Qual é o objetivo da defesa do Brasil?
"Esse tipo de debate não é muito comum no Brasil, mas à medida que ele vai sendo colocado, vamos tomando conhecimento da importância do tema para qualquer Estado nacional soberano. O quadro internacional é multipolar, em que o uso da força como instrumento da política internacional tem se mostrado cada vez mais como uma tendência. Eu acredito que esse é um tema que talvez venha a fazer mais parte do debate nacional. A comunidade brasileira nunca se preocupou muito sobre como estamos capacitados para enfrentar essas demandas", argumenta o especialista.
"Temos pouco menos de dez anos para alcançar esse objetivo que, em termos de tecnologia no mercado de defesa, pode mudar muito. E é importante que a gente caminhe em algumas, como as ligadas a sistemas de propulsão, sensoriamento remoto, inteligência artificial, veículos autônomos, que devem avançar nos próximos anos. Mas o fato é que novas demandas irão surgir, o que torna essa meta, de fato, ainda mais ambiciosa", explica o coronel.
Como funciona o sistema de defesa do Brasil?
"Com isso, a relação com a indústria [de defesa] passa a ser algo essencial. É essa tríplice hélice, que são as demandas das Forças Armadas, do setor produtivo — já que o Brasil tem um parque considerável na área de defesa —, e também o setor acadêmico, com a capacidade de produzir conhecimento de tecnologia", resume.
"Nesse sentido, qualquer tipo de esforço no planejamento estratégico de longo prazo é muito bem-vindo […]. O Brasil tem esse potencial, basta ver a capacidade industrial brasileira, as ilhas de excelência que nós temos em universidades de ponta. Como toda meta, também é uma aspiração política", pontua.
Qual é o poder militar do Brasil no mundo?
"O cerceamento tecnológico é uma realidade, especialmente entre grandes potências e potências regionais. E o Brasil possui a estatura geopolítica, naturalmente, de uma potência. Ou seja, não há saída para um país que quer realmente ter autonomia estratégica se não buscar desenvolver a sua capacidade na tecnologia de defesa. E eu acho que é isso que o Brasil tem mostrado, essa busca de uma soberania da sua produção industrial, especialmente a partir de 2008", conta.
"A história do Brasil mostra o quão difícil é depender da tecnologia entre as suas parcerias estratégicas. O tabuleiro internacional traz, hoje, outra preocupação, que é o risco geopolítico das parcerias. O Brasil não tem inimigos internacionais, nem pretende, e eu acho que essa postura de equidistância em relação às grandes potências me parece a melhor das estratégias", conclui.
Qual é o papel do setor de defesa na economia do Brasil?
"Temos em São Paulo todo aquele parque industrial; somos um dos maiores produtores, por exemplo, de grafeno. Eu estive na Mackenzie, agora no final do ano passado também, vendo o potencial que temos utilizando as folhas planas de átomos de carbono com resistência e condutividades espetaculares [importantes para o desenvolvimento tecnológico]. Por isso, encontrar quais são as demandas e investir a partir de uma aproximação dos setores produtivo e da academia."