No decurso da entrevista, Carlson também perguntou a Orbán o que ele faria se estivesse no comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A resposta quase que automática do líder húngaro foi "buscaria a paz imediatamente". Para ele, no entanto, apenas a volta de Trump à Casa Branca poderia colocar um fim ao conflito na Ucrânia.
"Essa é a única saída", afirmou Orbán. Isso porque, apesar das muitas críticas levantadas contra Trump em função de seu comportamento, ainda assim o republicano foi quem desempenhou uma das políticas externas menos beligerantes das últimas décadas em Washington. Trump, por exemplo, não iniciou nenhuma nova guerra durante sua administração e, mais do que isso, tratou de diminuir as tensões com dois adversários dos Estados Unidos, a Rússia de Putin e, em especial, a Coreia do Norte de Kim Jong-un.
Orbán, no entanto, não se deteve nesses eventos. O premiê húngaro também elogiou a política de Trump para o Oriente Médio, por meio dos Acordos de Abraão. Tais acordos envolveram reuniões de alto nível patrocinadas por Washington entre Israel e Estados árabes mais amigáveis aos Estados Unidos, como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos, visando diminuir a pressão política na região. Com isso, Israel contou com maior margem de manobra para lidar com a ameaça de grupos como o Hamas (em Gaza) e o Hezbollah (no sul do Líbano).
Todavia, nem tudo são flores quando falamos da política externa de Trump para o Oriente Médio. Orbán esqueceu-se de mencionar que a mando do republicano os Estados Unidos lançaram dezenas de mísseis de cruzeiro do tipo Tomahawk contra a Síria em 2017, em uma retaliação pela suposta utilização por parte de Bashar al-Assad de agentes químicos contra sua própria população, algo que o governo sírio repetidamente negou. Em 2020, com aprovação de Trump, um ataque de drone eliminou o principal comandante militar iraniano, Qassem Soleimani, causando enorme comoção em Teerã e servindo para acirrar ainda mais os ânimos da liderança do Irã contra os Estados Unidos.
Seja como for, apesar dos referidos episódios, na opinião de Orbán, se Trump fosse o presidente americano no começo de 2022, a Rússia provavelmente não teria iniciado sua operação militar especial na Ucrânia. A tese é que Putin encontraria em Trump um líder (e não um fantoche como Biden) com quem poderia conversar de igual para igual e acertar suas diferenças políticas, inclusive no tocante à neutralidade ucraniana perante a OTAN. Na opinião de Orbán, portanto, Trump é o homem que poderia salvar o mundo ocidental da catástrofe que estamos testemunhando hoje na Ucrânia.
Para além disso, a tentativa do Ocidente de remover Putin da presidência russa também é enxergada por Orbán como uma loucura política. Durante a entrevista, o premiê húngaro rememorou o período em que a Rússia fora comandada por Boris Yeltsin, considerado por muitos um líder fraco e sem pulso firme na condução dos assuntos domésticos e externos do país. Na época, havia medo na Hungria e na Europa, segundo Orbán, a respeito do que poderia acontecer com a Rússia caso o país se desintegrasse, cenário esse plausível em meados dos anos 1990. A principal questão envolvia o receio de um (des)controle do arsenal nuclear russo em uma condição de anarquia política, situação essa que colocaria não somente a Rússia como toda a Europa em risco. Putin, contudo, representou uma liderança forte para o país, consolidando a integridade territorial da Rússia, controlando seu arsenal nuclear e ampliando o comando do Exército.
Putin está no poder desde o começo dos anos 2000, e hoje a Europa parece ter esquecido o quão perigosa é a ausência de uma liderança forte em Moscou. Seja como for, remover Putin e colocar em seu lugar um fantoche do Ocidente parece ser justamente o objetivo atual do Departamento de Estado americano. Orbán criticou duramente essa posição, por representar um erro do ponto de vista não somente estratégico, como geopolítico. Afinal, os formuladores de políticas em Washington estão sentados a milhares de quilômetros de distância da Europa, enquanto países como a Hungria e tantos outros no continente europeu são os primeiros a lidar com as consequências do antagonismo estadunidense à Rússia. A Ucrânia, nesse ínterim, se tornou um caso clássico nesse sentido. Como vizinha da Hungria, tudo o que ocorre na Ucrânia acaba afetando a população húngara de um modo ou de outro, lembrou Orbán.
Quanto ao atual conflito na Ucrânia, por sua vez, Orbán menciona que, dado o desequilíbrio numérico entre os exércitos russo e ucraniano, o desgaste de Kiev tem sido notório nos últimos tempos, com centenas de milhares de soldados mortos desde o início das hostilidades em fevereiro de 2022. Entre esses mortos, há inclusive muitos de nacionalidade húngara. Conforme relatado por Orbán, uma minoria de cerca de 150 mil húngaros reside no território da Ucrânia. Logo, muitos deles são recrutados para o Exército ucraniano para morrerem no front, em nome dos objetivos políticos dos Estados Unidos de tentar derrotar a Rússia no campo de batalha. Em resumo, são soldados húngaros que perdem suas vidas por uma causa que não lhes diz respeito, e que só tem feito diminuir o tamanho da nação húngara, lembra Orbán. Contudo, ainda assim, tem-se veiculado a absurda ideia do envio de tropas oficiais de países da OTAN ao conflito, vide sugestão recente de Emmanuel Macron, presidente da França, algo que, no limite, colocaria o Ocidente em uma guerra — dessa vez direta — contra a Rússia. Será isso mesmo que os Estados Unidos querem? Para evitar tal cenário, adverte Viktor Orbán, o único caminho é a eleição de Trump para a presidência.
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