Se a carta de intenção for aceita, a Argentina se tornará o segundo parceiro regional da aliança depois da Colômbia. Após as recentes adições da Suécia e da Finlândia à OTAN, o bloco contém agora 32 países-membros, tornando-se a maior aliança militar do mundo.
Para o sociólogo, analista internacional e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina, Sebastián Schulz, os movimentos do governo Milei "terão consequências profundas. Nada é de graça na geopolítica".
"A medida [carta à OTAN] promoveu rupturas com a neutralidade histórica que o país teve, quando o mais coerente provavelmente teria sido ficar fora de disputas e promover o diálogo. A Argentina se envolveria em um contexto de conflito global como o entre Irã e Israel. Passaria a fazer parte do grupo de países que promovem a guerra e não a paz", afirmou o analista em entrevista à Sputnik.
As dúvidas manifestas por Schulz também são partilhadas pelo especialista internacional Juan Venturino.
Segundo Venturino, o anúncio do ministro da Defesa "é precipitado, pois não está muito claro o que a Argentina ganha ou de que ameaça externa o país estaria se protegendo. Uma posição tão drástica contra a tradição nacional no nível diplomático é surpreendente".
"Uma aliança traria consigo um guarda-chuva defensivo, mas também obrigações, como a transferência de recursos materiais e humanos para a aliança. O discurso é muito bombástico, mas, visto em detalhes, representa um forte condicionamento da política externa do país", observou o especialista em entrevista à Sputnik.
O anúncio argentino da OTAN surge imediatamente após o ministro da Economia, Luis Caputo, ter se reunido novamente com o vice-diretor do FMI para fechar um novo programa de financiamento.
Nesse sentido, Schulz afirmou que "o governo Milei procura sustentar o apoio dos principais bancos globais, e por isso, envia um aceno que vem depois do acordo com a Casa Branca para o estabelecimento de uma base militar".
Embora o aceno à Casa Branca represente uma aproximação ao FMI em um contexto marcado pela necessidade de moeda estrangeira, a decisão em si traz consigo um outro lado específico: distanciar Buenos Aires de potências econômicas de crescente relevância, como China, Índia ou a Rússia.
Pequim é o segundo parceiro comercial da Argentina, superando apenas o Brasil. Ambos fazem parte do BRICS, bloco do qual Milei optou por renunciar assim que chegou ao poder. Schulz colocou em palavras a armadilha que o governo enfrenta.
"Os principais parceiros da Argentina estão reunidos no BRICS, mas são justamente aqueles contra quem Milei decidiu se opor e desqualificar seus presidentes. de mais um momento para promover investimentos benéficos para a Argentina [...]. O governo optou por esfriar a relação com a China e até maltratar diplomaticamente o país com piscadelas para Taiwan, por exemplo. Definitivamente, isso, somado ao desejo de aderir à OTAN, vai prejudicar os investimentos chineses", afirmou Schulz.
Questionado sobre o assunto, Venturino considerou que o custo da definição terá efeitos na economia real.
"Se houver consequências comerciais, como um distanciamento desses parceiros, isso terá naturalmente um impacto direto […] A maior questão é por que razão se aproximar dos Estados Unidos em detrimento do afastamento da China em um contexto crescente de multilateralismo”, complementou o pesquisador.
Desde o começo da administração de Javier Milei, incluindo o período de campanha, o presidente tem demonstrado sua inclinação às políticas e ações norte-americanas.
O auge do alinhamento entre os dois países no quesito defesa aconteceu no último dia 5, quando o presidente viajou até Ushuaia, no extremo sul do país, para se encontrar com a general Laura Jane Richardson, do Comando Sul dos EUA, onde juntos anunciaram a abertura de uma "base naval conjunta" na Patagônia, conforme noticiado.