Putin nega preferência em eleição nos EUA e não descarta presença no G20 em conversa com jornalistas
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou com jornalistas de várias agências internacionais de notícias nesta quarta-feira (5), no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. Ele abordou temas como a eleição nos EUA, sua possível participação na cúpula do G20, o conflito na Ucrânia, a parceria com a China e as relações com o Ocidente.
SputnikEm três horas de coletiva, o líder russo falou sobre os mais diversos assuntos da agenda internacional, em áreas como segurança, economia, cooperação, paz e estabilidade. Além da entrevista de hoje, o cronograma do fórum prevê um discurso na próxima sexta-feira (7), dia em que também vai cumprimentar "autoridades internacionais", segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Eleição nos Estados Unidos
"Não nos importamos e não temos candidato favorito nos EUA", disse Putin na parte inicial de sua coletiva, ao comentar a disputa eleitoral entre o atual chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump.
Ele ressaltou que a escolha independe das relações entre as nações, ao ser questionado por jornalistas sobre se teria alguma preferência para a presidência dos Estados Unidos. Contudo, aproveitou o momento para pontuar que o atual presidente norte-americano é "previsível" e faz parte da "velha guarda da política".
"Trabalharemos com qualquer presidente eleito pelos Estados Unidos, o resultado pouco importa para a nossa nação", reforçou Putin. "A Rússia nunca interferiu e seguirá assim no que tange aos processos políticos domésticos com os Estados Unidos", garantiu.
Conflito na Ucrânia
Durante a entrevista, Putin disse que
a Rússia lançou todos os esforços para encontrar uma solução pacífica para a Ucrânia e que o motivo do conflito não foi a Rússia, mas "
um golpe de Estado" em 2014, quando da derrubada do presidente legitimamente eleito Viktor Yanukovich.
"É possível [encontrar soluções para os problemas com os líderes da União Europeia] se eles se sentirem mais confiantes e tiverem mais coragem para proteger os interesses nacionais", disse Putin ao realçar que a Rússia não tem ambições imperialistas e não planeja atacar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Segundo Putin, os Estados Unidos estão cada vez mais forçando as autoridades ucranianas a reduzirem a idade mínima para mobilização. A Casa Branca, afirma o líder russo, quer que jovens de 18 anos possam ir para o front de batalha.
Mesmo assim, o aumento no número de novos recrutas não será capaz de suprir as necessidades ucranianas.
"A mobilização não resolve esse problema [falta de soldados ucranianos]. Segundo nossos dados, cerca de 30 mil por mês estão sendo mobilizados, e não há muitos voluntários", disse ele. "Se os EUA pararem de fornecer armas à Ucrânia, o conflito acaba em dois, três meses", cravou.
Perguntado sobre o envio de instrutores e oficiais europeus para treinar tropas ucranianas, Putin afirmou que eles não são visados enquanto alvos, mas que um número deles já morreu de maneira colateral em ataques russos. O Ocidente não está noticiando isso, atestou.
Alemanha pode passar 'gripe' para Europa
Perguntado sobre a
relação entre Alemanha e Rússia, Putin julgou que atualmente nenhuma das lideranças de Berlim possui interesse em proteger seus cidadãos, tampouco se preocupa em garantir o fornecimento de itens essenciais, a exemplo do
petróleo que passa por território russo.
"A Alemanha oferecendo ajuda à Ucrânia vai destruir a relação russo-germânica. […] Ninguém na liderança alemã atual se interessa em proteger os interesses de seus cidadãos, tampouco da nação."
Putin lamentou a decisão alemã de cortar os laços econômicos e energéticos com a Rússia, o que, segundo ele, está tirando a competitividade das empresas germânicas. E agora o país passa por uma crise econômica que pode se espalhar por toda a Europa.
"Se a Alemanha espirrar, toda a Europa pega uma gripe", disse.
Morte de jornalistas e perseguições do Ocidente
Ao comentar a cobertura da imprensa durante o conflito russo-ucraniano, o presidente Vladimir Putin destacou que ao menos 30 jornalistas russos foram mortos na Ucrânia e disse que a Rússia está pronta para organizar uma investigação sobre a morte de um jornalista francês no país.
Putin também lamentou a morte do jornalista norte-americano Gonzalo Lira em uma prisão em Kiev, sublinhando a falta de interesse dos EUA em investigar o ocorrido.
"Lá na prisão, nas masmorras do regime de Kiev, um jornalista americano foi torturado. Os Estados Unidos nem sequer levantam a questão de investigar o que aconteceu", denunciou Putin. "Um cidadão americano, jornalista, foi capturado na fronteira, arrastado para a prisão e morreu. Foi simplesmente torturado — no sentido literal da palavra."
Ele acrescentou que jornalistas russos estão tendo sua atuação obstruída e estão sendo intimidados em todo o Ocidente.
"Onde quer que nossos jornalistas tentem trabalhar, são impedidos em todo o lado. Estão sendo intimidados, as contas bancárias estão sendo fechadas", afirmou o presidente russo.
Mísseis de longo alcance ocidentais
Putin comentou também o uso de armas de longo alcance por parte das tropas ucranianas, providenciadas pelas potências ocidentais, como o Storm Shadow, britânico, e o ATACMS, norte-americano.
Segundo Putin, essas ações
deteriorarão ainda mais a situação do conflito, ao internacionalizar a situação, uma vez que o Exército ucraniano não possui tecnologia para manusear as novas armas — para que sejam utilizadas,
é necessário ter informações de satélite e dados de voo, que precisarão ser oferecidos pelas potências
fornecedoras do armamento, o que é "o caminho para problemas muito sérios".
