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Especialistas veem semelhanças entre atentados contra a Ponte da Crimeia e gasodutos Nord Stream

© Sputnik / Vitaly TimkivExplosão de ponte na Crimeia ocorreu em 8 de outubro de 2022
Explosão de ponte na Crimeia ocorreu em 8 de outubro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 08.10.2022
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Ataques a infraestruturas logísticas e vitais fornecidas pela Rússia, como à Ponte da Crimeia, neste sábado (8), e aos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2, no fim do mês passado, são similares na tática e na forma, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Para um deles, há, possivelmente, envolvimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do Ocidente no planejamento do ataque à Ponte da Crimeia hoje (8), embora ainda não se saiba ao certo quem teria o planejado e o executado. O atentado ocorreu por volta de 06h00, quando um caminhão explodiu e deixou sete vagões-cisterna em chamas.
No entanto o governo da Ucrânia admitiu envolvimento na explosão.
A sabotagem contra os gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2, na altura da ilha de Bornholm, na Dinamarca, já tinha levantado a desconfiança da participação do Ocidente, ato que a Rússia classificou de terrorismo internacional.
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Embora OTAN, EUA e Europa Ocidental estejam fornecendo armas, inteligência, soldados e treinamento à Ucrânia, os aliados ucranianos disseram que não iriam interferir no conflito durante a operação militar especial russa no país vizinho. Os EUA orientaram a Ucrânia a não atacar o território russo.
Mas, como lembra o historiador Angelo Segrillo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), em um conflito, "o que é dito nem sempre é cumprido".

"A Ucrânia provavelmente justificaria isso dizendo que a ponte não é uma infraestrutura civil da Rússia. Ela está em um território que a Ucrânia considera dela, a Crimeia, e considera algo legítimo por causa disso, a partir do seu ponto de vista. Acho que eles não vão limitar [ataques] pelo que a Rússia considera como território russo", indicou.

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A partir daí, ele enxerga similaridades entre os atentados contra a ponte e contra os gasodutos russos.

"Sim, são no sentido de que são ataques à infraestrutura vital: de transporte, no caso da Crimeia, e de fornecimento, no caso dos gasodutos. Estão sendo atacadas, realmente, essas infraestruturas que têm importância vital e logística. Então isso é uma nova estratégia", notou. "Mas não se sabe se os EUA participaram ativamente ou ajudaram logisticamente."

Para o cientista político Danilo Bragança, da Universidade Federal Fluminense (UFF), tratam-se de eventos que começaram a se repetir.
Ele lembra do assassinato da jornalista Daria Dugina, filha do filósofo Aleksandr Dugin, e de mais outros 20 cidadãos russos, além da prisão de outros representantes aliados ou associados ao governo do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

"Tudo isso vai representando uma contraofensiva ao que havia sido, digamos, acordado nos pactos com os Estados Unidos, que os EUA não se intrometeriam e não participariam. Mas, diante dos movimentos mais recentes, dos plebiscitos e da definição da integração das outras áreas, haveria uma contrapartida [pelo lado ucraniano]", disse.

Atacar a infraestrutura civil é problemático, explica, porque impacta diretamente na população que já tinha estabelecido um fluxo de trânsito entre a região da Crimeia e a região de Taman.
Assim como Segrillo, Bragança também vê um novo rumo tático com a explosão da Ponte da Crimeia.
"O ataque à infraestrutura civil da Rússia é um impacto importante e, talvez, uma mudança de paradigma, uma mudança de intenções, uma mudança de método por parte da Ucrânia."
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Ele aponta que muitas vozes nos Estados Unidos estão falando do provável envolvimento do país no ataque aos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2.

"São ações similares: ataque à infraestrutura. Também atende ao quesito alvo civil, porque o Nord Stream visa fornecimento de gás ao resto da Europa. Isso causa um impacto fundamental. Então existem similaridades. Atacar a infraestrutura também é uma forma de contra-atacar, de criar uma ofensiva, de criar algo em contrário", avaliou. "Muito provavelmente isso tem participação, no planejamento logístico e de inteligência, de gente ligada aos EUA e à OTAN. E não poder esquecer do básico disso tudo, que é o avanço indiscriminado da OTAN nessas regiões de segurança da Rússia, que sempre tiveram uma convivência dificultada por conta das relações históricas entre EUA e União Soviética, depois com a Rússia."

Embora alguns conspiracionistas tentem imputar a sabotagem dos gasodutos e da ponte à Rússia, o professor da UFF não vê sentido algum nessas "teses".

Escalada do conflito?

O atentado contra a Ponte da Crimeia ocorre uma semana após a definição acerca de territórios integrados à Rússia por meio de plebiscitos realizados nas regiões de Zaporozhie e Kherson e nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL).
Na percepção do cientista político da UFF, há a possibilidade de intensificação do conflito, uma vez que a região da Crimeia é considerada parte do território russo desde 2014, quando a península foi integrada.

"O que ocorre a partir daí é uma tentativa de uma determinada oposição para tentar ou mudar a opinião pública interna ou mudar a opinião pública externa. Isso causa um impacto. A recomendação de alguns especialistas de que os EUA não deveriam se envolver nesse conflito é uma dica importante, uma boa coisa para não escalar. O que acontece também é que a arquitetura de resposta por parte dos EUA pode ser uma tônica para as próximas semanas", avaliou.

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Bragança lembra que não só os EUA como a Europa Ocidental inteira forneceram armamento, pessoal, estrutura, logística e inteligência à Ucrânia.
Essa responsabilização também deve envolver a OTAN e desmascara a intenção primordial da aliança militar em relação ao avanço ao Leste Europeu, avalia.

"Talvez esse debate tenha se perdido ao longo do caminho por conta da extensão do processo, mas, na prática, o elemento primordial disso tudo é a tentativa de extensão e a expansão efetiva da OTAN para as regiões, digamos assim, mais próximas no espaço de segurança geopolítica que a Rússia sempre considerou como sendo uma margem importante. A OTAN não deveria estar nesses espaços onde está querendo se posicionar. É nesse aspecto que você deve pensar na responsabilização por parte da OTAN, dos EUA, mas também por conta desse primeiro detalhe, que é fundamental para a precipitação disso tudo, que é o avanço da OTAN em regiões que fazem parte desse espaço de segurança que a Rússia sempre definiu e sempre teve presença. Inclusive porque a presença grande de cidadãos russos justifica, de alguma forma, algum tipo de intervenção. E consulta popular a essas regiões sustenta [...] a transferência dos territórios e de parte da população da Ucrânia para a Rússia."

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Ele diz que, na prática, se trata de um território em disputa e que na verdade não é um território em disputa: é um território que, de alguma maneira, representa uma margem de segurança russa.
"A Rússia é sempre posta com a condição de desafiante do sistema internacional, tem sempre a condição de antagonista e nunca protagonista. Então quando você estabelece essas narrativas de que a Rússia é antagonista e o Ocidente é antagonista, o que se coloca é que toda ação russa é sempre uma resposta descabida, uma resposta desproporcional, uma ação ilegal", criticou Bragança.
Ele pondera, contudo, que todos os países têm os mesmos direitos em relação à soberania e à segurança territorial e partem dos mesmos princípios da autopreservação e da garantia dos seus próprios recursos.
É justo e legítimo, portanto, esse movimento de integração dos quatro territórios à Rússia, até porque ele é amparado por plebiscitos populares, argumenta.
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