Panorama internacional

Jornalista iraquiano que jogou os sapatos em Bush diz que hegemonia dos EUA deve acabar (VÍDEO)

Em 14 de dezembro de 2008, o jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi atirou seu sapato contra o então presidente dos EUA George W. Bush durante coletiva com o premiê iraquiano Nouri al-Maliki. Seus sapatos se tornaram um símbolo contra a política dos EUA no Oriente Médio e contra a guerra no Iraque, que a essa altura já estava em seu quinto ano.
Sputnik
Em entrevista exclusiva à Sputnik, al-Zaidi descreveu como esse acontecimento histórico afetou a sua carreira, por que suas ações se tornaram um símbolo de resistência à política dos Estados Unidos para o Oriente Médio e a quais líderes e políticos de hoje ele está pronto para estender o gesto oposto: um aperto de mão.

Atirar sapatos no presidente Bush foi um ponto de virada na vida do jovem correspondente do canal de televisão iraquiano Al-Baghdadiyah. Ao jogar o sapato, Muntadhar al-Zaidi também gritou: "Isso é para você, cachorro, um beijo de despedida do povo iraquiano. Isso é para as viúvas e órfãos, para todos aqueles que morreram no Iraque."

'Minha vida mudou muito'

O tribunal iraquiano condenou al-Zaidi a três anos de prisão por insultar um chefe de Estado estrangeiro durante uma visita oficial ao país. O tribunal de recurso reduziu a pena para um ano de prisão. Em setembro de 2009, após nove meses de prisão, al-Zaidi foi libertado por bom comportamento. Depois, tornou-se um verdadeiro herói no mundo árabe e muçulmano.

"Minha vida mudou muito depois que joguei meu sapato em George Bush. Isso colocou muita responsabilidade sobre meus ombros. O povo iraquiano esperava de mim não apenas uma oposição simbólica, mas também uma oposição real à ocupação norte-americana. Foi assim que acabei entre ativistas dos direitos humanos. Me tornei a voz não só daqueles que sofreram nas mãos da ocupação dos EUA, mas também de todos aqueles oprimidos pelas ações das autoridades iraquianas corruptas, instaladas pelos norte-americanos. Os meus compatriotas ainda me olham como um guerreiro que sempre permanece na linha de frente", disse al-Zaidi.

Homem que atirou sapatos contra George W. Bush concorre ao parlamento no Iraque (VÍDEO)

'Ninguém simpatizou conosco quando os EUA ocuparam o Iraque'

O jornalista iraquiano observou também que a atual situação na Faixa de Gaza é semelhante a quando as tropas norte-americanas ocuparam o Iraque. Segundo ele, a hegemonia dos Estados Unidos é culpada de tudo, pois escolhe os seus favoritos e quer que o mundo inteiro apoie suas ações.

"Vimos a simpatia dos EUA e de todo o Ocidente pela Ucrânia, embora ninguém tenha simpatizado conosco quando os Estados Unidos ocuparam o Iraque. Não encontramos simpatia semelhante do Ocidente pela Palestina e por Gaza, onde milhares de civis, incluindo mulheres e crianças, foram mortas. Quando a ocupação dos EUA matou pessoas no Afeganistão, tal como aconteceu no Iraque, ninguém no Ocidente simpatizou com elas. Isso resulta em uma política hipócrita e falsa de dois pesos e duas medidas."

Além disso, Muntadhar al-Zaidi também sugeriu que "chegou a hora de criar uma união entre o Hemisfério Oriental e o Médio Oriente".

"É hora de deixar para trás o regime colonial dos Estados Unidos, que ainda traz consigo assassinatos, intimidação, colonialismo e humilhação dos povos. Então, acho que é hora de mudar a ordem mundial. A hegemonia dos EUA deve ser interrompida. Não precisamos mais do Ocidente", acrescentou.

Políticos para apertar a mão

Um sapato jogado é um sinal de extremo desrespeito na cultura árabe. No entanto, há vários políticos e líderes mundiais a quem Mundtadhar al-Zaidi está disposto a estender um aperto de mão.

"A todos os políticos, presidentes e governantes que apoiam a resolução dos nossos problemas no Oriente Médio, gostaria de apertar a mão deles. Estou pronto para considerar como meu amigo um líder mundial que apoie Gaza e fale abertamente sobre os crimes do Exército israelense. Não estou pronto para dizer nomes específicos, mas todos esses políticos se opõem ao imperialismo norte-americano. Para eles, toda a gratidão, todo o apoio e respeito de minha parte", concluiu.

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