"Se for um [míssil] ATACMS, então [o repasse das informações] será feito pelo Pentágono; se for um Storm Shadow, então será feito pelos britânicos", esclareceu o presidente russo. "A resposta ao fornecimento de armas de longo alcance para a Ucrânia pode ser assimétrica, vamos pensar sobre isso", disse ele, destacando que o país vai aperfeiçoar seus sistemas de defesa aérea.
Ao colocarem essas armas perto da fronteira russa, a Rússia também poderá colocar armas semelhantes em regiões do mundo que possam atacar esses países fornecedores, lembrou.
Sanções antirrussas
Segundo Putin, as sanções criadas para enfraquecer a economia russa certamente limitaram o crescimento do país, mas o povo russo conseguiu contornar essas barreiras.
"Isso não era esperado nem na Federação da Rússia nem no Ocidente", afirmou.
Azerbaijão
Questionado sobre as relações entre Moscou e o Azerbaijão, Vladimir Putin sinalizou que estão se desenvolvendo "com sucesso, confiança e muito pragmatismo, como deve ser".
Irã
Putin também comentou as relações de seu país com o Irã, onde ocorreu um acidente de helicóptero em que morreram o presidente, Ebrahim Raisi, e o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian.
"Foi sob Raisi que o Irã se uniu ao BRICS e à OTSC [Organização do Tratado de Segurança Coletiva]. […] estávamos indo na direção correta de um mundo multipolar […]. Quando atingíamos um acordo, podíamos ter certeza de que isso não seria esquecido."
O presidente russo disse esperar que as conquistas alcançadas com Raisi tenham continuidade sob o governo do novo presidente iraniano, uma vez que elas são do
interesse nacional do Irã. O líder do governo russo também afirmou que ficou surpreso ao ver as conquistas industriais e tecnológicas que o Irã alcançou,
mesmo estando há muito anos sob sanções.
China
Quando perguntado sobre a China, Putin destacou que a
economia chinesa é
cada vez mais tecnológica e não faz sentido tentar pará-la. O segredo do sucesso está em se integrar a ela, o oposto do que os países ocidentais estão fazendo, opinou ele.
"Os países ocidentais precisam se integrar nos processos econômicos relacionados à China para terem sucesso, em vez de interferir neles", declarou.
Dentre as áreas da cooperação crescente entre a Rússia e a China, ele destacou a aeronáutica e a inteligência artificial. A relação entre os dois países "não são baseadas em objetivos de curto prazo, mas em interesses fundamentais, com os chineses sendo os principais parceiros da Rússia", frisou.
Faixa de Gaza
"Certamente somos contra qualquer tipo de terrorismo, não importa em qual país ocorra. Mas a
situação em Gaza não é como uma guerra, é a destruição total da população civil", comentou Putin ao responder a pergunta de um jornalista sobre a posição da Rússia sobre o conflito entre Israel e o movimento palestino Hamas.
"Acreditamos que esse é o resultado da política dos EUA que monopolizou os assentamentos israelenses na região, sem respeitar o processo de diálogo e a busca da criação de dois Estados, logo tornando impossível a solução dos principais problemas na região", declarou, ao afirmar que a Rússia defende a criação do Estado palestino desde sempre, ainda na época da União Soviética.
"A posição da Rússia sobre a Palestina é estável e não está sujeita a conjunturas: o problema deve ser resolvido criando-se dois Estados."
O conflito na Faixa de Gaza teria sido resolvido se os Estados Unidos não tivessem vetado as propostas de cessar-fogo no Conselho de Segurança das Nações Unidas, acrescentou.
Cazaquistão
O futuro das relações com o Cazaquistão são "muito boas, não há outra maneira de descrever", disse Putin. É impossível listar todas as áreas em que os países colaboram, como energia e exploração espacial.
Relações com as Coreias
Quanto à relação com a Coreia do Sul, o presidente russo afirmou que aprecia o não envolvimento do país asiático no conflito ucraniano e que está pronto para cooperar com a nação.
"Esperamos, sinceramente, que o nível das nossas relações alcançado nas décadas anteriores ainda seja, pelo menos parcialmente, preservado, a fim de podermos restaurá-las no futuro."
Sobre a Coreia do Norte, Putin afirmou que seguirá desenvolvendo boas relações com a nação vizinha, quer outros países gostem ou não. Segundo ele, a Coreia do Norte demonstrou repetidamente o desejo de negociar, inclusive com os Estados Unidos:
"A República Popular Democrática da Coreia demonstrou repetidamente o desejo de negociar, inclusive com os Estados Unidos. Penso que essa vontade de negociar serviu de motivo para as reuniões do ex-presidente dos EUA sr. Trump com Kim Jong-un."
Participação no G20
Por fim, o presidente russo informou aos jornalistas presentes na coletiva que sua presença na cúpula do G20 dependerá da situação no país e também no mundo.
Ainda não sei, não descarto. Em primeiro lugar, devo me guiar pelas exigências de hoje. […] temos muitas questões em nosso país […]. […] compreendemos em que tipo de mundo vivemos. Vai depender da situação do país, da situação na direção ucraniana. Dependerá da situação no mundo como um todo."
O líder russo também observou que não seria muito bom vir e ouvir "algumas sujeiras sobre a Rússia" daqueles que a consideram um agressor.
A 19ª Cúpula de Líderes do G20 será realizada no Brasil. Está marcada para os dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
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