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Especialistas: crescimento do PIB brasileiro surpreende, mas desafios estruturais permanecem

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil destacam indicativos de recuperação da economia, mas alertam para os desafios a serem superados para um crescimento constante e estável do país.
Sputnik
Os resultados dos últimos trimestres da economia brasileira vêm gerando expectativas positivas dos mercados internos e externos em relação ao crescimento do produto interno bruto (PIB).
Nesta quinta-feira (28), o Banco Central anunciou nova estimativa de crescimento, de 2,9%, para o ano de 2023, maior em comparação com a do relatório de junho, que foi de 2%. Na semana passada a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também subiu sua estimativa de crescimento do PIB do Brasil de 1,7% para 3,2%.
De acordo com economistas ouvidos pela jornalista Thaiana de Oliveira, da Sputnik Brasil, as expectativas de crescimento do PIB nacional são factíveis e devem-se, sobretudo, ao bom desempenho do agronegócio, a maiores gastos sociais e ao aumento do salário mínimo.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marco Antonio Rocha, a estimativa de aumento do PIB na casa dos 3% deve se concretizar:

"Boa parte do mercado já trabalhava com projeções em torno de 2,5%. Só o que chamamos de 'arrasto estatístico' já projeta esse crescimento para o fim do ano. Então é bem provável que ele aconteça. Tendo em vista o cenário que vínhamos acompanhando, de baixo crescimento da economia brasileira, principalmente em termos de comparação internacional, a projeção de 3,2% causa alento."

Colheita do final da safra de soja na fazenda Morro Azul, do grupo A. Maggi, que fica há 70 km do centro de Tangará da Serra (MT)

Agronegócio

A melhora foi significativa na projeção de quase todos os setores, destaca Rocha, mas a agricultura vem surpreendendo em termos do tamanho da safra e da produção em 2023 e impulsionando o crescimento de alguns segmentos no setor de serviços, como transporte, logística, armazenamento.
Para o economista e professor de finanças do Insper Alexandre Chaia, a agricultura deve continuar a impulsionar a economia nos próximos trimestres:

"O agro continua surpreendendo, continua crescendo em produtividade. No segundo trimestre, a quantidade de produção não caiu, mas, sim, o preço médio das commodities [registrou queda]. A participação dele no segundo trimestre foi menor, mas ainda é compatível com o crescimento, vai impulsionar a economia brasileira por mais tempo, tem ainda produtividade em área plantada, em nível de exportação, e a tendência é que o preço não caia, mas se mantenha."

Consumo das famílias e serviços

Ambos os especialistas também dão destaque para o setor de serviços e a recuperação do consumo das famílias como fatores positivos para a economia nestes últimos trimestres.

"Isso está relacionado à reestruturação de algumas transferências de renda, uma trégua da alta no preço dos alimentos, que possibilitaram maior renda para as famílias. Tudo isso tem ajudado também a aquecer o mercado interno e os serviços pessoais", avalia o professor da Unicamp.

Indústria e construção civil

Apesar de coadjuvantes no cenário atual, os setores industrial e da construção civil podem crescer ainda este ano se obtiverem incentivos eficazes e estratégicos, opinam os pesquisadores.
Chaia aposta na prometida reforma tributária para beneficiar o setor da indústria, que não tem crescido muito, embora se mantenha estável.
Já o setor da construção civil "ainda não decolou, mas ainda tem espaço".

Projeção PIB 2024

Para o ano que vem, o cenário mostra-se mais incerto.
Segundo o pesquisador da Unicamp, a insistência do governo em manter meta primária bem apertada pode ser um problema:

"Pode significar um ajuste fiscal pelo lado dos gastos, e não pela reestruturação das receitas, que é o que o governo vem perseguindo. Isso pode significar maior contração fiscal e menor disponibilidade de renda, e tudo isso pode causar uma certa frustração na expectativa de crescimento para 2024."

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A crise industrial é outro calcanhar de aquiles do país, de acordo com Rocha, para os planos de crescimento do ano que vem.
O investimento na indústria de transformação mostra-se urgente, segundo ele, inclusive para "estimular o crescimento dos segmentos do setor de serviços mais sofisticados e a geração de empregos de melhor qualidade", conclui ele.
O professor do Insper celebra o aumento da expectativa, mas pondera que os desafios ainda são grandes para a recuperação plena da economia:

"Vemos números melhores tanto de inflação quanto de crescimento, expectativa das famílias... Tudo isso justifica uma melhora do cenário, mas o governo ainda vive em crise institucional. A reforma tributária ainda é o objetivo, mas não andou. Os estouros de gastos ainda estão crescentes. Apesar de o governo ter sinalizado, pelo menos, com um compromisso de manutenção de gasto, a expectativa não é ainda de calmaria."

Para almejar a tranquilidade tão desejada, algumas sugestões: criação de novos ambientes positivos, implementação do arcabouço fiscal, da infraestrutura para saneamento, melhora do ambiente para criação de novos negócios e equilíbrio fiscal.
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