O conflito continua a intensificar-se, com as Forças de Defesa de Israel (FDI)
recebendo autorização, nesta quinta-feira (19), para entrarem na Faixa de Gaza. Nas palavras do primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu, a intenção é "eliminar o Hamas da face da Terra".
Até o momento, quase 5 mil pessoas morreram e mais de 17 mil ficaram feridas, muitas delas mulheres e crianças.
Ontem (18)
os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que apelava por "pausas humanitárias" nos bombardeios para o fornecimento de ajuda aos residentes de Gaza.
Na visão do economista norte-americano e antigo analista de Wall Street Michael Hudson, o próprio conflito poderia muito bem servir aos planos mais amplos dos neoconservadores estadunidenses para o Oriente Médio.
Do seu ponto de vista, a guerra apenas mascara uma tentativa dos EUA de "atacarem a Síria e o Irã" e "assumirem todo o Oriente Próximo. É disso que se trata toda esta luta nominalmente sobre Israel", acredita Hudson.
O economista acrescentou que Washington "quer fazer com a Síria e o Irã o que fizeram ao Iraque". Hudson apontou para a sabedoria recente que se agita nessa direção por parte de neoconservadores: desde o principal republicano do Senado, Mitch McConnell, até a candidata presidencial e neoconservadora de longa data do Partido Republicano Nikki Haley.
Apontando para o rápido colapso da ordem "baseada em regras internacionais" liderada pelos EUA, Hudson sublinhou que o mundo hoje está assistindo à
rápida "militarização" daquilo que é fundamentalmente um conflito econômico centrado no neoliberalismo e nas tentativas norte-americanas de manter a sua hegemonia sobre outros países.
Comentando o esforço de
países como a Rússia, a China e o Irã para criar uma nova Eurásia, multipolar e interligada, Hudson enfatizou que os EUA estão intencionalmente desencadeando e escalando conflitos regionais em meio à sua perda global de poder.
Na visão do economista, os neoconservadores na Casa Branca pensam a ação no Oriente Médio da seguinte forma: "Primeiro vamos para o Iraque, depois para a Síria e depois para o Irã. É onde pretendemos tudo isso."
Ainda segundo Hudson, eles explicaram tudo em relatórios de segurança nacional. "Esse é um plano muito consciente que os principais neoconservadores, o grupo da [subsecretária de Estado]
Victoria Nuland, elaboraram. E estão, na verdade, tentando desencadear tudo isso", explicou Hudson, apontando os planos norte-americanos para "garantir" o petróleo iraniano e dar sobrevida ao atual sistema unipolar explorador.
Foi ventilado pela mídia estadunidense durante esta semana que o governo Biden está se preparando para fazer um pedido de financiamento suplementar de US$ 100 bilhões (R$ 505 bilhões) ao Congresso para agir nos pontos críticos em Israel, Ucrânia e Taiwan, além da fronteira EUA-México. Kiev e Tel Aviv seriam contemplados com cerca de US$ 60 bilhões (R$ 303 bilhões) e US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões), respectivamente.
A tentativa de interligar o financiamento surge no meio de uma oposição crescente do
Partido Republicano na Câmara dos Representantes a continuar financiando o atoleiro da Ucrânia, bem como de apelos crescentes entre republicanos rebeldes para dividir os projetos de lei em questões individuais.
E embora Washington possa ser capaz de declarar uma "guerra em três frentes", Hudson diz que "também não há dúvida de que perderá" — seja na Ucrânia, em uma
nova guerra de agressão no Oriente Médio ou em uma batalha contra a China sobre Taiwan ou o mar do Sul da China.
O analista lembrou que durante a Guerra do Vietnã trabalhava com o estrategista militar Herman Kahn, no Instituto Hudson, e se encontrava com os principais generais que planejavam a guerra no país asiático.
"Eu jantava com eles, e eles pareciam estar liderando uma marcha pela paz, dizendo 'Não podemos vencer, isso é horrível, não há como sairmos'. Eles sabiam que estavam perdendo e que foram os políticos que dominaram o Exército que tiveram essa ilusão de domínio mundial […]. Você está tendo a mesma coisa hoje. O Exército sabe que os EUA perderão, mas os políticos dizem 'Nós somos a América, vamos sempre vencer!'. É quase um fervor religioso o que encontramos por parte do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e da CIA, o Estado profundo. Eles realmente acreditam que Deus está do lado deles. Isso é o que havia na Idade Média, quando cada país pensava que Deus estava do seu lado. Mas isso não é a mesma coisa que estratégia militar", concluiu Hudson.