Panorama internacional

Sul Global dificulta plano da Ucrânia na ONU para criar tribunal internacional, diz mídia brasileira

Para formar um novo tribunal, Kiev precisa de votos de dois terços dos 193 integrantes da Assembleia-Geral da ONU, mas até agora, na América Latina por exemplo, apenas quatro países apoiaram a iniciativa.
Sputnik
Desde o começo do ano, Kiev vem fazendo diversos movimentos para se aproximar do chamado Sul Global, com foco especial em países sul-americanos. O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, tenta flertar com líderes da região declarando publicamente que a Ucrânia tem a intenção de estabelecer maior contato com os mesmos.
Em fevereiro – bem antes da reunião do G7 na qual o líder não encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Zelensky propôs durante coletiva de imprensa que Lula o ajudasse a impulsionar uma cúpula Ucrânia-América Latina na região, conforme noticiado.
No entanto, desde então, a liderança ucraniana vem enfrentando grande resistência para mudar o status de neutralidade adotado por esses países diante do conflito, e, segundo a Folha de São Paulo, também encontra resistência para criação de um tribunal especial internacional por parte desses mesmos Estados.
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A mídia relata que para formar o novo tribunal, a Ucrânia precisa dos votos de dois terços dos 193 integrantes da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Neste momento, a proposta foi endossada por cerca de 40 países, entre os quais Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Por outro lado, são poucas as nações emergentes que apoiam abertamente a iniciativa. Na América Latina, por exemplo, apenas Costa Rica, Guatemala, Uruguai e Chile, diz o jornal.
O advogado à frente do Global Rights Compliance, Wayne Jordash, vê com pessimismo a chance de Kiev conseguir criar a corte especial, devido à falta de apoio do Sul Global. Entretanto, ressalta que "os ucranianos são persuasivos, ninguém achava que eles conseguiriam caças F-16 e tanques".
A mídia afirma que o governo brasileiro reconhece o mérito de buscar a responsabilização dos envolvidos no conflito, mas vê a criação de um tribunal especial neste momento como contraproducente.

Ao estabelecer uma corte cuja finalidade seria, na prática, condenar Putin, haveria ainda menos incentivos para que o presidente russo negocie o fim do conflito. Além disso, poderia deixar o chefe do Kremlin com a sensação de estar sendo encurralado, uma ideia ruim para uma potência nuclear, segundo o raciocínio em Brasília, escreve o jornal.

Segundo o especialista em relações internacionais, Ivan Timofeev, ouvido pela Sputnik, os países do Sul Global agirão de acordo com seus próprios interesses e não serão inequivocamente pró-ucranianos, apesar da ativa pressão informacional dos EUA e de Kiev em relação ao conflito.
"Ao se distanciarem do conflito ucraniano, não apoiando Kiev e, ao mesmo tempo, evitando qualquer apoio inequívoco à operação militar especial, eles deixam espaço de manobra e não se prendem a uma única posição. Portanto, é do interesse deles continuarem com sua política, ou seja, defender um acordo pacífico, mas evitar uma clara associação com a posição de Kiev ou do Ocidente", enfatizou.
No final de semana passado, aconteceu na capital dinamarquesa Copenhague uma cúpula promovida pelos EUA, União Europeia e Ucrânia com países do Sul Global para tentar uma aproximação com nações da região e mostrar a proposta de Kiev para paz.
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O Brasil e vários outros países compareceram, mas na visão de Timofeev o objetivo do evento – que contou até com a presença de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Joe Biden – foi "querer minar uma das teses promovidas pela Rússia relacionada ao fato de que há uma mudança fundamental na ordem mundial, onde o Sul Global está se fortalecendo gradualmente".
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