O local foi o epicentro da revolta de 2011, conhecida como Primavera Árabe, quando foi derrubado o governo do ditador Hosni Mubarak. Também há protestos em outras partes do país contrários aos fortes bombardeios contra a Faixa de Gaza.
Mais de 5,5 mil pessoas já morreram por conta do conflito, segundo autoridades israelenses e palestinas. Os ataques ao território, que reúne quase 2,3 milhões de habitantes, já dura 14 dias.
O apoio do mundo árabe aos palestinos se intensificou ainda mais após um ataque na terça (17) atingir um hospital em Gaza e deixar cerca de 500 mortos. Enquanto o Hamas acusa Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu garantiu que um braço do movimento foi responsável pelo bombardeio.
Considerados ilegais no Egito, os protestos públicos foram autorizados por Abdel Fattah al-Sisi que, durante a visita do chanceler alemão Olaf Scholz, na quarta-feira (18), disse que poderia "apelar ao povo egípcio para manifestar a sua rejeição" às ações de Israel contra o povo de Gaza. Além disso, o diplomata veria "milhões de egípcios" nas ruas.
Para analistas, o presidente do país busca aproveitar a onda de raiva que move a população, por conta da intensidade dos ataques de Israel. País que faz fronteira com a Faixa de Gaza, o Egito é o mais populoso do mundo árabe, com quase 110 milhões de habitantes.
"Há um desejo de controlar a raiva pública", afirmou à AFP Mustapha Kamel al-Sayyid, professor de política da Universidade do Cairo.
Ainda chegou a ser publicada uma lista de praças e outros locais públicos onde os protestos poderiam ser realizados. Porém, a Praça Tahrir não estava incluída. "Não estamos aqui para dar um novo mandato a ninguém. É uma demonstração genuína", gritava a multidão. O Egito tem eleições marcadas para dezembro.
Cúpula da Paz em Cairo
No sábado (21), há expectativa para a realização da Cúpula da Paz em Cairo com presidentes e representantes de vários países para discutir o conflito, um dos mais intensos do mundo nas últimas décadas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, já está no país e pressiona por uma saída para a crise humanitária que afeta a Faixa de Gaza, cujo estoque de alimentos pode acabar em menos de duas semanas.
O presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, também deve participar do encontro, que vai reunir ministros, reis, presidentes e autoridades da União Europeia, Jordânia, Bahrein, Kuwait, Itália, Espanha, Brasil, Grécia, Chipre, África do Sul, Alemanha, França, Japão, Reino Unido e Noruega.
Assembleia Geral da ONU
Na sequência, uma sessão emergencial da Assembleia Geral da ONU foi convocada para a próxima segunda-feira (23) — a entidade reúne 193 países-membros. Além de discutir a escalada do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, o encontro vai falar sobre o veto dos Estados Unidos à resolução brasileira no Conselho de Segurança, que previa a criação de um corredor humanitário no território e, também, um cessar-fogo.
Desde o início do conflito, Gaza sofre um duro bloqueio por terra, ar e mar por parte de Israel, o que impede a chegada de alimentos e até água. A energia elétrica também foi cortada. A única fronteira que não é controlada pelos israelenses, no Egito, sofre com bombardeios e segue fechada por conta da guerra. Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), das Nações Unidas, mais de três mil toneladas de insumos básicos aguardam para entrar no território.