Operação militar especial russa

'Rússia não está blefando': exercícios com armas nucleares são aviso para OTAN ficar fora da Ucrânia

As Forças Armadas da Rússia responderam às declarações belicosas de autoridades em Washington, Paris e Londres sobre o envio de tropas para a Ucrânia e anunciaram exercícios com armas nucleares táticas. A Sputnik perguntou a Earl Rasmussen, veterano do Exército dos EUA e especialista em assuntos militares, o que tudo isso significa.
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O Ministério das Relações Exteriores da Rússia caracterizou os próximos exercícios de mísseis nucleares táticos como uma tentativa de Moscou de "esfriar as 'cabeças quentes' nas capitais ocidentais", que ameaçam enviar tropas terrestres para a Ucrânia e tomar medidas agressivas que ameaçam transformar a guerra por procuração em um conflito total entre o país e Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Os exercícios "devem ser considerados no contexto de recentes declarações belicosas de autoridades ocidentais e ações fortemente desestabilizadoras tomadas por vários países da OTAN para pressionar a Rússia com força e criar ameaças adicionais à segurança do país em relação ao conflito na Ucrânia e arredores", enfatizou nesta segunda-feira (6) o ministério.
Entre as ameaças de "assistência direta" a Kiev, estão a transferência de armas cada vez mais avançadas para o regime de Vladimir Zelensky, além da decisão dos Estados Unidos de romper acordos de controle de armamentos com a Rússia em uma tentativa de militarizar tanto a Europa quanto a Ásia, acrescentou Moscou. Diante disso, os exercícios devem "ajudar a OTAN a perceber as possíveis consequências catastróficas dos riscos estratégicos que geram e impedir que eles tanto auxiliem o regime de Kiev em suas ações terroristas quanto sejam arrastados para um confronto armado direto com a Rússia".
Moscou também alertou que tratará os caças F-16 que a OTAN planeja entregar aos ucranianos como potenciais transportadores de armas nucleares, em uma decisão da aliança que é considerada "uma provocação deliberada".
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Além disso, as recentes declarações da Polônia sobre apoiar a implantação de armas nucleares dos EUA em seu território, relatos de mercenários franceses lutando na Ucrânia e outras provocações levaram o Ministério das Relações Exteriores russo a considerar as iniciativas como esforços do bloco ocidental para uma escalada da crise ucraniana rumo a um confronto militar aberto entre OTAN e Rússia.
"O regime em Kiev e seus cúmplices ocidentais devem finalmente perceber que seus passos imprudentes estão trazendo a situação cada vez mais perto do acúmulo de uma 'massa crítica' explosiva", alertou Moscou.
O país também convocou o embaixador britânico na Rússia, Nigel Casey, para adverti-lo sobre as consequências das declarações do ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, durante visita a Kiev no início do mês. Na ocasião, Cameron admitiu o possível uso de armas britânicas para realizar ataques ao território russo, o que sinaliza a admissão de Londres de seu papel como parte direta na crise ucraniana.

"O embaixador foi informado de que a Rússia vê as palavras de Cameron como evidência de uma séria escalada e confirmação do crescente envolvimento de Londres em operações militares ao lado de Kiev. Casey foi advertido de que a resposta a ataques ucranianos usando armas britânicas no território russo poderia incluir quaisquer instalações e equipamentos militares britânicos no território da Ucrânia e além", informou o ministério.

Moscou também convocou o embaixador francês na Rússia, Pierre Levy, "em relação às declarações belicosas da liderança francesa" e ao crescente envolvimento da França na crise ucraniana.
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'Rússia os enfrentará diretamente'

