"O Celso Amorim está falando a verdade. Qualquer reunião que envolva blocos internacionais sem a Rússia não tem exatamente muito sentido", afirmou Fred Leite Siqueira Campos, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Rússia (Prorus).
O Rio de Janeiro será a sede do próximo encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo, além da União Europeia (UE) e da União Africana. As reuniões ocorrerão em novembro de 2024 na capital fluminense. O Brasil assumiu a presidência do grupo em dezembro deste ano.
Amorim
concedeu uma entrevista ao UOL ressaltando a importância da Rússia e considera que a ausência do país torna a conferência incompleta.
A participação de Putin na Cúpula do G20, que
será sediada no Brasil no segundo semestre de 2024, ainda não é certa.
Uma eventual presença de Putin na
Cúpula do G20, além de sua genuína importância de representação para o Sul Global, conforme afirmou o professor, demonstrará ao mundo uma posição firme por parte do Brasil.
"Espero que o governo brasileiro tenha pulso o suficiente para fazer com que a sua vontade seja colocada na ordem do dia e em prática."
Por outro lado, Siqueira Campos admite que bancar a posição não será tarefa fácil. "Não podemos ser ingênuos o suficiente para não perceber que o assim chamado Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, vai pressionar de maneira violenta e certamente até vai fazer protestos e tudo mais, mas o mundo é assim mesmo."
Fred Leite Siqueira Campos nota que, ao longo da última meia década, talvez um pouco mais, a posição do Brasil é independente em relação ao posicionamento russo.
"Se você pegar os países do BRICS, o país menos alinhado às questões
relacionadas à Rússia foi o Brasil", disse Siqueira Campos.
Isso acontece, segundo o pesquisador, porque entre todos os países que compõem o BRICS, o Brasil é o país mais dependente política e economicamente dos países do Ocidente.
A dependência citada pelo professor é um dos percalços para o Brasil se colocar de maneira mais independente no cenário internacional.
Para mitigar essa dificuldade, Siqueira Campos sugere uma "aproximação verdadeira" em termos econômicos, políticos, tecnológicos com os países do BRICS — inclusive contando com os países que vão compor o bloco expandido.
Já a postura neutra do Brasil em relação aos assuntos globais que interessam à Rússia é vista como um aspecto positivo pelo pesquisador. "A postura brasileira no cenário internacional é, historicamente, uma postura de ser mediador, de sempre buscar a paz, de não tomar, ao menos explicitamente, nenhum lado. Isso tem sido a tônica, entre aspas, desde sempre da política externa brasileira."
Para Siqueira Campos, a presença russa, de uma maneira ou de outra, deve acontecer por conta da relevância do país.
Segundo ele, quaisquer discussões sem a presença da Rússia inviabilizariam avanços sobre o assunto nas relações internacionais.
Como a Rússia é um ator importante no cenário, o professor acredita que, caso Putin não venha, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, ou outro representante do alto escalão do governo russo deverá
comparecer à Cúpula.