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Armadilha do sistema: por que diamantes da África não se transformam em riqueza para os africanos?

Um dos maiores paradoxos do continente africano: a abundância de recursos naturais, especificamente os diamantes, que em vez de promoverem o desenvolvimento, muitas vezes perpetuam a exploração e os conflitos gerados, em sua maioria, por povos colonizadores.
Sputnik
Em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, Orlando Murongo, especialista em relações internacionais com duas décadas de experiência, traz à luz as complexidades desse dilema que afeta o continente africano.
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A África é um dos maiores produtores de diamantes do mundo, mas a influência dos países africanos na definição dos preços globais é mínima. Dos 70 países participantes do Processo de Kimberley, que regulamenta o comércio de diamantes para evitar a venda de diamantes de conflito, apenas 13 são africanos, e esses têm pouca ou nenhuma capacidade de influenciar os valores.
De acordo com Murongo, o continente africano vive o "paradoxo da abundância". Apesar de ser rico em recursos naturais, muitos países enfrentam dificuldades em converter essa riqueza em benefícios concretos para suas populações.

"Governos têm dificuldade de transformar a potencialidade de recursos minerais em desenvolvimento. […] Além disso, enfrentam uma espécie de armadilha do sistema" explica.

O especialista destaca que a maior parte da exploração de diamantes é realizada por empresas multinacionais estrangeiras, o que resulta em uma pequena fração dos lucros retornando aos países produtores. Mesmo em países como a África do Sul, onde existem companhias nacionais envolvidas na exploração, há fortes vínculos com a Europa, diminuindo ainda mais o impacto econômico local.
"Nos raros casos em que empresas africanas controlam a exploração, a ligação com interesses europeus é intensa. Isso reduz a porcentagem que fica realmente nos países africanos" observa Murongo.

Legislação

Todos os países africanos produtores de diamantes possuem legislações específicas para regulamentar a exploração. Entretanto, Murongo destaca que essas leis muitas vezes são efetivas apenas a nível local, sem grande impacto nos mercados globais. O Processo de Kimberley, criado em 2003, é uma tentativa de controlar e certificar a origem dos diamantes, minimizando o financiamento de conflitos armados.
Murongo reconhece as críticas à iniciativa, como sua incapacidade de abordar questões de direitos laborais e humanos e a falta de controle sobre diamantes refinados. Mas ressalta:
"Ainda assim, o Processo de Kimberley é o único mecanismo que impõe alguma ordem na selva que era a exploração de diamantes."
Embora existam casos de impacto positivo, como em Botsuana e na Namíbia, onde a exploração de diamantes tem contribuído para melhorias em saúde e educação, o analista ressalta que esses exemplos são exceções.
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"A abundância de recursos, muitas vezes, fomenta conflitos armados" comenta, citando a República Democrática do Congo, onde minerais como coltan e cobalto continuam a financiar insurgências.
Outro aspecto abordado é o domínio do comércio de diamantes pela comunidade judaica, especialmente em centros como Antuérpia, na Bélgica, um país que não produz diamantes, mas é o centro mundial do comércio dessa pedra preciosa. Murongo explica que essa situação tem raízes históricas e culturais, relacionadas ao envolvimento milenar da comunidade judaica com o comércio e a banca.

Diamantes de laboratório

Com uma trajetória de 21 anos no setor de investimentos, Michel Abad, sócio-gestor do fundo Maverick Ventures Israel, faz uma análise sobre os diamantes de laboratório, abordando suas vantagens econômicas e ambientais, além de suas aplicações tecnológicas de ponta.
Ele explica que a principal motivação para a produção de diamantes em laboratório é a sustentabilidade.

"Para extrair um diamante da terra, você precisa transformar toneladas de solo, o que tem um grande impacto ambiental. […] Além disso, na África, a exploração muitas vezes ocorre sem a devida supervisão, envolvendo condições de trabalho precárias e, às vezes, financiando conflitos armados" destaca Abad.

Segundo ele, os diamantes de laboratório eliminam essas questões, sendo produzidos em ambientes controlados e utilizando energia solar, além de capturar carbono no processo.
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"Eles são até positivos para o meio ambiente", afirma. E, economicamente, são mais acessíveis. "Um quilate de diamante de laboratório custa cerca de 20% do preço de um diamante natural equivalente", assegura.
Em termos de qualidade, Michel assegura que os diamantes de laboratório são indistinguíveis dos naturais.
"Eles não são imitações; são diamantes reais. A única diferença é o local de produção", explica. Esses diamantes, criados com tecnologia avançada, podem ser programados para tamanhos, brilhos e cores específicas, garantindo pedras de alta qualidade a um custo menor.
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