Panorama internacional

'Nada na geopolítica é de graça ou sem efeito', diz analista argentino sobre parceria Argentina-OTAN

Na quinta-feira (18), o ministro da Defesa argentino, Luis Petri, anunciou a entrega de uma carta de intenções à OTAN para Buenos Aires e tornar seu parceiro global. O anúncio ocorreu apenas 48 horas após o país adquirir 24 caças F-16 norte-americanos.
Sputnik
Se a carta de intenção for aceita, a Argentina se tornará o segundo parceiro regional da aliança depois da Colômbia. Após as recentes adições da Suécia e da Finlândia à OTAN, o bloco contém agora 32 países-membros, tornando-se a maior aliança militar do mundo.
Para o sociólogo, analista internacional e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina, Sebastián Schulz, os movimentos do governo Milei "terão consequências profundas. Nada é de graça na geopolítica".
"A medida [carta à OTAN] promoveu rupturas com a neutralidade histórica que o país teve, quando o mais coerente provavelmente teria sido ficar fora de disputas e promover o diálogo. A Argentina se envolveria em um contexto de conflito global como o entre Irã e Israel. Passaria a fazer parte do grupo de países que promovem a guerra e não a paz", afirmou o analista em entrevista à Sputnik.
As dúvidas manifestas por Schulz também são partilhadas pelo especialista internacional Juan Venturino.
Panorama internacional
Argentina apresentou carta de intenções para ser 'parceiro global da OTAN', diz ministro da Defesa
Segundo Venturino, o anúncio do ministro da Defesa "é precipitado, pois não está muito claro o que a Argentina ganha ou de que ameaça externa o país estaria se protegendo. Uma posição tão drástica contra a tradição nacional no nível diplomático é surpreendente".
"Uma aliança traria consigo um guarda-chuva defensivo, mas também obrigações, como a transferência de recursos materiais e humanos para a aliança. O discurso é muito bombástico, mas, visto em detalhes, representa um forte condicionamento da política externa do país", observou o especialista em entrevista à Sputnik.
O anúncio argentino da OTAN surge imediatamente após o ministro da Economia, Luis Caputo, ter se reunido novamente com o vice-diretor do FMI para fechar um novo programa de financiamento.
Nesse sentido, Schulz afirmou que "o governo Milei procura sustentar o apoio dos principais bancos globais, e por isso, envia um aceno que vem depois do acordo com a Casa Branca para o estabelecimento de uma base militar".
Panorama internacional
Milei 'dá soberania' aos EUA com base militar em Ushuaia, alerta deputado chileno
Embora o aceno à Casa Branca represente uma aproximação ao FMI em um contexto marcado pela necessidade de moeda estrangeira, a decisão em si traz consigo um outro lado específico: distanciar Buenos Aires de potências econômicas de crescente relevância, como China, Índia ou a Rússia.
Pequim é o segundo parceiro comercial da Argentina, superando apenas o Brasil. Ambos fazem parte do BRICS, bloco do qual Milei optou por renunciar assim que chegou ao poder. Schulz colocou em palavras a armadilha que o governo enfrenta.

"Os principais parceiros da Argentina estão reunidos no BRICS, mas são justamente aqueles contra quem Milei decidiu se opor e desqualificar seus presidentes. de mais um momento para promover investimentos benéficos para a Argentina [...]. O governo optou por esfriar a relação com a China e até maltratar diplomaticamente o país com piscadelas para Taiwan, por exemplo. Definitivamente, isso, somado ao desejo de aderir à OTAN, vai prejudicar os investimentos chineses", afirmou Schulz.

Questionado sobre o assunto, Venturino considerou que o custo da definição terá efeitos na economia real.
"Se houver consequências comerciais, como um distanciamento desses parceiros, isso terá naturalmente um impacto direto […] A maior questão é por que razão se aproximar dos Estados Unidos em detrimento do afastamento da China em um contexto crescente de multilateralismo”, complementou o pesquisador.
Panorama internacional
Mídia: após pressão do Exército dos EUA, Milei fez auditoria em base espacial chinesa na Argentina
Desde o começo da administração de Javier Milei, incluindo o período de campanha, o presidente tem demonstrado sua inclinação às políticas e ações norte-americanas.
O auge do alinhamento entre os dois países no quesito defesa aconteceu no último dia 5, quando o presidente viajou até Ushuaia, no extremo sul do país, para se encontrar com a general Laura Jane Richardson, do Comando Sul dos EUA, onde juntos anunciaram a abertura de uma "base naval conjunta" na Patagônia, conforme noticiado.
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a cnteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Comentar