Em sua fala, Putin mencionou os Acordos de Minsk e Istambul como exemplos para continuar o diálogo com o lado ucraniano. De acordo com Giovana Branco, doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP), o presidente "busca mostrar que a Rússia esteve aberta a negociações desde os primeiros momentos do conflito" e tenta viabilizar os termos "em um momento em que o país tem vantagem no campo de batalha".
O presidente russo também afirmou que o niilismo do Ocidente em relação às propostas de paz de Moscou não durará para sempre, ressaltando que o mesmo Ocidente derrubará Vladimir Zelensky no primeiro semestre do próximo ano, atribuindo a ele todas as decisões impopulares na crise da Ucrânia.
Segundo Branco, essas afirmações expõem a fragilidade de Zelensky, cujo mandato presidencial expirou e que não permitiu que novas eleições fossem realizadas, ficando "difícil sustentar os discursos de uma democracia contra uma autocracia".
A analista pontua também que o Ocidente não parece estar interessado em manter o atual conflito a longo prazo, o que pode significar uma queda de apoio, a depender do comportamento de Zelensky.
"Enquanto Zelensky se mantiver irredutível em relação aos objetivos ucranianos no conflito, é possível que exista uma queda de apoio entre o Ocidente", disse.
Putin aproveitou a coletiva para abordar também possíveis mudanças na doutrina nuclear russa, além de lembrar que as forças nucleares estratégicas da Federação da Rússia estão sempre de prontidão para o combate.
As declarações, para Branco, são uma resposta à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que decidiu colocar armas nucleares de prontidão.
"É possível que a Rússia passe a desenvolver ainda mais as suas armas nucleares táticas, de menor porte, visando à sua utilização de forma pontual em alguns conflitos. Entretanto pode ser apenas uma questão de discurso diplomático, visto que a Rússia precisa ser uma 'ameaça crível' para evitar novos avanços da Aliança Atlântica", finalizou a pesquisadora.