Panorama internacional

Elite dos EUA precisa de guerra no Oriente Médio para preservar hegemonia regional, diz economista

O ataque-surpresa do Hamas no dia 7 de outubro desencadeou a escalada mais mortífera do conflito israelo-palestino desde a Segunda Intifada. O economista americano Michael Hudson disse à Sputnik que os neoconservadores ameaçam transformar a crise em um novo momento de 11 de setembro para Washington.
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O conflito continua a intensificar-se, com as Forças de Defesa de Israel (FDI) recebendo autorização, nesta quinta-feira (19), para entrarem na Faixa de Gaza. Nas palavras do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a intenção é "eliminar o Hamas da face da Terra".
Até o momento, quase 5 mil pessoas morreram e mais de 17 mil ficaram feridas, muitas delas mulheres e crianças.
Ontem (18) os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que apelava por "pausas humanitárias" nos bombardeios para o fornecimento de ajuda aos residentes de Gaza.
Na visão do economista norte-americano e antigo analista de Wall Street Michael Hudson, o próprio conflito poderia muito bem servir aos planos mais amplos dos neoconservadores estadunidenses para o Oriente Médio.
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Do seu ponto de vista, a guerra apenas mascara uma tentativa dos EUA de "atacarem a Síria e o Irã" e "assumirem todo o Oriente Próximo. É disso que se trata toda esta luta nominalmente sobre Israel", acredita Hudson.

"Ouvi generais americanos falarem com o principal conselheiro econômico do [primeiro-ministro israelense, Benjamin] Netanyahu, Uzi Arad, quando trabalhávamos juntos no instituto [Hudson]. Os generais lhe diriam: 'Você é nosso porta-aviões que desembarcou lá. Estamos usando Israel. Podemos sempre usar isso para garantir que controlemos o Oriente Próximo e os seus fornecimentos de petróleo.' Bem, isso foi por volta de 1974, há quase 50 anos. E ainda é a mentalidade dos Estados Unidos", disse Hudson à Sputnik.

O economista acrescentou que Washington "quer fazer com a Síria e o Irã o que fizeram ao Iraque". Hudson apontou para a sabedoria recente que se agita nessa direção por parte de neoconservadores: desde o principal republicano do Senado, Mitch McConnell, até a candidata presidencial e neoconservadora de longa data do Partido Republicano Nikki Haley.
Apontando para o rápido colapso da ordem "baseada em regras internacionais" liderada pelos EUA, Hudson sublinhou que o mundo hoje está assistindo à rápida "militarização" daquilo que é fundamentalmente um conflito econômico centrado no neoliberalismo e nas tentativas norte-americanas de manter a sua hegemonia sobre outros países.
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'Arriscando desencadear a Terceira Guerra Mundial'

Comentando o esforço de países como a Rússia, a China e o Irã para criar uma nova Eurásia, multipolar e interligada, Hudson enfatizou que os EUA estão intencionalmente desencadeando e escalando conflitos regionais em meio à sua perda global de poder.

"Os Estados Unidos estão deliberadamente arriscando desencadear a Terceira Guerra Mundial, porque percebem que estão perdendo o seu poder militar. A OTAN está literalmente sem armas neste momento por causa do conflito na Ucrânia. O sistema de segurança nacional estadunidense está pensando: 'Se vamos ter uma guerra, uma Terceira Guerra Mundial, nunca estaremos em uma posição mais forte do que agora. Nossa posição está enfraquecendo, então se vamos explodir o mundo, vamos fazê-lo agora, porque vamos perder ainda mais se fizermos isso no futuro", disse Hudson, delineando o processo de pensamento neoconservador.

Na visão do economista, os neoconservadores na Casa Branca pensam a ação no Oriente Médio da seguinte forma: "Primeiro vamos para o Iraque, depois para a Síria e depois para o Irã. É onde pretendemos tudo isso."
Ainda segundo Hudson, eles explicaram tudo em relatórios de segurança nacional. "Esse é um plano muito consciente que os principais neoconservadores, o grupo da [subsecretária de Estado] Victoria Nuland, elaboraram. E estão, na verdade, tentando desencadear tudo isso", explicou Hudson, apontando os planos norte-americanos para "garantir" o petróleo iraniano e dar sobrevida ao atual sistema unipolar explorador.
Foi ventilado pela mídia estadunidense durante esta semana que o governo Biden está se preparando para fazer um pedido de financiamento suplementar de US$ 100 bilhões (R$ 505 bilhões) ao Congresso para agir nos pontos críticos em Israel, Ucrânia e Taiwan, além da fronteira EUA-México. Kiev e Tel Aviv seriam contemplados com cerca de US$ 60 bilhões (R$ 303 bilhões) e US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões), respectivamente.
A tentativa de interligar o financiamento surge no meio de uma oposição crescente do Partido Republicano na Câmara dos Representantes a continuar financiando o atoleiro da Ucrânia, bem como de apelos crescentes entre republicanos rebeldes para dividir os projetos de lei em questões individuais.
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E embora Washington possa ser capaz de declarar uma "guerra em três frentes", Hudson diz que "também não há dúvida de que perderá" — seja na Ucrânia, em uma nova guerra de agressão no Oriente Médio ou em uma batalha contra a China sobre Taiwan ou o mar do Sul da China.
O analista lembrou que durante a Guerra do Vietnã trabalhava com o estrategista militar Herman Kahn, no Instituto Hudson, e se encontrava com os principais generais que planejavam a guerra no país asiático.
"Eu jantava com eles, e eles pareciam estar liderando uma marcha pela paz, dizendo 'Não podemos vencer, isso é horrível, não há como sairmos'. Eles sabiam que estavam perdendo e que foram os políticos que dominaram o Exército que tiveram essa ilusão de domínio mundial […]. Você está tendo a mesma coisa hoje. O Exército sabe que os EUA perderão, mas os políticos dizem 'Nós somos a América, vamos sempre vencer!'. É quase um fervor religioso o que encontramos por parte do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e da CIA, o Estado profundo. Eles realmente acreditam que Deus está do lado deles. Isso é o que havia na Idade Média, quando cada país pensava que Deus estava do seu lado. Mas isso não é a mesma coisa que estratégia militar", concluiu Hudson.
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