Guterres e os enviados especiais para o Afeganistão de vários países, inclusive da Rússia, China, EUA, Reino Unido, França, Índia, Paquistão, bem como da União Europeia (UE) e da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), se reuniram em Doha, na terça-feira (2).
O evento teve como objetivo chegar a pontos de convergência em questões como direitos humanos, em especial os direitos de mulheres e meninas, governança inclusiva, combate ao terrorismo e tráfico de drogas.
Segundo o secretário-geral, a reunião não abordou a questão do reconhecimento do Talibã.
"A reunião tocou a elaboração de uma abordagem internacional comum, não o reconhecimento das autoridades de fato do Talibã", disse.
Ele disse que todos os participantes da reunião concordaram que há a necessidade de uma estratégia de colaboração que favorecesse a estabilização do Afeganistão.
"Após a rodada de consultas, estou pronto para realizar outra reunião semelhante", acrescentou Guterres.
Perguntado sobre se há alguma circunstância em que ele se encontraria com o Talibã, o secretário-geral respondeu:
"Quando for o momento certo para isso, obviamente não recusarei a oportunidade. Hoje não é o momento certo para isso".
António Guterres chamou a crise no Afeganistão de a maior crise humanitária do mundo.
"É difícil exagerar a gravidade da situação no Afeganistão. É a maior crise humanitária do mundo atualmente", disse ele aos repórteres em Doha após a reunião.
Ele destacou que 97% dos afegãos vivem na pobreza.
"Dois terços da população – 28 milhões – vão precisar de assistência humanitária este ano para sobreviver."
Além disso, seis milhões de crianças, mulheres e homens afegãos estão a um passo da fome.
Ao mesmo tempo, segundo Guterres, o financiamento está se esgotando.
"Nosso plano de resposta humanitária, que deveria arrecadar US$ 4,6 bilhões [R$ 23,1 bilhões], recebeu apenas US$ 294 milhões [R$ 1,47 bilhão] – 6,4% do valor total necessário", explicou.
O secretário-geral também revelou que a maioria dos funcionários da ONU no país são afegãos.
"E muitos deles são mulheres. A atual proibição de mulheres afegãs trabalharem para a ONU e ONGs é inaceitável e coloca a vida das pessoas em risco", enfatizou.
No início de agosto de 2021, o Talibã intensificou sua ofensiva contra as forças do governo no Afeganistão, entrou em Cabul em 15 de agosto e declarou o fim da guerra no dia seguinte.
Nas duas últimas semanas desse mês, houve uma evacuação em massa de cidadãos dos países ocidentais e afegãos que haviam cooperado com eles do aeroporto de Cabul, controlado pelo Exército dos EUA.
Na noite de 31 de agosto, os militares dos EUA se retiraram do aeroporto de Cabul, encerrando quase 20 anos da presença militar dos EUA no Afeganistão.