O ataque aos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2, responsáveis por levar gás natural da Rússia para toda a Europa através da Alemanha, completa um ano nesta terça-feira (26), com países ocidentais ainda se recusando a capitanear uma investigação aberta sobre o caso.
Primeiras reações
Logo que explosões nos gasodutos foram relatadas, países europeus chamaram o incidente de sabotagem. No dia seguinte ao ataque, o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, chegou a sugerir que Moscou teria envolvimento nos ataques. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ameaçou uma resposta ao que classificou de violação deliberada da infraestrutura energética da Europa, sem especificar quem estaria por trás do ataque.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, destacou que, no início de fevereiro de 2022, o presidente dos EUA, Joe Biden, fez ameaças contra o gasoduto. Na ocasião, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, publicou um vídeo, em 28 de setembro de 2022, em seu canal no Telegram, no qual Biden aparecia prometendo "acabar com o Nord Stream caso a Rússia invadisse a Ucrânia". O Departamento de Estado dos EUA, por sua vez, negou a hipótese de envolvimento de Washington nas explosões.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou as explosões como um ato de terrorismo internacional e informou que levaria o caso ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Versão Hersh
Em fevereiro deste ano, o famoso jornalista americano e vencedor do Prêmio Pulitzer Seymour Hersh publicou um artigo com uma investigação na qual, citando uma fonte, afirmou que explosivos foram implantados nos gasodutos por especialistas estadunidenses em junho de 2022, apoiados por mergulhadores noruegueses sob a cobertura do exercício BALTOPS 2022, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Segundo Hersh, a decisão de plantar os explosivos foi tomada por Biden, após nove meses de discussões com funcionários do governo envolvidos em questões de segurança nacional.
A investigação de Hersh concluiu que a CIA esteve diretamente envolvida na preparação da sabotagem e que a ordem para iniciar a operação foi dada pelo chefe da agência de inteligência, William Burns.
Poucos dias após a investigação de Hersh ser publicada, um integrante do exercício BALTOPS 2022 escreveu uma carta, em condição de anonimato, ao jornalista americano John Dygan.
Na carta, o remetente afirma que viu um helicóptero levar um grupo de americanos à paisana ao local para treinamento em 15 de junho de 2022, e que o grupo foi recebido pelo vice-almirante da 6ª Frota dos EUA e por outras pessoas à paisana.
Segundo o remetente, os membros do grupo trouxeram consigo equipamentos profissionais para mergulho em alto-mar, o que não é típico dos militares. Eles conversaram com o vice-almirante, depois embarcaram e ficaram afastados por um total de seis horas.
Acusações contra a Rússia
Em março, a revista on-line alemã T-online, que não tinha se envolvido anteriormente em investigações, anunciou um "rastreamento russo" nas explosões do Nord Stream, relatando que um militar russo estaria supostamente presente na área dos gasodutos quatro dias antes das explosões.
Maria Zakharova classificou a versão como uma farsa e chamou atenção para o fato de que, durante todo o tempo que havia passado desde as explosões, os serviços de inteligência dinamarqueses permaneceram calados sobre o fato de que eles, supostamente, teriam conhecimento de envolvimento da Rússia.
Investigação conjunta
Um mês depois da investigação de Hersh, o jornal americano The New York Times, o alemão Die Zeit e o britânico The Times publicaram, simultaneamente, os seus materiais sobre os prováveis autores dos ataques terroristas.
Segundo o The New York Times, que citou dados repassados por fontes norte-americanas, a sabotagem dos gasodutos poderia ter sido levada a cabo por algum grupo pró-ucraniano, que agiu sem o conhecimento das autoridades dos EUA.
O alemão Die Zeit trouxe uma matéria com detalhes adicionais, incluindo um iate particular, com nome Andromeda, que estaria envolvido no ataque. Tratava-se de um iate alugado por uma empresa sediada na Polônia. Segundo o texto, a empresa pertenceria a dois ucranianos. O artigo apontava para o envolvimento de seis pessoas na sabotagem ao gasoduto.
O britânico The Times afirmou que os serviços de inteligência europeus tinham conhecimento do nome do patrocinador privado da sabotagem. A identidade não foi divulgada pelos serviços de inteligência, mas foi apontado que era um ucraniano rico que supostamente não teria ligações com o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, nem com o governo ucraniano.
Poucos dias depois, a revista alemã Der Spiegel informou que o iate Andromeda foi usado na explosão, e outra publicação alemã, a Süddeutsche Zeitung, publicou a sua própria investigação, realizada em conjunto com outros meios de comunicação na Alemanha e na Europa, que expressou uma versão de envolvimento nas explosões de pelo menos dois ucranianos. No final de maio, a Der Spiegel informou que no iate Andromeda foram encontrados restos de um explosivo HMX adequado para uso subaquático.
Vladimir Putin classificou a versão sobre o envolvimento de ativistas ucranianos na explosão do Nord Stream como um absurdo completo.
Segundo o presidente russo, "uma explosão do tipo, de tal poder, com tal profundidade, só pode ser realizada por especialistas, apoiados por todo aparato de Estado, que dispõe de certas tecnologias".
A Rússia apelou pela criação de uma comissão internacional para investigar os atentados do Nord Stream.
Tais reivindicações vieram no contexto das dúvidas de Moscou de que a investigação dos países europeus seria limitada. O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, duvidou que os países que estavam a investigar os ataques terroristas no Nord Stream tornariam públicas as suas conclusões.
Ao mesmo tempo, segundo Dmitry Peskov, todos os apelos da Rússia para investigar os ataques terroristas contra o Nord Stream permaneceram sem resposta por parte de países ocidentais.
Situação atual
Nesta terça-feira (26), data que marca um ano das explosões, a Rússia convocou uma reunião no Conselho de Segurança da ONU. O primeiro vice-representante permanente da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, prometeu que a Rússia continuará a expor os ocidentais.
O embaixador russo na Alemanha, Sergei Nechaev, disse que a Rússia continuará a insistir em conduzir uma investigação transparente sobre a explosão dos gasodutos, e o embaixador russo na Dinamarca, Vladimir Barbin, destacou que uma investigação sobre sabotagem é necessária para evitar novos ataques a infraestruturas críticas.
Maria Zakharova, por sua vez, observou que Moscou pretende concluir a investigação do ataque terrorista no Nord Stream.
Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia prometeu empregar todos os esforços, inclusive no âmbito multilateral, para que a verdade se torne conhecida do público.