Por meio de declarações desse tipo, Biden consegue enganar somente aqueles mais incautos ou os que ainda acreditam no tal Ocidente de princípios e valores, cujo "humanismo" resta claramente demonstrado pelo apoio às atrocidades cometidas atualmente por Israel em Gaza. Primeiramente, a insidiosa comparação de Putin ao Hamas feita por Biden tem somente um único objetivo: justificar perante o eleitorado americano a continuidade do apoio político, financeiro e militar da Casa Branca tanto a Israel quanto à Ucrânia.
Afinal, vale lembrar que em outra de suas entrevistas recentes, Biden afirmou triunfalmente que os Estados Unidos são capazes de dar conta de duas guerras ao mesmo tempo (referindo-se então à Ucrânia e a Israel) e de quantas mais forem necessárias, uma vez que os Estados Unidos são "a nação mais poderosa da história da humanidade". Por trás desses discursos, encontra-se o insaciável desejo de manter a hegemonia americana no mundo, assim como também o de atender aos interesses de seu complexo militar industrial, cujos lucros advêm justamente da proliferação de guerras e da venda de armas e equipamentos aos aliados de Washington. Ao mesmo tempo, líderes senis como Joe Biden e seu tresloucado Partido Democrata se escondem atrás de bandeiras coloridas e de sua pseudopreocupação com o meio ambiente e o futuro da "humanidade" apenas para disfarçar uma política externa voltada para a destruição de nações inteiras (Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e, agora, a Palestina). Mas fiquemos todos tranquilos. Afinal, tudo isso acontece em nome da defesa da "democracia" e dos direitos humanos, não é mesmo?
Fato é que tanto o Partido Democrata como o próprio Joe Biden são exímios em esconder as reais intenções por trás de seus discursos, algo que os republicanos já não fazem com o mesmo esmero. Ao menos, estes últimos não podem ser acusados de serem dissimulados. Tanto os "malvados" (ou retrógrados) republicanos quanto os "progressistas" do Partido Democrata, no entanto, sempre representaram um mesmo objetivo: a manutenção da dominância global dos Estados Unidos como o país que deve ditar aos demais como viver e conduzir seus assuntos domésticos. Para isso, vez ou outra basta iniciar alguma guerra por procuração contra o adversário geopolítico do momento ou, mesmo, derrubar algum governo legítimo apenas por não se subordinar aos ditames de Washington.
Diante de tudo isso, alguém poderia se perguntar: quantos ucranianos ou palestinos precisam morrer para que os Estados Unidos estejam satisfeitos com o resultado de sua intervenção política no Leste Europeu e no Oriente Médio? A resposta é: pouco importa, pois para Washington podem morrer quantos forem necessários. Na Ucrânia, os americanos usam o país para enfraquecer a posição regional de Moscou e para aperfeiçoar seu experimento antirrusso no continente europeu por meio do fortalecimento e da expansão de blocos militares como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). No Oriente Médio, Washington deseja manter Israel como sua "testa de ferro", a fim de que os recursos energéticos da região continuem ao alcance de suas mãos.
Para quem achava que essa demência toda termina por aqui, está inteiramente enganado. É agora que vem a cereja do bolo! E ela consiste na enfeitada retórica em torno da luta entre o bem e o mal, entre as chamadas "democracias" do Ocidente e os autoritarismos de Rússia e China. Os americanos têm muita dificuldade em trocar o disco, como pode se notar. Ora, desde a década de 1950 que os Estados Unidos começaram com essa conversa para "anglo-saxão" dormir, ao resumirem de forma simplória as relações internacionais a uma luta entre o "mundo livre" e as "ditaduras". Ainda assim, muitas pessoas, mesmo depois da adolescência, continuam a acreditar nessa história. Que defesa é essa do "mundo livre" que precisa se basear na ocupação de diversos países (Alemanha e Japão mandam lembranças) e na manutenção de mais de 800 bases militares ao redor do globo? Qualquer adulto já sabe bem a resposta.
No mais, ao comparar Putin ao Hamas e chamá-los de o "mal puro", Biden apenas repete a mesma retórica de Ronald Reagan, que em meados dos anos 1980 tachou a União Soviética de "império do mal", enquanto os Estados Unidos seriam a "cidade iluminada na colina". Que bonito! Então temos também a falácia de Biden de que "garantir que Israel e a Ucrânia tenham sucesso é vital para a segurança nacional da América". Afinal, ambos os países são democracias a lutar contra a tirania russa e a do Hamas, correto? Bem, essa é a hora de tirar as crianças da sala.
Vladimir Zelensky, o vulgo "herói do Ocidente", já baniu mais de uma dezena de partidos de oposição na Ucrânia, eliminou toda a mídia independente, ameaça não mais realizar eleições no país, celebra heróis nazistas ao lado de líderes como Justin Trudeau (que usa meias coloridas, aliás), fere os direitos de minorias em seu próprio território e persegue a liberdade religiosa da população ortodoxa ucraniana. Que tal essa democracia? Do outro lado temos Israel, que mantém cerca de 2 milhões de palestinos enclausurados em Gaza, "maior prisão a céu aberto do mundo", e que durante décadas vem estabelecendo assentamentos ilegais na Cisjordânia. Como se não bastasse, desde o dia 7 de outubro Israel tem feito de tudo para empurrar os palestinos para o Egito e para a Jordânia, no intuito de extinguir a questão palestina de uma vez por todas, além de não demonstrar qualquer consideração pelas perdas humanas causadas pelos bombardeios em Gaza. Que tal mais essa democracia? Talvez esteja bom para o paladar ocidental e de Joe Biden.
Para finalizar, democracia tem a ver com respeitar o resultado de eleições populares, certo? Ops, errado. Respeitar o resultado de eleições para os Estados Unidos só vale para quando o líder eleito atende aos interesses de Washington, senão não. Do contrário, qualquer governante que se coloque frontalmente contra o império americano corre o risco de ser derrubado a mando da Casa Branca com a ajuda da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês). Exemplos não faltam, como mostram os golpes de Estado orquestrados pelos Estados Unidos e seus asseclas no Irã (1953), na Guatemala (1954), no Brasil (1964), no Congo (1965), no Chile (1973), Panamá no (1989), em Honduras (2009) e, como não poderia deixar de ser, na Ucrânia em 2014, dando início a uma crise sem fim no país.
Tolo quem acha que Biden ou a administração americana esteja realmente preocupada com o que acontece no Leste Europeu ou na Faixa de Gaza. A única coisa com a qual os Estados Unidos se preocupam é em alimentar ambos os conflitos pelo máximo de tempo que for possível. No mais, pelo menos a recente comparação feita por Biden entre Putin e o Hamas serviu para tirar a dúvida dos psiquiatras na Casa Branca.
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