"Apelamos a Paris que se abstenha do uso injustificado da violência contra os manifestantes e que respeite os direitos e liberdades da população indígena da Nova Caledônia e de outros territórios ultramarinos sob o seu controle", disse Zakharova.
Esta crise, diz a diplomata, é "o resultado da incompletude do processo de descolonização".
Localizado no sul do oceano Pacífico, o arquipélago tem passado por tumultos desde 13 de maio. Ao todo, seis pessoas morreram em decorrência da violência. Em 15 de maio foi declarado um estado de emergência com previsão de duração de 12 dias e militares franceses foram despachados para a região.
Na origem das revoltas está uma mudança nos direitos eleitorais dos cidadãos das ilhas. Apoiada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, a alteração estende o direito de voto às pessoas que vivem na Nova Caledônia há pelo menos dez anos.
Macron não quer ficar famoso por perder mais um território
Segundo o ativista e especialista na região Ásia-Pacífico, KJ Noh, "os franceses não querem desistir do seu império".
Eles querem manter as suas colônias, e [o presidente da França] Emmanuel Macron não quer ser aquele que perdeu outro território".
Nas palavras do analista, com esta iniciativa as autoridades de Paris não só querem permitir que "os novos colonos franceses" votem, mas também pretendem continuar a controlar a imigração e decidir "quem pode entrar na Nova Caledônia e, essencialmente, criar um desequilíbrio eleitoral".
"Esse é, essencialmente, um plano para impedir a independência", disse.
Noh lembrou que a Nova Caledônia "era originalmente uma colônia de escravos britânica e depois se tornou uma colônia de escravos francesa" enquanto sua população — os indígenas Kanaks — "era escravizada e mantida em reservas".
O território tenta então tornar-se independente desde finais do século XX, mas a França vem adiando o prometido referendo de independência, acrescentou.
"No final, os franceses decidiram que chegariam a um acordo com o povo Kanak para lhes conceder a independência e, em 1988, assinaram o chamado Acordo Matignon, segundo o qual dentro de dez anos realizariam um referendo para alcançar a independência. Em 1998, os franceses, em vez de realizarem o referendo, responderam: 'Ah, eles têm que esperar mais 20 anos'", explicou Noh.
Na sua opinião, esta revolta dos Kanaks é "mais um sinal da ascensão do mundo multipolar em que os países colonizados destroem o colonizador" e, portanto, deve ser entendida no "contexto global mais amplo".
"Eles não querem mais ser vassalos coloniais ou neocoloniais da França, não importa como os franceses o caracterizem. Eles querem se livrar dessas algemas coloniais", resumiu.