A ajuda humanitária tem se acumulado no lado egípcio da passagem fronteiriça de Rafah, entre o sul de Gaza e o Egito, desde que Israel assumiu o controle da passagem no dia 7 de maio. O Estado judeu sublinhou que o Egito deve permitir a reabertura da passagem, o que o Cairo classificou como uma "tentativa desesperada" de culpá-lo pelo bloqueio da ajuda.
O ex-analista de política de segurança do Pentágono, Michael Maloof, aponta à Sputnik que os egípcios "têm sido bastante tolerantes".
"Eles não querem que os israelenses empurrem os palestinos para a península do Sinai, que é agora a sua terra. Eles não estão preparados para isso. E agora os israelenses estão tentando fazer uma limpeza étnica. E isso está começando a despertar o interesse dos outros países sunitas da região, não só o Egito, mas também a Arábia Saudita e alguns outros, que dizem: 'Eles não podem continuar assim'", acredita o especialista.
O Egito anunciou no dia 12 de maio que pediria permissão para se juntar ao processo da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), acusando Israel de violar as suas obrigações ao abrigo da Convenção sobre Genocídio.
Em seu pedido, o Egito comentou o "agravamento da gravidade e do alcance dos ataques israelenses contra civis palestinos na Faixa de Gaza, e a continuação da perpetração de práticas sistemáticas contra o povo palestino, incluindo ataques diretos a civis e a destruição de infraestruturas em Gaza, e a pressão sobre os palestinos para fugirem".
"Acho que [o Egito tomou] uma decisão com alguma resignação. Eles pensaram que talvez pudessem trabalhar com os israelenses, mas acho que finalmente chegaram à conclusão de que os israelenses não estavam com disposição para ouvir", aponta o analista.
"Se isso se transformar em uma conflagração regional, o que parece ir nessa direção, e se os egípcios, que estão mesmo ao lado, começarem a lavar as mãos, isso não é um bom sinal", acrescenta, esperando plenamente "que os egípcios comecem a movimentar tropas e, porque a preocupação é que os israelenses possam avançar para o Sinai para tirar os palestinos de lá e isso simplesmente não é aceitável em nenhuma medida".
Sobre a decisão do presidente norte-americano Joe Biden de não fornecer armas a Israel após a sua ação ofensiva em Rafah, o especialista sublinha que o presidente norte-americano "caminha em uma linha tênue".
"Nunca se pode confiar neles. E parece ser isso que está acontecendo com a administração Biden. Ele quer mostrar o seu apoio a Israel, por um lado, mas também tem, internamente, gente lhe gritando no ouvido pela parte dos progressistas nas universidades."
Maloof também ressalta que Washington tem mantido um fluxo constante de armas para Israel no valor de bilhões de dólares, porém os principais fabricantes de armas norte-americanos também se beneficiaram da guerra em Gaza, incluindo a Lockheed Martin, a RTX, a Boeing e a General Dynamics, que alegadamente viram os preços das suas ações dispararem como resultado da destruição e dos crimes de guerra em Gaza, indica um artigo recente.
"Não há fim à vista. E aí vem a administração Biden, que nada fez para melhorar a situação dos norte-americanos como um todo, mas nos ofereceu duas guerras nas quais agora participamos com alegria. Abrimos as nossas fronteiras, voltamos a depender da energia dos países do Oriente Médio que, ironicamente, mal podem esperar para se livrarem dos dólares americanos. O que estamos vendo é inflação. Onde está o benefício que esta administração oferece?", questionou.