"Isso é um sinal para os líderes ocidentais de que a Rússia estão falando sério. Eles não estão blefando", disse o tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA, Earl Rasmussen, à Sputnik, ao avaliar as declarações russas sobre planos para realizar exercícios com armas nucleares táticas no Distrito Militar do Sul, em meio a ameaças da OTAN na Ucrânia.
"Se os líderes ocidentais aumentarem a escalada com envolvimento direto, a Rússia os enfrentará diretamente e destruirá suas forças e, potencialmente, para proteger o Estado russo, isso pode resultar no uso de armas nucleares táticas. Isso não é bom, forçará uma escalada e, eventualmente, levará a uma guerra nuclear total [...]. Não acredito que a Rússia queira fazer isso. Acredito que eles estão tentando enviar um sinal para alertar os líderes ocidentais para que não aumentem ainda mais a escalada", acrescentou o especialista em assuntos internacionais e militares.
Para Rasmussen, as declarações hostis que vêm das capitais ocidentais sobre o envolvimento na Ucrânia caso o Exército de Kiev entre em colapso aumentam ainda mais os riscos de um confronto direto. "Esta é uma provocação muito perigosa, uma escalada muito perigosa. Eu advertiria os líderes ocidentais a não fazerem isso", disse.
"Ucrânia não é um aliado da OTAN", ressaltou Rasmussen, apontando que Kiev, na melhor das hipóteses, é uma "pseudo" aliado que recebe financiamento e treinamento de países da OTAN. Porém, o especialista acredita que não há nenhuma obrigação do bloco auxiliar o país de forma direta, muito menos sucumbir em um potencial conflito com a Rússia.
"Mas esta é uma escalada muito, muito perigosa do discurso retórico e ameaças do Ocidente. E a Rússia está agindo de acordo, basicamente enviando um sinal claro de que estarão preparados, treinados, e prontos, se necessário. Eles não querem, mas protegerão o Estado russo", Rasmussen resumiu.
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Rússia 'possui as armas mais avançadas'

O especialista em questões internacionais Ismail an-Najar disse que os exercícios das Forças Armadas da Rússia com armas nucleares são uma resposta imediata e decisiva da liderança russa a mais esse desafio colocado pela OTAN.
"Esses exercícios são uma resposta direta às declarações provocativas e ameaças por parte de políticos ocidentais e, em particular, à declaração de Macron sobre a possibilidade de envio de tropas francesas para a Ucrânia. É evidente que o Ocidente coletivo, liderado pelos EUA, está buscando um confronto direto com a Rússia, e é por isso que hoje se requer uma resposta imediata e decisiva da liderança russa a esse tipo de desafio", argumentou.
Para Ismail an-Najar, a iniciativa deve servir como uma mensagem para evitar uma escalada ainda maior do conflito na Ucrânia. "É um sinal para todos os inimigos da Rússia. Os países ocidentais precisam entender que Moscou possui as armas mais avançadas e que é melhor pensar duas vezes antes de tomar medidas hostis contra a Rússia. Os líderes desses países, nesta situação, devem mostrar sabedoria e racionalidade ao tomar decisões, pois Moscou sabe muito bem como combater eficazmente aqueles que a antagonizam e fará tudo o que for necessário para garantir a segurança nacional", pontuou.
Já o cientista político iraniano e especialista em questões relacionadas à Rússia e à União Econômica Euroasiática (EAEU), Mehdi Seif Tabrizi, comentou à Sputnik que o único propósito dos exercícios nucleares é proteger a integridade territorial e a soberania russa.
"Após o anúncio dos US$ 61 bilhões [R$ 309,6 bilhões] em ajuda pelos EUA e a disposição dos países ocidentais de fornecer à Ucrânia um novo lote de armas, incluindo mísseis de longo alcance, ficou claro que o Ocidente está se preparando para uma nova rodada de confronto com a Rússia dentro do âmbito do Distrito Militar do Norte", explicou.
O especialista lembrou ainda que o presidente russo Vladimir Putin e outras lideranças do país já repetiram por diversas vezes que não querem uma escalada do conflito com a OTAN e somente "ações agressivas" da aliança militar podem levar a essa situação.
"Além disso, tornou-se conhecido o envolvimento de legionários franceses em operações militares na Ucrânia, apesar do fato de que a França é uma potência nuclear, e qualquer intervenção de uma potência nuclear muda radicalmente a natureza do conflito. Nesta situação, é necessário alertar Macron e os líderes de outros países ocidentais contra novos passos e, como parte da estratégia de contenção, mostrar que a Rússia está pronta para qualquer expansão e escalada do conflito", finalizou.
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