A produção industrial da Alemanha caiu pelo sétimo mês consecutivo, atingindo 1,6% negativo em dezembro, face a 0,2% negativo em novembro, de acordo com dados divulgados na quarta-feira (7) pelo Gabinete Federal de Estatísticas da Alemanha. Entre os setores mais afetados está o da indústria química, que enfrentou perdas colossais de 7,6% — o seu pior desempenho desde 1995. A construção civil sofreu um declínio de 3,4%.
A mídia empresarial considerou os dados como um sinal de sérios problemas na economia alemã. A Bloomberg publicou um artigo intitulado "Os dias da Alemanha como superpotência industrial estão chegando ao fim", citando a crise energética decorrente da perda de fornecimento de energia russa como a gota d'água que quebrou a espinha da potência econômica europeia.
"Não há muita esperança, para ser honesto", disse Stefan Klebert, diretor executivo do GEA Group AG, uma empresa de máquinas industriais com sede em Dusseldorf, à mídia. "Não tenho a certeza se conseguiremos interromper essa tendência. Muitas coisas teriam que mudar muito rapidamente", garantiu o CEO. A empresa que Klebert administra tem quase 150 anos, sobrevivendo às crises do século XX, desde as duas guerras mundiais até a depressão de 1929. Agora, ela e os seus mais de 18 mil funcionários enfrentam um futuro incerto.
"Apesar da motivação de nossos funcionários, chegamos a um ponto em que não podemos exportar pneus de caminhão da Alemanha a preços competitivos", disse Maria Rottger, chefe de operações do Norte da Europa na gigante francesa Michelin, fabricante de pneus. "Se a Alemanha não conseguir exportar de forma competitiva no contexto internacional, o país perde uma das suas maiores forças", observou.
Cerca de 5.000 dos mais de 66.000 funcionários europeus da Michelin estão na Alemanha, Áustria e Suíça. No final de 2023, a empresa anunciou cortes de mais de 1.500 empregos nas suas operações alemãs. A Goodyear, gigante norte-americana de pneus, anunciou o fechamento de duas fábricas no país, cortando 1.750 empregos.
"Não é preciso ser pessimista para dizer que o que estamos fazendo neste momento não será suficiente", disse Volker Treier, chefe de comércio exterior das câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha. "A velocidade da mudança estrutural é vertiginosa."
Dezenas de outras grandes empresas alemãs foram afetadas pela crise energética, incluindo o gigante químico europeu BASF SE, que cortou recentemente 2.600 postos de trabalho, e a empresa química Lanxess AG, sediada em Colônia, que demitiu 7% da sua força de trabalho.
As empresas alemãs passaram anos soando o alarme sobre problemas de infraestrutura, envelhecimento da mão de obra, burocracia, custos econômicos associados à pandemia de COVID-19 e queda do investimento na educação e serviços públicos. A crise nos laços econômicos com a Rússia, combinada com os esforços do "aliado" transatlântico de Berlim para retirar os fabricantes industriais de alta tecnologia da Alemanha através de subsídios generosos, e a crescente concorrência da China, foram combinados para criar uma tempestade perfeita de mal-estar industrial sem precedentes.
"Já não somos competitivos", admitiu o ministro da Economia alemão, Christian Lindner, em um evento empresarial em Frankfurt, na segunda-feira (5). "Estamos ficando mais pobres porque não temos crescimento. Estamos ficando para trás."
Com Berlim cortando o fornecimento de gás natural barato e fiável proveniente da Rússia em 2022, as empresas alemãs têm agora de pagar uma das contas de energia mais elevadas do bloco, com os preços da eletricidade para consumidores empresariais a ultrapassar os 22 centavos de euro (R$ 1,17) por quilowatt-hora (kwh), acima dos € 0,15 (R$ 0,80) por kwh em 2022 e apenas € 0,09 (R$ 0,48) por kwh em 2021.
"A indústria continua sendo um obstáculo significativo ao crescimento", disse a economista da Capital Economics, Franziska Palmas, sobre os dados da produção industrial desta semana. "Achamos que isso vai continuar ao longo de 2024."
Problema sistêmico
Os políticos da oposição culparam a dependência servil das elites alemãs dos Estados Unidos e dos atores "motivados ideologicamente" no governo.
O governo alemão não só demonstrou a sua "absoluta incompetência", mas "mostrou que é absolutamente dependente dos Estados Unidos.[...] Eles mostraram seu estatuto de vassalo", disse o legislador da Alternativa para a Alemanha (AfD), Eugen Schmidt, à Sputnik na sexta-feira (9), comentando a obstinação de Berlim em investigar o ataque de 2022 ao gasoduto Nord Stream (Corrente do Norte) — que roubou à Alemanha mais de 100 bilhões de metros cúbicos por ano em capacidade para a importação de gás russo.
A Alemanha é governada por "verdadeiros agentes de influência norte-americanos aqui na Alemanha", acredita Schmidt. "Eles seguem a política dos EUA na Alemanha." Além disso, o legislador afirmou que "recrutaram pessoas com motivação ideológica que não têm ideia de como funciona a economia ou de como implementar corretamente as políticas do país, especialmente em termos econômicos, de como proteger os interesses do país para que a economia funcione de forma eficaz", com as autoridades se concentrando em prioridades como a agenda climática e a imigração, de acordo com o legislador.
A consequência é uma economia "rebentando pelas costuras, com empresas fechando e se mudando para o exterior", e a Alemanha sendo forçada a pagar "quantias absurdas de dinheiro pelo gás natural liquefeito [GNL] norte-americano, ao mesmo tempo que impomos sanções ao gás [russo]", disse Schmidt.
Para piorar a situação, apesar dos problemas econômicos, Berlim decidiu continuar injetando bilhões de euros na guerra por procuração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia na Ucrânia, incluindo mais de € 7,6 bilhões (cerca de R$ 40,5 bilhões) em assistência militar no orçamento de 2024, além de mais de € 17 bilhões (aproximadamente R$ 90,8 bilhões) entregues em 2022-2023, e os mais de € 40 bilhões (mais de R$ 213,6 bilhões) em apoio econômico direto ou baseado na União Europeia (UE).
O presidente russo, Vladimir Putin, alertou em maio de 2022 que o movimento "suicida" e motivado politicamente das potências europeias para travar a compra de energia russa teria um efeito bumerangue contra elas.
"A rejeição dos recursos energéticos russos significa que a Europa se tornará sistematicamente a região com os custos energéticos mais elevados do mundo [...]. Isto vai prejudicar seriamente — e de acordo com alguns especialistas de forma irreversível — a competitividade de uma parte significativa da indústria europeia, que já está perdendo a competição com empresas de outras regiões", disse Putin.
Para a Alemanha, estas palavras se revelaram proféticas.
No mês passado, Putin se referiu a um relatório do Banco Mundial que afirmava que a Rússia tinha oficialmente ultrapassado a Alemanha em termos de Produto Interno Bruto (PIB) em paridade de poder de compra (PPC) e se tornado a quinta maior economia do mundo.