"Estamos diante de uma situação em que terão que responder diretamente, tanto a Ucrânia quanto os Estados Unidos", disse o acadêmico.
Além disso, o ataque ucraniano a Sevastopol demonstra que no regime de Zelensky há "sentimento de desespero", já que as forças ucranianas não têm conseguido avançar contra as tropas russas, assegura García.
Na manhã deste domingo (23), pelo menos quatro pessoas morreram (incluindo duas crianças) e 151 ficaram feridas em um ataque com mísseis das Forças Armadas da Ucrânia contra a cidade portuária de Sevastopol, na península da Crimeia. Entre os feridos, estão pelo menos 27 menores de idade hospitalizados, segundo as autoridades locais.
As Forças Armadas da Ucrânia tentaram atacar a região com cinco mísseis ATACMS com ogivas de fragmentação, fornecidos pelos Estados Unidos. A defesa antiaérea russa derrubou quatro deles, mas um explodiu sobre a cidade, de acordo com o Ministério da Defesa da Rússia.
Autoridades russas garantiram que os Estados Unidos são tão responsáveis quanto as autoridades ucranianas pelo ataque, pois todas as missões de voo dos mísseis táticos ATACMS são realizadas "por especialistas norte-americanos com base em dados de reconhecimento de satélites americanos".
Um ataque simbólico?
David García lembra que as Convenções de Genebra de 1949 e seus diferentes protocolos exigem que os beligerantes tomem todas as precauções necessárias para não atingir civis, "e aqui estamos vendo que os ataques deste domingo não foram contra militares, mas sim contra a população civil".
Segundo o analista geopolítico, outro elemento do ataque é que ocorreu em uma data importante para a Igreja Ortodoxa, o que implica um agravante.
"Eles aproveitaram um momento de descanso nacional, em alguns casos, por causa da festa ortodoxa, e isso tem um simbolismo também por ser contra Sevastopol, contra a Crimeia", explica o especialista.
"Além disso, devemos considerar que a cidade abriga a principal frota russa no mar Negro. Por isso, há vários elementos simbólicos, há coordenação nos atos perpetrados e é alarmante no sentido de serem ataques contra a população civil, que poderiam até ser levados ao Tribunal Penal Internacional", acrescenta García.
De acordo com o acadêmico, mesmo que a Ucrânia não tenha ratificado o tratado do Tribunal Penal Internacional, a Rússia poderia usar o direito internacional e levar Kiev a julgamento.
Segundo García, Moscou pelo menos teria que levar o assunto às Nações Unidas, pois a população civil, em qualquer caso, é protegida do ponto de vista do direito internacional humanitário.
Outro elemento destacado pelo analista é que o ataque ucraniano ocorreu apenas alguns dias após a realização de uma cúpula sobre a Ucrânia na Suíça. O especialista argumenta que esse encontro foi mais um "referendo pela guerra" do que uma tentativa de acordo de paz.
"A cúpula na Suíça foi uma ideia para fechar fileiras com a Ucrânia e rejeitar a proposta de paz do presidente Putin. Buscou-se reforçar a capacidade militar da Ucrânia e até se falou novamente sobre a possibilidade de a Ucrânia ingressar na OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e, posteriormente, na União Europeia", afirma.
Para García, o alinhamento do Ocidente com Kiev pode resultar em um recrudescimento do conflito, promovido pelos Estados Unidos e seus aliados por meio do fornecimento de armamento e assessoria militar à Ucrânia.