Estreitar as relações entre pesquisadores, estudantes e professores do Brasil e da Rússia em um mundo cada vez mais multipolar. Para além da forte parceria entre os dois países nas áreas econômica e comercial, que compartilham a atuação no BRICS, docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançaram nesta sexta-feira (10) o programa de cátedra que busca ampliar ainda mais a conexão entre as partes nas áreas científica e cultural. A iniciativa leva o nome justamente de um dos expoentes da política externa russa, o ex-primeiro-ministro Yevgeny Primakov.
O professor de história contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira da Silva, que foi um dos organizadores do evento, explicou à Sputnik Brasil que o programa é um "mecanismo de cooperação e intercâmbio acadêmico entre Brasil e Rússia", sendo a cátedra mais um "elemento" aglutinador.
"A ideia agora é a implantação da cátedra via os acordos de Estado entre Brasil e Rússia, e que visa ter um calendário, uma agenda de eventos, idas e vindas de professores da Rússia para o Brasil e de estudantes [e vice-versa]", acrescenta.
Conforme o especialista, a ideia do projeto surgiu por conta do atual boicote que o país eurasiático sofre pelo mundo ocidental nas relações internacionais.
"Percebemos que havia uma dificuldade muito grande para ter informações, ter verdadeira familiaridade com a Rússia, principalmente depois do começo do conflito na Ucrânia, em que havia quase que um bloqueio e um boicote nesse sentido", pontuou. Entre as iniciativas do programa estão inclusive a oferta de mestrado e doutorado a alunos que possuem projetos ligados à Europa Oriental, ao Extremo Oriente, à Rússia e aos países eslavos.
Quem foi Yevgeny Primakov?
Especialista em política externa russa, o professor da UFRJ Alexander Zhebit enfatizou à Sputnik Brasil que o nome da cátedra está ligada a um dos grandes promotores do país no cenário internacional.
"Foi no período [de início] da Nova Rússia, a partir de 1991, quando se desintegrou a União Soviética e havia a necessidade de criar um fundamento para o desenvolvimento do novo país, que surgiu, que acabou o período de comunismo e entrou o período de desenvolvimento da própria grandeza, da própria história e do seu, digamos assim, caminho em direção à construção de um país forte, desenvolvido e independente", declarou.
Segundo o especialista, Primakov foi um acadêmico, jornalista, pensador e político importante, que teve grande atuação também na Academia de Ciências da União Soviética. "Ele foi um dos dirigentes da União Soviética em termos do Soviete Supremo, que foi um órgão da União Soviética. Depois do fim da União Soviética, ele foi chefe da inteligência externa. Foi convidado pelo presidente [Boris] Yeltsin para assumir o posto de chanceler e depois chegou ao posto de primeiro-ministro", afirmou.
Zhebit lembrou ainda que Primakov foi autor de várias doutrinas no ramo das relações internacionais, que inclusive se firmaram como política de Estado nos mandatos do presidente Vladimir Putin, quando o país buscou "se desvincular da hegemonia estrangeira".
"A Rússia não quis ser superpotência na política internacional. Foi um país que deveria ficar independente no contexto de outros países independentes. Isso foi a tentativa de romper um ciclo que foi anterior, o ciclo da Guerra Fria. Então a ideia de Primakov justamente foi essa. Mas baseado no realismo pragmático, na multivetoridade e também no início da construção daquilo que ele entendia que o mundo se tornaria, multipolar. Então ele, com a sua ideia de tripolaridade — foi a primeira proposta, Rússia, Índia e China —, ele é que entrou como um dos fundadores da multipolaridade", finaliza.