visita, Baerbock e Qin vão copresidir a sexta rodada do Diálogo Estratégico China-Alemanha sobre Diplomacia e Segurança. Annalena Baerbock também deve ser reunir com o vice-presidente Han Zheng e o diplomata Wang Yi.
Após a visita, Baerbock irá ao Japão para participar de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores dos países do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) de 16 a 18 de abril na cidade turística de Karuizawa, na província japonesa de Nagano.
Na China, Baerbock pretende discutir temas como a situação no estreito de Taiwan, o conflito na Ucrânia, os direitos humanos, bem como a luta contra a crise climática, segundo a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, Andrea Sasse. Em relação aos exercícios militares conduzidos pelo Exército da Libertação Popular (ELP) da China perto de Taiwan após a reunião nos EUA entre a líder taiwanesa Tsai Ing-wen e o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Kevin McCarthy, a porta-voz destacou preocupação.
"Estamos muito preocupados com a situação no estreito de Taiwan. Esperamos naturalmente que todas as partes na região contribuam para a estabilidade e a paz. Isso se aplica igualmente à República Popular da China", destacou ela.
Também foi sublinhado que tanto a Alemanha como a França estiveram envolvidas na formulação de uma política conjunta UE-China, que também foi feita em cooperação "com o nosso parceiro transatlântico", em referência a Washington.
'Falando sem rodeios'
Especialistas em relações internacionais esperam que Annalena Baerbock "esclareça as coisas" durante sua viagem à China, disse Nils Schmid, porta-voz de política externa do Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler alemão Olaf Scholz.
"Definimos claramente no acordo de coalizão [do governo] que precisamos de uma mudança na política da China porque a China mudou. O chanceler deixou isso claro durante sua visita. Acima de tudo, Scholz também emitiu avisos claros sobre Taiwan durante sua visita [no ano passado]. Presumo que a ministra das Relações Exteriores, [Annalena] Baerbock, repetirá exatamente isso e, assim, deixará as coisas explicadas e fará um esclarecimento após a visita malsucedida de Macron", escreveu Schmid no Twitter.
Estratégia 'agressiva' para com a China
Muitos analistas especularam que a missão diplomática da ministra das Relações Exteriores da Alemanha à China vai ser muito desafiadora. Além da "nuvem da visita de Macron" que paira sobre ela, a estratégia mais tipicamente "agressiva" de Baerbock para com a China, ao contrário do chanceler Olaf Scholz, defende a redução da dependência econômica da Alemanha de Pequim.
A visita ocorre quando o Ministério das Relações Exteriores de Baerbock está elaborando a estratégia da Alemanha para a China, que, supostamente, prometeu uma linha mais dura em relação a Pequim, ao contrário da abordagem preferida de Scholz. Além disso, na quarta-feira (12), o governo alemão disse que estava considerando a possibilidade de proibir a empresa estatal chinesa China Ocean Shipping (Group) Company (Cosco) de concluir um acordo para adquirir partes de um terminal portuário de Hamburgo. Enquanto Olaf Scholz pressionou pelo acordo quando visitou a China em 2022, as autoridades de segurança alemãs classificaram o terminal como "infraestrutura crítica".
Em março, em entrevista a um jornal espanhol, Annalena Baerbock disse que a Europa deveria estar atenta à "rivalidade sistêmica" com Pequim.
"Concordamos que não podemos nos separar da China no mundo globalizado. Mas não devemos ser ingênuos. [...] A China é uma concorrente, uma parceira, mas também um oponente sistêmico."
Ela acrescentou ainda que Pequim "aproveitou-se estrategicamente dessa lacuna que deixamos para expandir sua influência, criar dependência econômica, por exemplo, no caso da Nova Rota da Seda. Não fizemos o suficiente para enfrentá-la", concluiu.